Sessão que julgaria o agressor Jhonnatan Barbosa — que acusou a vítima, Gabriel Nascimento, de estar roubando um carro que lhe pertencia — foi adiada pela segunda vez, por ausência de defesa e pedido de mudança de local do julgamento

A Justiça do Maranhão suspendeu o júri popular que julgará o empresário Jhonnatan Silva Barbosa, de 35 anos, acusado de tentativa de homicídio qualificado contra o jovem negro Gabriel da Silva Nascimento, de 26, em Açailândia (MA). A sessão estava prevista para esta terça-feira (3/6), mas foi adiada por decisão do juiz Nelson Luiz Dias Dourado Araújo.
Entre os motivos apontados estão a ausência de defesa técnica do réu e a tramitação de um pedido de desaforamento — ou seja, a transferência do julgamento para outro município. A solicitação foi comunicada à Justiça às vésperas da sessão.
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Esta é a segunda vez que o julgamento é postergado. O júri estava inicialmente marcado para o dia 3 de abril, mas foi adiado depois que Jhonnatan substituiu sua defesa a poucos dias do julgamento. O advogado anterior havia renunciado ao caso em novembro de 2023, após a Justiça decidir que o empresário iria a júri popular. A Defensoria Pública do Estado do Maranhão assumiu provisoriamente a defesa, até que, uma semana antes do julgamento, o réu nomeou um novo defensor e pediu mais tempo para garantir o direito à ampla defesa.
Desta vez, além do desaforamento ainda pendente de análise, Jhonnatan novamente está sem advogado. O prazo para a apresentação de uma nova defesa terminou nesta segunda-feira (2/6). Caso não haja manifestação, a Defensoria Pública reassumirá a representação do réu.
Jhonnatan Barbosa responde por tentativa de homicídio triplamente qualificado: por motivo torpe, com uso de asfixia e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima.
Jovem foi espancado e asfixiado
Gabriel da Silva Nascimento foi espancado e asfixiado na manhã de 18 de dezembro de 2021, na cidade de Açailândia, no interior do Maranhão. Ele havia descido à rua com ferramentas para verificar o sistema de refrigeração de seu carro, um Chevrolet Agile comprado dois meses antes, estacionado em frente ao prédio onde morava. Se preparava para uma viagem curta, na qual participaria de uma confraternização do banco em que trabalhava como recepcionista.
Enquanto fazia os ajustes no veículo, Gabriel foi abordado por Jhonnatan Barbosa e sua esposa, a dentista Ana Paula Costa Vidal, que chegaram em uma BMW e seguiram a pé em direção ao jovem. Ao ser questionado, Gabriel afirmou que o carro era seu e que fazia uma checagem antes da viagem. Ainda assim, o casal o acusou de tentativa de furto e ordenou que ele se afastasse do veículo.
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Mesmo sem reagir, Gabriel foi agredido com socos, chutes, tapas e pisões. De acordo com a denúncia do Ministério Público do Maranhão (MP-MA), Jhonnatan pisou três vezes no pescoço da vítima e aplicou um golpe conhecido como “mata-leão”, com o claro objetivo de matá-lo. Ana Paula também participou das agressões, pressionando o pescoço de Gabriel com as mãos e incitando o marido: “Não deixa ele escapar.”
As agressões só cessaram após a intervenção de um vizinho, que reconheceu Gabriel como morador do prédio e dono do carro. À Justiça, o casal alegou que apenas tentava conter Gabriel até a chegada da polícia, no entanto, uma câmera de segurança registrou toda a cena de violência
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O boletim de ocorrência foi registrado apenas no dia seguinte, por iniciativa da própria vítima. Segundo a Polícia Civil, no dia da tentativa de homicídio uma falha no sistema da delegacia impediu o registro imediato do caso.