Mesmo com mãos na cabeça, homem negro é morto por PMs sem reagir em Ourinhos (SP)

Imagens de câmera de segurança desmentiram versão de que Murilo Junqueira trocou tiros com os policiais João Paulo Herrera de Campos e Alexandre David Zanete; os dois foram presos na quarta (22)

Com as mãos levantadas para cima e sem reagir, Murilo Henrique Junqueira, 26, foi morto por policiais militares na Rua Elvira Ribeiro de Moraes, na cidade de Ourinhos, interior paulista, na segunda-feira (20/9). O cabo João Paulo Herrera de Campos e o subtenente Alexandre David Zanete, do 31º Batalhão da Polícia Militar do Interior, alegaram que ocorreu troca de tiros, mas foram presos dois dias depois após imagens de uma câmera de segurança terem flagrado a ação.

Na filmagem, Murilo aparece de camiseta branca e shorts jeans caminhando por um chão de terra batida ao lado de uma casa. Ele levanta os dois braços até a cabeça quando um dos policiais se aproxima e faz um disparo, depois outro em seguida quando o jovem cai ao chão e se contorce. É possível ver que o policial ainda dá um tiro para cima.

Na delegacia, os dois deram outra versão. Informaram que tiveram conhecimento de que Murilo estava foragido. com um mandado aberto contra ele referente a um processo no Paraná e que foram ao local capturá-lo, mas não explicam como ficaram sabendo do paradeiro.

Em seguida, ao estacionarem a viatura próximo ao local, disseram que “depararam-se com o indivíduo no portão, que, ao perceber a presença dos policiais, se evadiu” e desceu em direção a um terreno baldio próximo Núcleo de Educação Infantil Benedita Fernandes Cury, dirigindo-se à Rua Mario Antonio Bacili, altura do numeral 303, Jardim São Carlos, e passaram a perseguí-lo.

Parte da equipe da Força Tática, que é identificada apenas como Tenente Possamai, Cabo Ednilson e Cabo Ferreira, foi atrás a pé enquanto Herrera e Zanete “voltaram a viatura, para tentar efetuar o cerco ao indivíduo” evadido”. Já na Rua Mario Antonio Bacili, segundo a dupla, Murilo teria entrado em uma viela que dava acesso à Rua Elvira Ribeiro de Moraes e se deparou com a viatura. Os PMs alegaram que deram ordem de parada e que o rapaz teria virado o corpo e disparado com uma pistola calibre 380.

O subtenente Zanete, que comandava a equipe, disse que passou a disparar “com a intenção de repelir a injusta agressão”. Ele disse que deu três disparos, enquanto o cabo Herrera deu um tiro e Murilo teria dado um tiro.

Os PMs afirmaram que ao ver Murilo caído, tiraram a arma de sua mão e que “aparentemente possuía sinais vitais, com olhos abertos, porém, não esboçava reação”. Chamaram o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) para prestar socorro e Murilo foi levado à Santa Casa de Misericórdia da cidade, mas não resistiu. A perícia apreendeu quatro cápsulas de munição, sendo uma de calibre 380 e as demais .40, que é a usada por policiais. As armas também foram recolhidas.

Uma testemunha que mora próximo ao local disse à Polícia Civil que apenas ouviu gritos de “para, para” e barulhos parecidos com tiros, sem precisar a quantidade. No boletim de ocorrência, que data do dia 20 de setembro, é descrito que no percurso até onde aconteceu os disparos, não foram localizadas câmeras de segurança. E as que foram encontradas na casa da testemunha, ela disse que não gravava.

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Os dois policiais militares foram presos na quarta-feira (22/9), após expedição de mandado de prisão temporária (cinco dias), e estão no Presídio Militar Romão Gomes. O inquérito está em segredo de justiça.

À Ponte, o ouvidor das Polícias Elizeu Soares Lopes disse que soube do caso nesta sexta-feira (24/9) e que oficiou a Polícia Civil e o Ministério Público para ter acesso aos detalhes da investigação e para que seja pedida a prisão preventiva (sem tempo determinado) dos PMs. “É um absurdo, um ato covarde contra uma pessoa rendida que não oferecia risco aos policiais, foi uma execução a sangue frio”, definiu. “Quando a polícia lança mão de uma arma do Estado para atentar contra a vida de uma pessoa rendida, independentemente de culpa [em processo judicial], é um ato de barbárie”.

O que diz a polícia

A Ponte procurou as assessorias da Secretaria de Segurança Pública e da Polícia Militar sobre o caso e aguarda uma resposta.

Procurado, o advogado Claudio Márcio da Cruz Marvulle, que representa os dois policiais, disse que por enquanto não iria se manifestar.

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