Lúcia queria emoção

    Condenada a cinco anos de prisão e com uma gravidez de risco, ela sabia que era questão de tempo até haver uma nova reviravolta em sua vida, o que não demorou muito a acontecer

    Ilustração: Maria Hallack

    Lúcia* é uma daquelas pessoas que conseguem enxergar um lado bom em qualquer situação. Um ano depois de ter ganhado sua liberdade condicional, sentada na sala de estar de sua patroa, enquanto pausa um seriado que assistia para passar o tempo, ela afirma não ter medo de falar que esteve presa. Conforme me contava sua história, insistia em dizer que o tempo que passou no cárcere foi um grande aprendizado. E as condições que a levaram para dentro da cadeia continuam fazendo parte dos momentos mais felizes de sua vida.

    A história da prisão de Lúcia passa pelo envolvimento com um traficante de drogas com quem foi casada por cinco anos. Na época em que conheceu João, ele se apresentou como corretor de imóveis. Ela, por sua vez, trabalhava como cuidadora de idosos, além de ser síndica do prédio onde morava e mãe de dois filhos de um casamento anterior. Os dois se conheceram em Santos, litoral de São Paulo, mas João passava a maior parte do tempo no Rio de Janeiro, algo que deixava Lúcia um tanto incomodada.

    Depois de um ano de relacionamento, quando já estava cansada de ver o namorado apenas cinco dias por mês, Lúcia o confrontou e descobriu a verdadeira ocupação de João. Ela afirma ter ficado sem chão, mas já estava apaixonada. “Eu não sei o que esses caras têm, eles são encantadores. A minha vida inteira foi cuidar dos outros, ninguém cuidava de mim. Quando conheci o João, ele começou a cuidar de mim”, ela conta. Foi assim, com uma urgência de cuidados, que ela passou a viver os cinco melhores anos da sua vida, segundo sua própria avaliação.

    Lúcia é uma mulher de sorriso tímido. Ainda assim, seu semblante não esconde a saudade que sente ao lembrar-se do dia a dia com João, o homem que a tratava “igual a uma rainha”, como ela gosta de falar. Com um tom de voz suave, ela conta que em pouco tempo eles estavam morando juntos no apartamento em que ela vivia com seus filhos e um irmão. Quando Lúcia tinha folgas no trabalho, acompanhava João em suas viagens de negócios e o ajudava como podia.

    Com o tempo, a cuidadora passou a gostar do status que tinha como “a mulher do bandido”. Gostava da adrenalina de transportar um carro com drogas e pedia para o marido deixá-la buscar nos fornecedores a mercadoria vendida por ele. Ela não queria dinheiro, afinal, tinha seu próprio emprego e não gostava de depender dos outros. Me conta que ajudava o marido por prazer e ele, por sua vez, não negava a ajuda.

    Depois de três anos de casamento, Lúcia pediu demissão do emprego onde estava havia sete anos. Foi então que se permitiu viver ao máximo uma situação na qual ela nunca havia se imaginado. Lúcia é uma mulher que sempre gostou de trabalhar e se sentia realizada cuidando de seus filhos, mas faltava algo em sua rotina, que sempre foi dedicada aos outros. Ela queria emoção. Logo que saiu do emprego, descobriu que estava grávida e, em pouco tempo, foi morar com João no Rio de Janeiro, onde ele cultivava a maior parte de seus clientes.

    A vida na “cidade maravilhosa” era tranquila. João cuidava de seus negócios e Lúcia o ajudava como podia, principalmente no transporte de drogas, além de cuidar do filho mais novo. Ela estava feliz: vivia com o homem que amava, esperava um bebê desejado e podia, finalmente, vivenciar o turbilhão de sentimentos do qual sempre sentiu falta. Enquanto isso, seguia pensando que não corria nenhum risco, afinal, sua participação no tráfico se limitava ao transporte de pequenas quantidades de drogas.

