Jovens acusam agentes da CPTM de agressão motivada por preconceito

    Companhia afirma que abordagem aconteceu porque os dois seriam vendedores ambulantes; dupla nega e um deles conta que foi chamado de “favelado” depois de ser agredido

    Os ajudantes gerais Angelo Siddarta e Matheus Emygdio, ambos de 18 anos, estavam voltando do trabalho, quando afirmam terem sido hostilizados por seguranças da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) por volta das 19h10 da última segunda-feira (29), na estação de trem Julio Prestes, da linha 8-diamante.

    Eles estavam se preparando para embarcar no primeiro vagão do trem quando os guardas passaram pelos jovens. “Eles vieram nos encarando, mas nós continuamos e sentamos”, afirma Siddarta.

    Pouco tempo depois, quatro seguranças voltaram para o interior do trem. Um deles tentou “tomar” os pertences dos amigos acusando-os de serem vendedores ambulantes – prática proibida dentro da CPTM. Outros passageiros interferiram na conversa e começou um bate-boca generalizado entre os jovens, os passageiros e os funcionários da companhia. Na versão dos garotos, a primeira agressão partiu de um funcionário. “Um guarda da CPTM deu um soco no rosto do meu amigo [matheus]”, afirma Angelo.

    Ângelo e Matheus teriam sido confundidos com vendedores ambulantes | Foto: arquivo pessoal

    Após a confusão, os dois amigos postaram um vídeo nas redes sociais. Em um deles é possível ver um dos agentes da empresa de transportes público agredir Angelo, que revida desferindo um soco no homem que o atacou.

    Os dois acreditam que o preconceito tenha motivado a abordagem dos funcionários da CPTM. “Nosso estilo de roupa e localidade [onde moramos], deram confiança para que eles tivessem esse tipo de atitude”, disse Emygdio. “Do lado de fora [do vagão] um dos guardas me chamou de favelado”, conta Angelo. Ambos moram na periferia da região metropolitana de São Paulo: Siddarta em Itapevi e Matheus em Jandira.

    Apesar dos seguranças da CPTM alegarem que a abordagem tinha sido realizada porque a dupla estava vendendo produtos nas dependências da estação, nenhum deles sofreu algum tipo de penalidade. Em outro vídeo postado por eles no Facebook, é possível ver que a dupla segue viagem normalmente após a confusão.

    A CPTM foi questionada do porquê os seguranças não levaram os jovens para prestar esclarecimentos, já que, dentro das dependências do trem a venda de produtos ilegais é uma infração, a companhia respondeu que a “sanção é restrita à retirada do usuário do sistema e apreensão da mercadoria que está sendo comercializada”.

    Porém, não foi o que aconteceu. Para Angelo eles não sofreram punição porque os funcionários não teriam como “justificar a atitude”, já que nenhum dos dois eram ambulantes. “Eu trabalho como ajudante geral, já o Matheus é atendente junior”.

    Matheus e Angelo realizaram um boletim de ocorrência no Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano), localizada na Barra Funda, na terça-feira (30).

    Outras agressões

    Em 2017 foram registradas quatro queixas de agressão na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Um desses casos chegou a ser destaque em diversos veículos de notícias.

    Na noite do dia 07 de fevereiro do ano passado, o estudante de economia Danilo Evangelista foi abordado e agredido por seguranças da empresa porque estava sentado no chão da estação Barra Funda esperando a namorada. Evangelista chegou a acusar seus agressores de racismo. O incidente ocasionou o afastamento dos funcionários envolvidos.

    Outro lado

    Por meio de nota, a CPTM informou que “durante operação contra o comércio ilegal de ambulantes na Linha 8-Diamante, na última segunda-feira (29/1), dois jovens usuários agrediram verbalmente a equipe de segurança após serem questionados sobre serem vendedores”.

    Ainda, segundo o comunicado, a companhia afirma que “de acordo com apuração interna preliminar, não houve agressão física ou verbal por parte dos agentes de segurança”.

    A empresa também disse que caso seja comprovado abuso de poder e algum tipo de excesso durante a ação, serão tomadas as medidas administrativas cabíveis.

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