Mãe de jovem morto em bloco de Carnaval em SP afirma que ele foi espancado por PMs

    Vinicius Santos Muller, 20 anos, estava com o irmão em um bloco de rua quando sofreu uma tentativa de furto; PM foi acionada e, na dispersão, teria agredido o jovem

    Família de Vinicius Santos Muller, 20 anos, afirma que ele foi espancado pela PM em bloco de rua na zona norte de SP | Foto: arquivo pessoal

    O estudante Vinicius Santos Muller, 20 anos, saiu de casa com o irmão mais novo, de 18 anos, para curtir um bloquinho de rua perto de sua casa no domingo de carnaval (23/2). Saiu da Vila João Batista, na Brasilândia, periferia da zona norte de São Paulo, para a Freguesia do Ó, na mesma região. Vinicius não voltou para casa.

    Um grupo tentou roubar o boné de Vinicius, que reagiu. Uma confusão começou nesse momento e a PM decidiu dispersar a multidão. No momento da dispersão, porém, a tropa passou a agredir Vinicius. É o que afirma a mãe do jovem, a manicure e podóloga Marileia dos Santos Silva, 40 anos.

    “A PM chegou e bateu em todo mundo, jogando spray de pimenta em que estava lá. Os meninos que tinham roubado o boné fugiram. O meu filho mais novo também correu, ele só percebeu depois que o Vinicius não estava com ele. Quando ele voltou, os policiais estavam batendo no Vinicius. Meu filho contou que o Vinicius ainda conseguiu levantar e correr, mas desfaleceu nos braços dele”, relata Marileia em conversa com a Ponte.

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    O filho mais novo, que terá a identidade preservada por segurança, disse à mãe que pelo menos 7 policiais militares participaram da ação. Vinicius foi socorrido pela equipe médica que fazia o pronto atendimento no bloco de rua, mas não resistiu e faleceu ainda no local. Não deu tempo de chegar ao hospital.

    Naquele dia, Marileia conta que teve um pressentimento ruim pela manhã. “Eu pedi para ele não ir ao bloquinho. De tarde, recebi algumas pessoas da igreja e perguntaram para qual dos meus filhos eu queria que recebesse mais orações e eu falei ele. Duas horas depois eu recebi a notícia”, lamenta a mãe.

    Assim que recebeu a notícia, a matriarca conta que correu para a Praça da Matriz, onde estava acontecendo a festa, mas não encontrou o filho do meio com vida. “Eu discuti com os policias da tenda, porque eles queriam ver o corpo do meu filho. Tentaram salvar ele por 45 minutos. No IML deu que era morte suspeita”, conta Marileia.

    O caso foi registrado no 28º DP (Freguesia do Ó) como morte suspeita. Não há informações no boletim de ocorrência de agressão dos policiais ao jovem.

    “Eu não consigo entender o motivo disso, eles deviam proteger e cuidar do meu filho. Eu queria entender, eu queria entender. O corpo do meu filho ficou todo machucado, com marcas de cassetete na barriga, com a metade das costas machucadas. Tinha hematoma no rosto dele”, detalha a mãe.

    Família tirou fotos dos hematomas no corpo de Vinicius | Foto: reprodução

    Os filhos estavam de mudança para Santana do Parnaíba, interior de São Paulo, para morar com o irmão mais velho. Iriam atrás de oportunidades de emprego. Mas os planos de Vinicius foram interrompidos. A mudança aconteceria no começo de março, mas, diante dos fatos, o filho mais novo de Marileia antecipou a viagem.

    A mãe conta que uma testemunha a procurou para contar o que presenciou: “A polícia bateu nele sim, foi quando ele correu e passou mal do meu lado. Eu fui ajudar e os policiais vieram para cima de mim, foi quando eu comecei a gritar por socorro”.

    Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), os PMs envolvidos na ação podem responder por fraude processual, caso fique comprovado que não deram uma versão verídica no B.O.. “Além da acusação de que as agressões geraram a morte do rapaz (homicídio), conforme dizem testemunhas e familiares”, afirma.

    A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública, por meio da assessoria terceirizada InPress, e a Polícia Militar. Em nota, a pasta confirma que o caso está sendo investigado, que a equipe policial analisa imagens de câmeras de segurança e aguarda o resultado do laudo pericial. “Todos os vestígios e indícios apresentados são analisados pelo delegado de polícia. A Polícia Militar acompanha a investigação. Denúncias sobre eventuais desvios na atuação da corporação podem ser encaminhadas à Corregedoria. Todas elas são rigorosamente apuradas pelo órgão e pelo Comando da área”, diz nota, também assinada pela PM.

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