    Conhecendo muros

    Depois de um tempo morando no Rio, Lúcia voltou a Santos a pedido do filho mais velho, que estava com saudades. Era o Dia das Mães de 2012 e ela estava ansiosa para abraçar Matheus e rever sua família. Mas Lúcia também voltava a Santos com uma tarefa: pagar um fornecedor de drogas a pedido de João. O fornecedor em questão nunca apareceu. Nesse momento, ela já estava aflita, afinal, os negócios de seu marido dependiam da função que ele havia confiado a ela.

    Enquanto Lúcia ligava incessantemente para o fornecedor sumido, seu irmão surgiu com uma proposta que não a deixaria voltar para a casa de mãos vazias: comprar “a melhor maconha que ele já tinha fumado na vida dele”, como descreve Lúcia. João concordou na hora, pediu que um motoboy pegasse o dinheiro com a esposa e fosse até o local onde retiraria a droga.

    Como se a vida estivesse se preparando para puxar o tapete de Lúcia, o rapaz encarregado da busca também não apareceu. Então ela, acostumada a cuidar de todos a sua volta e sempre disposta a ajudar o marido, decidiu buscar a droga pessoalmente, acompanhada do irmão e de um amigo. Chegando lá, os três foram presos. A biqueira estava sendo vigiada. Enquanto conta essa história, como quem tenta encontrar justificativas para o que aconteceu, Lúcia desabafa lembrando da vida antes de conhecer João: “Eu fico pensando por que será que tudo de bom acontece pra mim quando eu estou trabalhando, quando consigo as coisas com o meu suor. Eu tinha casa, tinha carro, tinha um emprego bom, tinha uma vida ótima. Só não tinha tanta alegria, tanta emoção…”.

    Lúcia passou um mês no 2º Distrito Policial de Santos. Lá, convivia com outras treze mulheres dentro de uma cela pequena. Todas elas fumavam e Lúcia passou um mês imersa em uma preocupação constante com Tony, o bebê que esperava. Para que ela pudesse escapar desse cenário, João precisou comprar um laudo médico alegando que sua esposa passava por uma gravidez de risco. Assim, Lúcia conseguiu prisão domiciliar, mas o momento que deveria ser de alívio veio acompanhado de mais uma aflição: ao chegar em casa e realizar o pré-natal, descobriu que estava com toxoplasmose, infecção que pode ser altamente prejudicial para o feto. Sua gravidez era realmente de risco e, a partir de então, ela foi tomada de uma profunda inquietação.

    Ao contar essa parte da história, a moça tímida descruza os braços e, como quem anseia por expressar com precisão como se sente, começa a falar de maneira muito rápida. Quando descobriu a toxoplasmose, suas noites de sono tornaram-se raras. Condenada a cinco anos de prisão e com uma gravidez de risco, ela sabia que era apenas questão de tempo até haver uma nova reviravolta em sua vida. E não demorou muito: seis meses depois, quando o pequeno Tony tinha apenas doze dias de vida, sua prisão domiciliar foi revogada e ela voltou ao 2º Distrito Policial da cidade.

    Lúcia não abriu mão de seus direitos: sabia que poderia ficar com o filho pelo menos até ele completar seis meses e exigiu que pudesse ao menos amamentá-lo enquanto ela não fosse transferida para alguma penitenciária do estado. Durante dezessete dias, João levava o pequeno Tony ao distrito policial três vezes por dia para que ele pudesse ser alimentado.

    Depois desse período, ela e a criança foram transferidas para o Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário, localizado em São Paulo — local que ela guardou na memória com certo carinho, afinal, a cela na qual ela vivera por pouco mais de um mês trazia uma moldura cruel e violenta. “Lá nesse hospital penitenciário era muito bom, tinha tudo que meu filho precisava e eu também, tinha médicos, tinha tudo”, recorda.

    Lúcia ficou no hospital por pouco mais de quatro meses, até ser transferida para a Penitenciária Feminina II de Tremembé, a 207 km de distância de Santos. Diferente da maioria das prisões brasileiras, a unidade foi construída há pouco tempo, em 2011, e pensada especificamente para mulheres, por isso conta com diversos profissionais da área da saúde e também com uma ala materna, onde ela ficou com Tony.

