Manifestação no centro de SP pede políticas públicas para moradores de rua

    “A gente passa fome, frio, humilhações e ninguém vem conversar com a gente. A GCM pega tudo sem conversar. Estamos na rua para mostrar que também somos gente e morremos de frio”

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    Para Ariel de Castro Alves, do Condepe-SP, durante o período de frio a Prefeitura tem de abrir vagas emergenciais e desburocratizar os albergues. Foto: Daniel Arroyo/Ponte
    Cerca de 100 pessoas, a maioria moradora de rua, fizeram uma marcha na noite da última quinta-feira (16/06) em homenagem às pessoas que morreram de frio na cidade de São Paulo durante as últimas semanas. Os manifestantes saíram da Praça da Sé, por volta das 19 horas, e caminharam até a sede da Prefeitura Municipal, no Viaduto do Chá.

    Além de faixas e cartazes acusando a Guarda Civil Metropolitana (GCM) de ser assassina, por conta das operações do “rapa”, nas quais a GCM toma pertences como colchões e cobertores dos moradores de rua, seis cruzes ganharam destaque na manifestação, cada uma representando um morto. “A gente passa fome, frio, humilhações e ninguém vem conversar com a gente. A GCM pega tudo sem conversar. Estamos na rua para mostrar que também somos gente e morremos de frio”, disse Francisco de Paula, 50, morador de rua. No começo do ato ele segurava um cartaz escrito: “A frieza do governo mata mais do que o frio”.

    “Essa galera não tem nenhuma assistência pública, não é assistida pela Prefeitura, não existe nenhum horizonte para eles que não seja a exclusão do centro, a exclusão do direito à cidade. Isso significa que a cidade não é para todo mundo, é só para quem tem dinheiro”, disse Marcus Gonzalez, integrante do Catso (Coletivo Autônomo dos Trabalhadores Sociais), organizador do evento.

    Próximo ao final do ato, já em frente à Prefeitura, por volta das 20 horas, houve uma pequena confusão entre GCM e manifestantes. Com a chegada do protesto no Viaduto do Chá, cerca de seis GCMs se aproximaram para fazer a segurança do prédio da Prefeitura. Menos de cinco minutos depois, uma bomba estourou no meio dos manifestantes, que se revoltaram e foram para cima dos agentes, chamando-os de assassinos e covardes.

    “Estamos aqui em uma situação pacífica, lutando pelo nosso direito de viver, e eles vêm tacar bomba para cima de nós”, disse um morador de rua. Nicolau, inspetor da GCM, respondeu: “Os manifestantes picharam a parede da prefeitura e me deram um chute. E são eles que vão pagar imposto por isso. Mas eu não posso dar entrevista”.

    Por meio de sua assessoria de comunicação, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana, responsável pela GCM, afirmou à Ponte: “A GCM desconhece qualquer tipo de confronto entre integrantes da corporação e pessoas que participavam de ato público nesta quinta-feira (16) à noite, em frente à sede da Prefeitura de São Paulo. Eventual confronto será investigado”.

    “Tem que ser menos burocrático”

    Para Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe-SP), durante o período de frio a Prefeitura tem de abrir vagas emergenciais e desburocratizar os albergues. “É necessário ter albergues menos burocráticos do que os que existem atualmente, que preveem uma série de critérios aos quais muitas vezes as pessoas não se adaptam. Muitas pessoas em situação de rua têm de ir com seus cachorros, carroças, e muitas vezes têm dificuldades nos albergues convencionais”.

    Além disso, Alves acredita que faltam outras políticas voltadas às necessidades dos moradores de rua. “Não vemos políticas voltadas à moradia, à questão da saúde mental, do atendimento psiquiátrico, da geração de renda, de inclusão em programas sociais como Bolsa Família, Bolsa Aluguel, entre outras medidas”.

    Rodrigo, integrante do Grupo de Rap Ktarse, acredita que a sociedade tem contribuído muito com os moradores de rua, no entanto, opina que para haver mudanças reais a sociedade tem de se unir aos moradores de rua na luta por moradia digna e políticas sociais. “Temos de ir além de dar um cobertor e um prato de comida. Se a sociedade realmente quer fazer algo, tem que lutar por políticas públicas de moradia”, afirmou o rapper.

    Já o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral da População de Rua, ressalta que vem cobrando com frequência da Prefeitura que haja pequenas e muitas respostas. Segundo ele, é preciso abrigar as pessoas nas regiões onde elas estão, e não levá-las para onde convém à Prefeitura.

    Veja as fotos do ato, por Daniel Arroyo, da Ponte Jornalismo: 

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