Moradores denunciam ações truculentas da Guarda Municipal de Praia Grande após morte de agente durante bico

Integrantes da Ronda Ostensiva Muncipal estariam forçando toque de recolher em comunidades da Baixada Santista, no litoral paulista, após assassinato de um integrante da corporação

Barraco que teria sido destruído por guardas civis na comunidade Maxilandia, em Praia Grande | Foto: Reprodução

Os moradores da Vila Sônia, no município de Praia Grande, na Baixada Santista, litoral de São Paulo, estão vivendo dias de terror e apreensão por conta de investidas violentas realizadas por agentes da Ronda Ostensiva Municipal (Romu), que decretaram toque de recolher em diferentes comunidades da região. As ações seriam uma retaliação à morte de um guarda civil ocorrida na semana passada enquanto fazia bico de segurança.

De acordo com relatos de quem vive na favela Maxilandia, que fica na periferia de Praia Grande, na tarde desta terça-feira (17/5), agentes da Romu invadiram a comunidade e passaram a abordar e agredir moradores. Há denúncias que os servidores públicos tomaram os celulares de quem tentou filmar a ação deles dentro da comunidade.

“Meu marido foi abordado e eles queriam saber quantas pessoas moravam na minha casa. O GCM disse que se tivesse mais gente do que ele falou ia ficar feio para o nosso lado. Meu marido disse que era trabalhador e não bandido. Foi aí que o guarda disse que não tá escrito na testa de ninguém quem é bandido e quem é morador, mas se ele soubesse que era bandido tinha dado um tiro na cabeça do meu marido ali mesmo”, conta uma moradora da Maxilandia que prefere não se identificar com receio de represálias.

Os guardas estariam cercando moradores emum beco da comunidade, como conta Paulo Daniel Santana, 22, cabelereiro. “Quando eu saí de dentro do beco, eles me abordaram, abriram a minha bolsa e disseram que eu não era cabeleireiro coisa nenhuma. Isso foi na frente de um bar. Umas dez pessoas viram quando eles me deram um murro e me levaram para um canto escuro do beco. Eles pegaram um cassetete de ferro e começaram a me bater, na terceira paulada já quebraram o meu braço.”

Robson Carvalho Nunes, que trablaha com reciclagem, diz ter sido torturado no domingo (15/5). “Eu saí de casa por voltas das 5h e eles me pegaram na saída do beco e ficaram rodando comigo até as 7h, querendo que eu levasse eles até quem fez o crime contra eles. Só que eu não conheço nada e não sei de nada disso. Eles me levaram para o mato, baixaram minhas calças e ameaçaram enfiar os cassetete nas minhas partes íntimas. Me bateram e mandaram eu sair da minha casa. Disse que se eu voltar eu vou morrer. Desde então estou dormindo na rua, sem tomar banho e sem minhas coisas.”

Além da periferia de Praia Grande, os toques de recolher e as abordagens violentas feitas por guardas municipais também estariam ocorrendo em bairros periféricos de outros municípios da região, como Guarujá e Peruíbe, pela mesma motivação. Na manhã do dia 11 de maio um integrante da Romu estava trabalhando como segurança em um canteiro de obra na Vila Sônia quando foi alvejado por um homem que passou em uma moto e fugiu do local. 

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Desde então os moradores da área afirmam que a truculência por parte dos agentes da Romu se intensificou, porém os episódios de maior brutalidade ocorreram na tarde desta terça-feira. “Derrubaram a porta de casas de palafitas que ficam aqui na favela, quebraram o braço de um rapaz e ameaçaram arrancar o dente de outro com um alicate. Ontem passaram no comércio de uma senhora e mandaram ela fechar a porta”, afirma outra moradora.

Outro lado

A reportagem procurou a assessoria de imprensa da prefeitura de Praia Grande, mas até a publicação dessa reportagem não recebeu nenhum retorno.

ATUALZAÇÃO: texto atualizado às 21h04 desta terça (14/5) para incluir novos relatos de torturas que teriam sido feitas por GCMs a moradores de Praia Grande

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