    A vida no cárcere é sempre violenta e, naquele cenário, Lúcia via em seu bebê um grande companheiro. Em Tremembé, ela ficava com ele em uma cela individual composta por um berço, uma cama e um banheiro cujo chuveiro possuía água quente. O contato entre os dois era intenso e constante.

    Quando Tony completou seis meses de vida, entretanto, Lúcia teve que entregá-lo ao pai, conforme prevê a Lei de Execução Penal. Foram seis meses de contato ininterrupto e, de repente, nada. “Naquele dia eu quis morrer, porque ele era meu companheiro, era só eu e ele. Quando ele foi embora, foi aí que eu me senti presa de verdade. Foi o pior momento da minha vida”, desabafa, com a voz embargada.

    Depois disso, durante o tempo em que passou cumprindo sua pena, Lúcia só conseguiu dormir com a ajuda de remédios, numa angústia constante sobre o bem-estar de sua família. “Eu estava muito abalada porque eu ficava escutando meu bebê chorar. Eu pensava em me matar. Eu precisava trabalhar, ocupar minha cabeça, precisava dormir. Eu escutava meu filho chorar. Lá de dentro da cadeia, eu escutava ele chorar…”.

    A partir de então, com a ajuda do psicólogo da unidade e do emprego que conseguiu na enfermaria, ela conseguiu contornar, na medida do possível, a lacuna que a separação do filho havia deixado. Ela não queria que sua família fosse visitá-la, pois era muito longe de casa. Em vez disso, seus filhos mandavam cartas constantemente e isso dava a ela muita força para viver naquele lugar. Ainda assim, ela estava sozinha. Então passou a se acostumar com a rotina da vida entre muros: despertar antes do sol nascer, tomar banho gelado, trabalhar e voltar para a cela às 17h. As marcas da prisão se internalizaram em um corpo que havia se libertado havia pouco.

    Dentro da cadeia, Lúcia criou as alianças que pôde e a mais importante delas foi com uma diretora da instituição. “Tinha uma diretora do presídio que eu gostava. Eu não podia falar isso lá dentro, se não as meninas iriam me odiar. Mas eu não queria minha família lá e ela trazia as coisas pra eu comer. Ela percebia que eu não era do crime, que eu era trabalhadora e que o que aconteceu na minha vida foi um deslize”, recorda, orgulhosa de si mesma.  Ao mesmo tempo, ela lembra o quanto a falta de visitas afligia as mulheres com quem convivia. “Lá dentro muitas mulheres não recebem visitas. Quem tem visita é, tipo assim, como se fosse uma pessoa rica aqui na rua. Quem tem visita, tem tudo”.

    Enquanto volta no tempo, tentando recuperar detalhes de seu dia a dia na prisão, como a falta frequente de produtos de higiene, a vez em que quase foi para a solitária por usar um telefone celular e a presença intensa da facção PCC (Primeiro Comando da Capital) em Tremembé, Lúcia não vacila em dizer que a vivência institucional a endureceu: “Aprendi a conhecer as pessoas. Eu não tinha maldade nenhuma, eu acreditava piamente nas pessoas e depois eu me feria. Agora não fico me jogando de cabeça em nada, porque lá dentro você vê muita maldade também”.

    Depois de trabalhar um tempo na enfermaria e ganhar a confiança dos funcionários da prisão, ela conseguiu outra ocupação, dessa vez como assistente de dentista, que levava roupas de frio para ela e com quem passava muito tempo conversando.

    Às 17h, entretanto, quando as presas são obrigadas a voltar para suas celas e as grades se fecham, Lúcia era devorada por seus próprios pensamentos. Desde que havia sido presa, não recebia notícias do marido. Foram sete meses nos quais ela achou que João estivesse morto, até que, no dia 19 de novembro de 2013, ela finalmente conseguiu contato com ele.

