Marcha protesta contra morte de negros pelo Estado

    Segundo organizadores, a II Marcha (Inter) Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro ocorreu simultaneamente em 25 cidades, no Brasil e no exterior

    Se tivesse se esquecido por um momento dos motivos que a levaram a participar da II Marcha (Inter) Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro, no dia 22/08, em São Paulo, a estudante de Ciências Sociais Mariana Pimentel, 22 anos, teria se lembrado assim que desceu do ônibus, perto da avenida Paulista, e entrou num estabelecimento comercial para usar o banheiro. Junto com ela, estavam outros militantes vindos de Campinas (SP), quase todos negros. “Dois seguranças nos abordaram e perguntaram o que a gente estava fazendo ali.”

    “Só quem é preto sabe o que é sofrer racismo. Ser perseguido por segurança em supermercado faz parte do nosso cotidiano”, contou a estudante, enquanto marchava pela avenida, junto com a multidão de aproximadamente 1.000 pessoas que saiu do Masp (Museu de Arte de São Paulo), às 19h.

    “A gente quer uma outra segurança pública, porque essa não nos representa”, afirmou Katiara Oliveira, 28 anos, da organização negra Kilombagem, uma das organizadoras da marcha paulista. “A gente quer denunciar que neste país não existe democracia racial, porque não existe nem democracia. Onde ser pobre e favelado é ser tratado como crime, ser preto é um crime hediondo.”

    Segundo ela, a marcha ocorreu simultaneamente em 25 cidades, 15 no Brasil e outras 10 diante de embaixadas brasileiras nas cidades de  Washington, Madri, Lisboa e Paris, entre outras. A mobilização reuniu ao todo 50 mil pessoas, de acordo com a agência Afropress. A iniciativa partiu do Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta, uma articulação de movimentos negros baianos criada em 2005, em colaboração com outras entidades no Brasil e no exterior.

    [Best_Wordpress_Gallery gallery_type=”image_browser” theme_id=”1″ gallery_id=”19″ sort_by=”alt” order_by=”asc” show_search_box=”0″ search_box_width=”180″ image_browser_width=”800″ image_browser_title_enable=”1″ image_browser_description_enable=”1″ thumb_click_action=”undefined” thumb_link_target=”undefined” popup_fullscreen=”0″ popup_autoplay=”0″ popup_width=”800″ popup_height=”500″ popup_effect=”fade” popup_interval=”5″ popup_enable_filmstrip=”1″ popup_filmstrip_height=”50″ popup_enable_ctrl_btn=”1″ popup_enable_fullscreen=”1″ popup_enable_info=”0″ popup_info_always_show=”0″ popup_enable_rate=”0″ popup_enable_comment=”1″ popup_hit_counter=”0″ popup_enable_facebook=”1″ popup_enable_twitter=”1″ popup_enable_google=”1″ popup_enable_pinterest=”0″ popup_enable_tumblr=”0″ watermark_type=”none” watermark_link=”http://web-dorado.com”]

    Fotos: Rafael Bonifácio/Ponte Jornalismo

    Nas faixas e nas palavras de ordem, a marcha misturou os rostos negros de Michael Brown, morto pela polícia de Ferguson, nos EUA, Rafael Braga Vieira, morador de rua preso durante os protestos de junho de 2013, Claudia da Silva Ferreira, arrastada por uma viatura da PM carioca, em março deste ano, e Douglas Rodrigues, que morreu perguntando “Por que o senhor atirou em mim?” ao PM que o baleou, em outubro do ano passado, em São Paulo. Em 2012, das 56 mil pessoas assassinadas no Brasil, 41 mil eram negras.

    Carregando uma das bandeiras da marcha, o estudante Wellington Lopes, 17 anos, relatou como é ser o sobrevivente de um genocídio. “Dá para contar nos dedos os meus amigos de infância que não foram mortos pela polícia, que não estão no tráfico de drogas ou que não estão presos”, afirma. “O Estado não existe na periferia de São Paulo.”

    Morador de Poá, na Grande São Paulo, Lopes se sente cercado de violência por todos os lados. Quatro amigos que cresceram junto com ele foram mortos numa chacina, em 2012, e um irmão está foi preso, acusado de roubo. “Ele trabalhava e estudava, e a suposta vítima não apareceu para dar depoimento, mas mesmo assim ele está na cadeia há mais de um ano”, disse.

    A marcha paulista terminou por volta das 21h30, diante do Teatro Municipal, centro da cidade. Na frente das escadarias do teatro, onde nasceu o Movimento Negro Unificado, em 1978, as 1.000 pessoas ali reunidas fizeram um rebatizado simbólico do teatro, que recebeu o nome da preta, pobre e periférica Claudia da Silva Ferreira.

    Leia também:
    O racismo que mata
    Mulheres negras, criminalizadas pelas mídias, violadas pelo Estado

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude
    1 Comentário
    Mais antigo
    Mais recente Mais votado
    Inline Feedbacks
    Ver todos os comentários
    marcio ramos
    marcio ramos
    9 anos atrás

    Legal, curti as fotos, o texto tbm….

    mais lidas