Luiza Brunet: ‘Os homens precisam ter medo antes de levantar a mão’

    Ex-modelo ajudou a amiga Isis de Oliveira a denunciar agressões de marido durante a pandemia

    Arte: Nina Millen

    São assombrosos os números da violência doméstica contra a mulher no Brasil e no mundo. A cada quatro minutos, uma mulher é agredida em território nacional. Lá fora, a situação não é diferente, o que levou a ex-modelo Luiza Brunet constatar que “a violência doméstica contra a mulher é uma epidemia mundial”. Nos últimos quatro anos, desde que denunciou o então marido, o empresário Lírio Parisotto, Luiza assumiu o papel de embaixadora da luta contra a violência às mulheres do Instituto Avon. A agressão ocorreu em 2016.

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    Foi na condição de embaixadora que Luiza passou 80 dias viajando, no ano passado. Foi de Hamamatsu, no Japão, ao Arizona, nos Estados Unidos, passando por Pernambuco e Mato Grosso do Sul — sua terra natal. “É impressionante como todos os estágios de agressões contra as mulheres estão presentes em culturas tão distintas”, constatou. Com o início da pandemia do novo coronavírus, as viagens foram interrompidas, mas o contato com mulheres brasileiras que vivem no exterior continua. “As agressões ficaram ainda mais violentas durante o período de isolamento social, mas muitas, assim como vem ocorrendo no Brasil, estão com medo de denunciar e perder a guarda dos filhos, por serem imigrantes”.

    As agressões ficaram ainda mais violentas durante o período de isolamento social, mas muitas, assim como vem ocorrendo no Brasil, estão com medo de denunciar e perder a guarda dos filhos, por serem imigrantes

    Luiza Brunet, embaixadora da luta contra a violência às mulheres do Instituto Avon

    Não bastasse ser uma epidemia mundial, a violência contra a mulher é também democrática e atinge todas as classes sociais, sem distinção. Ela sabe do que está falando e admite que não é fácil romper o silêncio: “A mulher fica com medo do que isso vai implicar na sua vida, fica com medo de ser julgada”. Rica ou pobre, não importa, o ciclo da violência se repete da mesma forma entre quatro paredes, só muda de endereço. Podendo também ocorrer num quarto de hotel, como foi o caso de Luiza que estava em Nova Iorque com Parisotto quando foi agredida verbalmente e, em seguida, levou um soco no olho e uma sequência de chutes.

    Luiza Brunet em meio a mulheres do sertão numa conversa sobre violência (Foto: arquivo pessoal)

    Desde que denunciou o então marido, Luiza passou a emprestar sua voz e sua imagem para denunciar a violência doméstica contra a mulher. “Precisamos parar esse ciclo de violência, porque a violência não define a gente”. Está convencida de que “os homens precisam ter medo antes de levantar a mão”. Seu ativismo ajudou a também ex-modelo Isis de Oliveira. Amiga dos tempos de passarela, Isis contou para Luiza o que vinha passando desde o início da pandemia.

    Seu marido, o egípcio Hazem Roshdi, se recusava a fazer quarentena – ele é bem mais novo que Isis, que vinha cumprindo o isolamento social com disciplina pelo fato de ter bem mais de 60 anos. No último dia 23 de abril, depois de mais uma briga violenta, Isis já tinha combinado com Luiza um código para pedir socorro – a relação começara a ficar tóxica logo após o casamento, em 2014. Via celular, mandaria um SOS caso voltasse a ser agredida. Às 17h30 passou a mensagem. Luiza só foi visualizar o whatsapp às 20h, quando ligou para a Central 190 e a polícia chegou a tempo de ouvir as agressões verbais de Roshdi, que foi preso em flagrante. Procurada, Isis preferiu não dar entrevista.

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    Parceria entre cinco mídias independentes monitora os casos de violência doméstica e feminicídio no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus

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