    Depois de dias aflitos e noites sem dormir, ela descobriu que João deixou Tony com a avó e partiu para o Rio de Janeiro apenas 15 dias depois de buscá-lo na prisão. A viagem de João, entretanto, terminou em Bangu, complexo penitenciário do Rio, e por isso ele ficou tanto tempo sem entrar em contato com a esposa. “Esse dia foi maravilhoso porque eu descobri que ele estava vivo. Ele falou que ia pegar os documentos pra me ver, mas eu falei que não, porque ele tem antecedentes, então nos veríamos apenas pelo vidro. Então falei pra ele gastar esse dinheiro cuidando do nosso filho. Eu fiquei mais dois anos longe e ele cuidou do Tony direitinho”, conta, sem se dar conta da incongruência entre a pena sofrida por ela e pelo marido.

    A partir desse dia, Lúcia encontrou um novo refúgio para conseguir sobreviver aos dias no cárcere. A certeza de saber que João estava vivo e cuidando bem de seu filho a deixava em paz. Seus dias continuavam iguais, como acontece com os corpos institucionalizados: o despertar enquanto o céu ainda estava escuro, as conversas no trabalho e com as companheiras de cela e as grades no final do dia.

    Só mais um pouquinho

    Depois de dois anos em regime fechado, saiu a decisão que concedeu a Lúcia a progressão do regime, que no seu caso foi o cumprimento do restante da pena em regime semiaberto. Ela chegou ao Centro de Ressocialização Feminino de São José dos Campos, que possui um anexo para progressão de regime, no dia 21 de dezembro, e passou o Natal e o Ano Novo dentro de muros diferentes. “Foi horrível ver todo mundo saindo, se divertindo. Mas eu pensava ‘é mais um pouquinho só, Deus, é só mais um pouquinho… ’”, relembra.

    No feriado de Páscoa, Lúcia teve direito à sua primeira saidinha, momento no qual as pessoas presas que estão no regime semiaberto podem passar alguns dias fora da cadeia. Com o dinheiro que havia juntado durante seu trabalho em Tremembé e o trabalho na cozinha do novo presídio, foi a um salão de beleza, arrumou o cabelo e as unhas, e em seguida foi para a casa de João.

    Antes de prosseguir com a história, Lúcia engole seco. Com olhos de quem já viu muita coisa nessa vida e voz embargada, ela conta que não acreditou quando encontrou seu filho com quase três anos e sofreu muito quando a criança a estranhou. “Ele chorava, não me queria. E pra mim também não era fácil. Ele não era mais aquele bebê que eu tinha deixado. Parece que na cabeça da gente o tempo para, mas aqui fora a vida continua. Não é mais o que a gente deixou na hora que foi presa. Esse negócio dá uma confundida na cabeça da gente”, conta, em tom de desespero.

    Quatro dias depois, Tony chamou Lúcia de mamãe pela primeira vez. Com as mãos entrelaçadas e encolhendo os ombros, ela lembra que seu coração se encheu de alegria. Naquela noite, precisou se despedir de Tony e retornar à prisão, mas não voltou sozinha: carregava consigo a alegria de rever seu filho caçula e, ao mesmo tempo, a angústia de descobrir que João a havia traído. Na época, perdoou o marido, justificando que a distância era prejudicial para o relacionamento. “A distância esfria um pouco… Quer dizer, pra mim não. Eu parei no tempo. Parece que quando você sair vai estar tudo do mesmo jeito, mas não é. A vida aqui fora anda, lá dentro para”, desabafa.

    Sua segunda saidinha aconteceu pouco tempo depois, no Dia das Mães. Lúcia passou um tempo com a família e os filhos e, mais uma vez, a mãe voltou à prisão com o coração um pouquinho mais descansado e cada vez mais esperançoso sobre sua liberdade.

    Quinze dias depois de seu retorno a São José dos Campos, ela ganhou liberdade condicional. Lúcia voltou a Santos e passou a morar com João e Tony, mas o relacionamento do casal já não era mais o mesmo. Devido à recente traição de João, Lúcia se tornou uma pessoa desconfiada e as brigas eram constantes, até que um dia ela descobriu que o marido e a amante ainda se encontravam. Voltou pra casa, pegou seus pertences e de seu filho e foi para a casa da irmã. “Depois desse dia, eu nunca mais voltei. Eu sofri que nem uma cadela, mas eu não voltei”, ela conta, como quem se orgulha de si mesma. Lúcia havia finalmente recuperado o controle de sua vida.

