Movimentos sociais e periferias marcham por Marielle e contra Bolsonaro

    Mesmo com chuva forte, manifestantes protestaram nas ruas da cidade de São Paulo; ‘Não aguentamos mais, chega desse lixo. O caso Marielle representa a injustiça’, critica manifestante

    Manifestantes caminham pela Av. Paulista, na cidade de São Paulo| Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    A noite de terça-feira (05/11) trouxe chuva forte à cidade de São Paulo. Mas isso não atrapalhou o ato que estava marcado para começar às 18h na região central da cidade, no vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo). Sem um minuto de trégua, cerca de 3 mil manifestantes ocuparam uma das vias da Avenida Paulista para pedir justiça por Marielle Franco, vereadora assassinada em 14 de março de 2018, e exigir a saída do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

    O ato foi o segundo desde que o nome de Bolsonaro apareceu nas investigações do crime que tirou a vida da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes no dia 14 de março de 2018. Na semana passada, o primeiro protesto reuniu cerca de mil pessoas. As bandeiras do manifesto eram contra o desgoverno de Bolsonaro, por Justiça por Marielle Franco, pela cassação de Eduardo Bolsonaro e por democracia e direitos.

    Choveu durante todo o trajeto do ato| Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    Dessa vez, a manifestação foi puxada por movimentos sociais que lutam pelo direito à moradia e movimentos estudantis. Com a chuva, o ato começou cerca de 1h30 de atraso. O percurso dessa vez foi curto: do Masp até o prédio da Procuradoria da República, na rua Frei Caneca, um trajeto de cerca de 500 metros.

    Durante o protesto, os manifestantes gritavam frases como “Fora Bolsonaro”, “Ô Bolsonaro, seu fascistinha, vamos te colocar na linha”, “Marielle presente”, “Marielle vive” e “Lula livre”. Por volta das 20h, a Polícia Militar demonstrava irritação para liberar as vias. Às 20h30 a avenida Paulista já estava liberada para os carros.

    Polícia Militar acompanhou a manifestação na Av. Paulista | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    Entre o público haviam núcleos de movimentos sociais das periferias, representados por bairros como Capão Redondo, Jardim Angela e Grajaú. Para Maria Creusa da Silva Souza, 40 anos, integrante do movimento Povo Sem Medo do Capão, as manifestações deveriam acontecer todos os dias para obter mudanças.

    “Sabemos quem mandou matar Marielle, mas eles não tomam providências, por isso temos que tomar as ruas. Já tem um ano e meio que Marielle foi morta. O povo tem que ir para rua para eles acordarem. A voz do povo brasileiro é a força. Nós temos que ir para rua. Tínhamos que tomar o palácio da presidência para eles saberem que o povo tem voz. A gente tem que ir para rua todos os dias para mostrar que o povo tem voz”, critica.

    Maria Creusa da Silva Souza, 40 anos | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    Para a auxiliar de enfermagem Maria Aparecida da Silva, 62 anos, a morte de Marielle representa a falta de justiça. “Estamos nas ruas por tudo que o governo Bolsonaro vem fazendo, mas principalmente pela morte de Marielle. Achamos gravíssimo o fato de ter justamente sido na portaria da casa de Bolsonaro, se fosse em outro país ele já estaria fora do cargo. Por isso temos que sair para rua para pedir mudanças. Não aguentamos mais, chega desse lixo. O caso Marielle representa a injustiça, não há justiça”.

    Em entrevista à Ponte, Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), critica a permanência de Jair Bolsonaro na presidência. “Ele [Bolsonaro] perdeu a condição de permanecer a frente da presidência da república pela suspeita de relação com milícia e com os próprios assassinos da Marielle. Isso precisa ser investigado até as últimas consequências. Essa história não fecha, ele mesmo falou em adulteração de provas, o filho dele mostra os áudios antes da justiça apresentar. O caso deveria estar em segredo de justiça. Eles falam que era outra casa, que era outro porteiro, a promotora que estava a frente disso era uma bolsonarista… a história tá muito mal contada, nós exigimos a investigação disso até as últimas consequências”, avalia Boulos.

    Líde do MTST, Guilherme Boulos | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    O líder do MTST também aponta que não adianta tirar Bolsonaro para ter Hamilton Mourão como presidente. “Se for comprovada a relação do Bolsonaro com os assassinos da Marielle, ele tem que sair do palácio algemado direto para [o presídio da] Papuda. Pelos crimes que ele já cometeu, pela ameaça democrática que ele representa ele não tem condição de permanecer na presidência. Nós viemos hoje para rua para dizer que aqui não tem covarde, que Bolsonaro não tem condição de ficar, mas que nós também não queremos o Mourão. Nós queremos na verdade que o TSE cumpra o seu papel, eles estão sentados em cima da investigação sobre o crime eleitoral que poderia levar a cassação da chapa Bolsonaro”, finaliza.

    Manifestantes caminham em direção ao prédio da Procuradoria da República, em São Paulo | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

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