Libertado motorista acusado no Facebook de matar delegado

    Antonio Rodrigues Oliveira, 31 anos, teve imagem divulgada em página de incitação à violência policial. Ele e familiares sempre disseram que faziam churrasco na hora da morte de policial

    Depois de 28 dias preso e de ter sua fotografia veiculada na rede social Facebook como autor da morte de um delegado, o motorista Antonio Rodrigues Oliveira, 31 anos, foi solto na noite desta quinta-feira (16/10). Na imagem, publicada numa  página de incitação à violência, Oliveira está dentro de uma cela. Ele acredita que a foto foi feita por policiais no dia em que foi detido.

    Poucas horas após ser libertado, o motorista disse ter medo de sofrer represálias por ter tido sua imagem vinculada ao crime contra o delegado.

    — Na prisão, eu só ficava chorando. Orei o tempo todo pelo delegado que foi morto e pela família dele. Soube que ele investigava mortes quando era vivo e pedia para ele me ajudar. Pensei em fazer loucura dentro da cadeia por estar preso sem dever nada. Tenho medo de que possam fazer algo comigo agora, mesmo sendo inocente.

    Após 28 dias preso, Antonio Oliveira, 31 anos, foi libertado. Foto do motorista foi divulgada no Facebook como acusado de matar delegado
    Foto do motorista foi divulgada no Facebook como acusado de matar delegado

    Oliveira foi preso pelo Deic  (Departamento Estadual de Investigações Criminais), da Polícia Civil de SP, em 19/09.  Quando pediram a decretação de sua prisão temporária à Justiça, os policiais que suspeitaram do motorista declararam que ele havia sido reconhecido por uma testemunha como envolvido na morte do delegado Francisco de Assis Camargo Magano, também da Polícia Civil paulista.

    Desde o dia da prisão de Oliveira, seus familiares lutam para provar que ele não tem qualquer envolvimento na morte do delegado Magano, ocorrida às 21h20 de 13/09, um sábado em que o policial se divertia com sua namorada no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Segundo os policiais do Deic, foi a namorada do delegado quem reconheceu Oliveira como participante no assassinato.

    No momento da morte do delegado Magano, ocorrida a cerca 10,5 km da casa do motorista, Oliveira fazia um churrasco com familiares. Uma gravação enviada para a sogra de Oliveira, por meio do aplicativo WhatsApp, foi uma das evidências usada pela família dele para tentar provar sua inocência. No áudio, o filho de Oliveira chama a avó para participar da churrascada e a voz do motorista é ouvida.

    Casado, pai de um menino de 3 anos e morador de na zona leste de São Paulo, há cinco anos, Oliveira já cumpriu pena de 1 ano e 8 meses por tráfico de drogas.

    Dois dias após prisão de Oliveira, uma página na rede social Facebook que prega a violência por parte de policiais no Estado de São Paulo divulgou fotos do suspeito, mesmo sem que a polícia tenha comprovado sua participação na morte do delegado Magano. “Essas fotos foram feitas dentro do Deic. Acredito que tenham sido policiais do próprio Deic que fizeram. Todos [policiais] que chegavam lá tiravam uma foto de mim”, disse Oliveira.


    Para lembrar:
    Em maio deste ano, depois de ser confundida com uma mulher que supostamente realizava rituais de magia negra, a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, foi linchada por moradores do Guarujá, no litoral paulista. A imagem que provocou o linchamento de Fabiane era um retrato falado, também foi divulgado no Facebook.

    Procurado pela reportagem à época da prisão de Oliveira, o Deic informou: “O Deic não divulgou essa prisão [de Oliveira] porque apura a participação desse suspeito. Não divulgamos o nome, nem fizemos coletiva. A Justiça decretou prisão temporária porque uma importante testemunha o reconheceu como participante do crime.”

     O crime

    Filho de um desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de SP e irmão de um juiz, Magano, 49 anos, era do DHPP (Departamento de Homicídios de Proteção à Pessoa), onde sempre foi considerado por amigos como um delegado eficiente. Ele foi morto a tiros na noite do dia 13 deste mês, um sábado, quando estava com a namorada dentro de um carro no bairro do Tatuapé, também na zona leste de São Paulo. O delegado ainda chegou a ser socorrido, mas morreu no Pronto Socorro do Hospital Tatuapé.

    A namorada do delegado disse à polícia que 2 homens, em uma moto, atacaram Magano. Um deles desceu e deu o primeiro tiro quando o delegado estava em pé, ao lado do veículo. Ele caiu e foi atingido por mais 3 tiros. Os criminosos fugiram levando o carro e as armas do delegado. O veículo foi abandonado a 5 km do local do crime. Dentro dele, a perícia encontrou uma arma. Foram recolhidas impressões digitais e a polícia também vai pedir imagens de câmeras de segurança da rua.

    Para os investigadores do DHPP que atuam no caso, a hipótese mais forte para a morte do delegado é de latrocínio (roubo seguido de morte).

    Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, no início da tarde desta sexta-feira (17), para se manifestar sobre a prisão do motorista Oliveira e também sobre a divulgação da foto dele no Facebook, o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, informou:

    “A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Segurança Pública informa que Polícia Civil encaminhará o caso à Corregedoria para apuração da autoria da imagem e sua divulgação. A Polícia Civil, como instituição permanente do Estado Democrático de Direito, não compactua com tal atitude.”

    A seguir, as perguntas enviadas ao chefe das polícias da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) e que estão sem respostas:

    1 — Por qual motivo a fotografia de Antonio Rodrigues de Oliveira foi divulgada na rede social Facebook? A imagem foi feita dentro de uma cela. A prisão dele foi realizada pelo Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

    2 — Quem vazou a imagem de Antonio Rodrigues de Oliveira para a página “[a reportagem omite o nome da página propositalmente]”, existente na rede social Facebook?

    3 — Antonio Rodrigues de Oliveira teve prisão temporária (30 dias) decretada pela Justiça, mas foi solto ontem (16.out.14). Para o senhor, é temerário ou não o fato de que a imagem de um investigado seja exposta na internet?

    4 — Qual é a orientação que o senhor faz sobre a divulgação ou não das imagens de investigados por crimes?

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