Morte de um dos principais repressores da ditadura completa 40 anos com celebração em SP

    Admiradores de Sérgio Fleury se reuniram no cemitério São Paulo, em Pinheiros, para homenagear o ex-delegado do DOPS; ele é responsável por execuções como a de Carlos Marighella, ex-deputado e guerrilheiro

    Flyer de convocação para homenagem de Sérgio Fleury

    Em meio a frases de admiração e adoração a repressores, principalmente entoadas pela claque do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e muita resistência oriunda de intelectuais e opositores ao governo, a morte do ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) Sérgio Fernando Paranhos Fleury, um dos principais torturadores da Ditadura Militar (1964-1985), completa 40 anos nesta quarta-feira (1/5).

    Acusado de chefiar esquadrões da morte que aterrorizavam a periferia paulistana, tendo como maiores vítimas pobres, negros e desempregados, Sérgio Fleury morreu em 1979 em um acidente com sua lancha em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. O ex-delegado foi sepultado sem que houvesse uma perícia em seu corpo, o que motiva até hoje diversas teorias sobre a forma em que sua vida foi ceifada. A versões de sua morte vão desde uma queima de arquivo protagonizada por antigos aliados até uma possível vingança por parte de alas radicais da esquerda, que, em vida, Fleury tanto perseguia.

    Em entrevista à Ponte, o sociólogo e cientista político Eduardo Viveiros comenta a figura do ex-delegado do DOPS. “Fleury fazia o trabalho sujo para a ditadura e acabou sendo descartado quando se tornou incômodo, um arquivo a ser eliminado. Ele foi um produto típico das ditaduras. Regimes autoritários favorecem o aparecimento desse tipo de agente da repressão. Mas eles podem se tornar inconvenientes quando assumem tarefas e poderes sem controle do próprio Estado”, argumenta cientista político.

    Entre os casos emblemáticos que envolvem o nome de Fleury estão a emboscada, seguida da execução, do deputado federal e guerrilheiro Carlos Marighella, em 4 de novembro de 1969, na alameda Casa Branca, uma travessa da avenida Paulista. Fleury também ordenou a chacina de três integrantes do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), em dezembro de 1976, em um ataque à sede do partido no bairro da Lapa, na zona oeste, que resultou na morte de Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummont. Além da participação na Operação Pajuçara, em Pintada, na Bahia, que culminou com a morte de Carlos Lamarca, em 17 de setembro de 1971.

    “O fato de ser um policial de carreira, com evidente competência na execução de tarefas policiais, num primeiro momento, chamou a atenção dos órgãos da repressão na ditadura. A ausência de controle pelo Estado, o que importava era o combate à esquerda, e a liberdade de atuação e de uso de métodos violentos acabou aproximando o policial dos Esquadrões da Morte e dos torturadores que não se submetiam à autoridade do próprio Estado. Regimes autoritários criam seus próprios monstros”, explica Viveiros.

    No entanto, mesmo sendo uma figura repressora, que causa repulsa em muitas pessoas que sofreram torturas diretas ou que tiveram familiares torturados ou mortos em suas mãos, há ainda aquelas que o veneram. Nesta manhã, admiradores de Fleury se reuniram no cemitério São Paulo, em Pinheiros, na zona oeste para prestar uma homenagem póstuma ao ex-delegado. Segundo o Serviço Funerário da Prefeitura, houve uma homenagem no local, mas sem que a administração fosse notificada anteriormente sobre o encontro. Tal celebração é realizada anualmente na data por militantes da direita e que refutam que o Brasil tenha vivido uma Ditadura, como já afirmou o atual presidente da república.

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