    Pouco tempo depois da separação, João foi preso. E Lúcia conta sua história sabendo que se continuasse ao lado do ex-marido poderia ter sido presa junto com ele, porque faria qualquer coisa para ajudá-lo. “Eu sou intensa. Quando eu amo, eu amo demais. Eu sei que se eu ficasse com ele, eu ia fazer coisa errada de novo”.

    Divorciada de João, Lúcia tinha um peso a menos em suas costas, que já carregavam o estigma de ser egressa do sistema prisional. Ao lado de Tony, buscou abrigo na casa de familiares e começou a trabalhar como manicure no salão de beleza de sua tia.

    Apesar do emprego, Lúcia queria mesmo era voltar a fazer o que ela sabia e gostava: ser cuidadora. Depois de algum tempo trabalhando como manicure e conhecendo clientes que passavam por lá todos os dias, foi chamada para um mês de experiência como cuidadora de um homem idoso. Lúcia conta, animada, que durante esse tempo os patrões passaram a admirar seu trabalho e confiar nela, até que conseguiu registro em sua carteira de trabalho. Três dias depois, entretanto, ela foi dispensada sem muitas explicações. “Eu fiquei sem chão, porque eu tinha alugado um apartamento, minhas coisas já estavam todas lá. Eu saí de lá sem entender nada. Depois fiquei sabendo que foi porque descobriram que eu fui presa”.

    Depois desse dia, Lúcia decidiu que não esconderia de mais ninguém sua vivência na prisão. Decidiu que, apesar das marcas que os muros deixam nas pessoas, ela não teria vergonha do que enfrentou, afinal, ela estava livre e havia se tornado uma mulher muito maior do que jamais pensou. Foi assim que conseguiu seu atual emprego.

    Fênix

    Uma das clientes do salão precisava de alguém para cuidar de sua filha e de sua casa em Santos durante a semana. Ela conhecia Lúcia, sabia de sua história e não pensou duas vezes na hora de contratá-la. “E aqui eu estou. A bebê que eu cuido, Nina, tem oito anos, é perfeita, linda, eu a amo”, conta, com brilho nos olhos. “Aqui eu moro com o Tony e a Nina durante a semana. Acordo ela às 5h30, arrumo ela pra escola, a perua chega às 6h20. Aí eu volto e levo o Tony pro colégio. Aí ela chega às 16h40 e depois nós vamos buscar o Tony na escola juntas”.

    Enquanto as crianças estudam, Lúcia cuida da casa e curte sua própria companhia. Consegue juntar dinheiro, porque não precisa pagar aluguel, e às vezes tem até tempo de dar um pulo no salão de sua tia para fazer as unhas de algumas clientes, garantindo uma renda extra. Ela não mede palavras para dizer que é muito feliz nesse emprego. Confia em sua patroa e sabe que o sentimento é recíproco. Conseguiu algo muito melhor do que o mundo aberto costuma reservar para aqueles que saíram de trás das grades.

    Lúcia assinava mensalmente o documento que garantia sua liberdade condicional, que durou até janeiro deste ano. Durante esse tempo, ela precisa “andar na linha e não se meter em confusão”, conforme as regras de um Estado que encarcera corpos através de uma lógica cruel e punitivista. Lúcia, entretanto, não se preocupava. Sentia-se já preparada para recuperar cada fragmento do que perdeu durante sua jornada em busca de emoção e conquistar muito mais.

    Com o semblante de quem ainda tem muitos sonhos e o celular na mão para mostrar fotos de seus três filhos e de Nina, Lúcia afirma: “Graças a Deus vou conseguir tudo o que eu tinha de novo. Não é a primeira vez que eu me levanto das cinzas”, e sorri. Seu olhar esperançoso e determinado poderia tranquilizar corações preocupados pelo mundo afora.

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    * Nome fictício

    ** Texto originalmente publicado no livro-reportagem “Metamorfose entre Muros”, TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de Andressa Vilela para a PUC-SP em dezembro de 2016.

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