Justiça manda soltar jovens negros presos em SP por roubo de carga cometido quando estavam dormindo

    Juíza destacou primariedade de Augusto, Diego e Rafael para revogar prisão. “Meu filho vai nascer de novo”, diz mãe de Diego, emocionada

    Após 63 dias presos sem provas, os amigos Augusto Ferreira de Souza, 18 anos, Diego Gomes da Silva, 21 anos, e Rafael Erlan Ferreira de Moura da Silva, 18 anos, serão soltos. Foi o que determinou a juíza Lilian Lage Humes, da 7ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, em decisão assinada na noite de domingo (14/3).

    As famílias foram avisadas pela manhã pelos advogados Alex Oliveira Santos e Wagner Macedo e foram imediatamente para porta do Centro de Detenção Provisória de Osasco, onde Augusto e Diego estão presos, e para o Centro de Detenção Provisória de Mauá, onde Rafael cumpre pena. Ambos os presídios estão localizados na Grande SP. Jovens foram soltos no começo da tarde desta segunda-feira (15/3).

    Augusto, Diego e Rafael foram presos em 11 de janeiro acusados de participar de um roubo de carga realizado às 11h da manhã na rua Margaridas Amarelas, no Jardim Ângela, periferia da zona sul da cidade de São Paulo, perto da casa de Diego.

    Na madrugada daquele dia, Diego e Rafael haviam trabalhado até tarde na pizzaria onde fazem entregas e, por esse motivo, Rafael havia dormido na casa de Diego. Augusto, amigo dos dois, também dormiu lá naquela noite.

    Desde o dia da prisão, as famílias dos três jovens lutam para provar a inocência deles, alegando que, na hora do crime, eles estavam em casa e dormindo. Os jovens foram presos dentro de casa, mas a Polícia Militar narrou outra versão na delegacia: os três amigos e outro jovem, de 22 anos, teriam entrado no quintal da residência para se esconder.

    Leia também: Jovens negros foram presos por um roubo de carga cometido quando estavam dormindo, afirmam famílias

    Na decisão, a juíza argumentou o vídeo anexado pela defesa, que traz a confissão de um dos verdadeiros assaltantes, não poderia ser considerado prova cabal de inocência de Augusto, Diego e Rafael por ter sido um vídeo feito por pessoas próximas, mas a magistrada reconheceu o fato de a vítima não ter sido encontrada para reconhecer os amigos em juízo e os três serem réus primários como motivos suficientes para revogar a prisão preventiva.

    À Ponte, a auxiliar de serviços gerais Edilaine Ferreira de Moura, 35 anos, mãe de Rafael, comemorou a decisão. “Eu estava dormindo quando recebi a notícia. A expectativa e a emoção está a milhão desde cedo. Nossos filhos são nossas vidas, a saudade estava me matando. Agora é contar os segundos para abraçar ele”.

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    Sheila Aparecida Gomes de Resende, 37 anos, mãe de Diego Gomes, também ficou feliz com a notícia. “A Edilaine que me contou que eles iam sair. Foi uma gritaria, um choro e eu vim direto para cá [porta do CDP]. Meu filho vai nascer de novo”.

    O advogado Alex Oliveira Santos, que cuida da defesa de Augusto e Diego, conta que os três jovens responderão o processo em liberdade. “A justiça está tentando localizar a vítima para marcar a audiência. A tese de defesa é a negativa de autoria, porque os réus não cometeram esse delito. No dia da audiência vamos levar 16 testemunhas, oito do Diego e oito do Augusto para demonstrar a inocência deles”.

    Reportagem atualizada às 20h34 do dia 16/3/21 para inclusão do vídeo com a saída do Rafael e o posicionamento do advogado de Augusto e Diego

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