Namorada denuncia que PM influencer tentou estrangulá-la e ameaçou quebrar seu pescoço

Segundo boletim de ocorrência, mulher de 29 anos afirma que foi agredida por capitão André da Silva Rosa, em 29 de janeiro, após tentar ver seu celular; policial diz que também foi agredido

Capitão André da Silva Rosa trabalha atualmente no 38º BPM/M | Foto: Reprodução/Instagram

Uma mulher de 29 anos chamou a Polícia Militar após relatar ter sido agredida pelo capitão André da Silva Rosa, 44, com quem mantinha um relacionamento há um ano e meio e vivia na mesma residência, em Santo André (Grande SP). O caso aconteceu em 29 de janeiro.

De acordo com o boletim de ocorrência, a jovem disse nos últimos seis meses vinha “sofrendo traições, além de violência física, verbais e psíquicas”, mas não havia procurado a delegacia. Naquele dia, por volta das 10h, disse que pediu para ver o celular de André, que se recusou a fornecê-lo, e tentou pegá-lo mesmo assim, momento em que começaram a se desentender.

Segundo ela, o capitão lhe deu um golpe de enforcamento, conhecido como “mata-leão”, a prensou na parede e começou a estrangulá-la, dizendo que iria “apagá-la” se não devolvesse o aparelho. A mulher afirma que o mordeu no braço para se defender e “caiu no chão e puxou o saco escrotal de André”, momento em que o policial teria ameaçado quebrar o pescoço dela.

A jovem denuncia que o namorado ainda deu dois tapas em seu rosto, chutes e apontou a arma em sua direção. Já André disse que “apenas se defendeu, usando de moderada força” para conter e afastar a companheira.

Quando a viatura da PM chegou à residência, as agressões tinham cessado, sendo que a mulher estava na garagem e André sentado na calçada.

Para o delegado Luiz José Polastre, da Central de Polícia Judiciária de Santo André, as versões “são conflitantes” e não seria possível estabelecer, sem uma investigação, “a perfeita dinâmica dos fatos, para segura atribuição de responsabilidades na esfera penal” e atribuir quem iniciou as agressões e quem agiu em legítima defesa.

Polastre afirma que André “acabou suportando, visualmente, maiores lesões e além disso permaneceu no local”, o que indicaria “boa-fé” para colaborar com as investigações. Ele determinou que as partes realizassem exame de corpo de delito e abriu inquérito para apurar o caso. A Corregedoria da PM também foi notificada.

A mulher quis deixar a residência para ficar na casa de familiares e solicitou escolta policial para retirar seus bens do local. O caso foi registrado como lesão corporal e violência doméstica, sem indiciamento.

PM Influencer

André da Silva Rosa é conhecido por ter atuado de 2008 a 2013 na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa mais letal da PM paulista. Ele costuma exaltar o batalhão e exaltar ocorrências no Instagram e no Facebook, que somam, respectivamente, mais de 327 mil e 240 mil seguidores.

Mesmo após a assinatura da diretriz da corporação, em 29 de dezembro do ano passado, que veda que policiais militares da ativa e da reserva do Estado de São Paulo de fazer postagens sobre suas ocorrências e de ostentar armas ou símbolos da corporação ou, ainda, de fazer reivindicações sobre condições de trabalho nas redes sociais, suas publicações – inclusive o username com @capitaosilvarosarota – fazem referência ao trabalho policial. O comando havia determinado 20 dias, a partir da data da publicação da normativa, para que a integrantes da tropa readaptassem suas redes sociais.

https://www.facebook.com/capitaosilvarosa/videos/353893289907976/

Em agosto de 2020, o jornal Folha de S. Paulo revelou que a polícia abriu inquérito para apurar conduta de policiais por suposta fraude que teria levado um suspeito a ser submetido ao tribunal do crime e quase ser assassinado na capital, após a veiculação de uma reportagem na TV Record que relatava sobre a prisão de um homem que foi apontado equivocadamente como autor de um caso de estupro e homicídio. Na ocasião, André havia dito à Folha que foi apenas o porta-voz sobre a ocorrência na matéria e disse que quem havia conduzido o caso foram seus subordinados. André ainda já passou pelas páginas da Ponte, no caso de um jovem que foi encontrado morto após 16 dias – ele aparece em um vídeo ao lado de um corpo que seria supostamente do adolescente, dizendo que “é o caminho que o ladrão escolheu”.

No mesmo ano, ele também se candidatou ao cargo de vereador de São Paulo nas eleições municipais e alcançou a suplência pelo DEM.

O que diz a polícia

A Ponte procurou o capitão André Rosa, que disse que “o BO é de agressão mútua”. “Inclusive estou ferido”, disse por mensagem. Perguntado sobre a mulher ter dito sobre histórico de violência, afirmou que “chega a ser constrangedor tudo isso pra mim” e que aguardaria a apuração do caso. Ele não respondeu sobre suas redes sociais estarem em desacordo com a diretriz da corporação.

Na manhã desta terça-feira (1/2), o capitão publicou uma nota de esclarecimento afirmando que a companheira tentou pegar uma de suas armas e que reagiu “fazendo uso de força necessária”, embora o boletim de ocorrência não mencione essa informação e, sim, que ela teria tentado pegar seu aparelho celular. “Em um momento de fúria e raiva que ela se encontrava talvez algo pior e irreversível poderia ter acontecido”, alegou.

Disse também que tem circulado “uma foto falsa” do pescoço da mulher nas redes sociais e que está sendo atacado por “pessoas e páginas” que estão tentando “denegrir” sua imagem.

Tentamos contato com a mulher, mas não houve retorno até a publicação.

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A In Press, assessoria terceirizada da Secretaria da Segurança Pública, apenas reiterou, na seguinte nota, o conteúdo do boletim de ocorrência e não respondeu aos questionamentos da reportagem:

Um policial militar, de 44 anos, e sua companheira, uma enfermeira de 29, trocaram agressões na manhã de sábado (29/01), por volta das 10h, na alameda Sebastião do Amaral, no Jardim Ipanema, em Santo André.
Policiais militares atenderam a ocorrência e, no endereço indicado, foram informados que os dois haviam discutido após a mulher ter pedido para ver o celular do homem. Em seguida, eles trocaram agressões.
O caso foi registrado como lesão corporal e violência doméstica pela Central de Polícia Judiciária (CPJ) da cidade, que requisitou exame ao Instituto Médico Legal (IML). As partes foram orientadas quanto ao prazo de representação criminal.

Reportagem atualizada às 10h15, de 1/2/2022, para incluir nota de esclarecimento do policial.

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