‘Não há motivo para pânico’, diz secretário da segurança do CE sobre chacina

    Pelo menos 14 pessoas morreram no ataque a tiros no Forró do Gago, na periferia de Fortaleza; secretário André Costa afirmou, em coletiva, que se trata de um caso isolado

    Foto do galpão do Forró do Gago em dia de festa | Foto: facebook

    Pelo menos 14 pessoas foram mortas em uma chacina ocorrida na madrugada deste sábado (27/1), durante uma festa no bairro Cajazeiras, na periferia de Fortaleza. O local é conhecido como Forró do Gago. Homens armados invadiram o espaço e dispararam aleatoriamente contra o público. Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, trata-se da maior chacina já registrada no estado.

    Das vítimas, sete já foram identificadas. Os nomes não foram divulgados, mas a secretaria informou que três são homens maiores de idade e quatro são mulheres, duas maiores e duas adolescentes. Pelo menos seis pessoas atingidas no tiroteio seguem internadas no Instituto Doutor José Frota (IJF), maior centro médico de urgência e emergência da capital. O secretário da Segurança Pública e Defesa Social, André Costa, afirmou em coletiva de imprensa que duas estão em estado grave.

    Foto: reprodução facebook

    O secretário disse que as investigações já foram iniciadas, mas que ainda não é possível precisar o motivo do crime: “O que nós temos de concreto é que, às 0h39min, recebemos uma chamada da Ciops [Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança] de um tiroteio em um local no bairro das Cajazeiras, conhecido como Forró do Gago. De imediato, viaturas do Cotam [Comando Tático Motorizado] compareceram ao local, depois outras viaturas foram. Chegando lá, encontraram corpos e foram feitos trabalhos periciais”, afirmou, em coletiva de imprensa.

    Facções criminosas

    A chacina acontece justamente em um estado onde a violência tem aumentado nos últimos anos. De acordo com o Atlas da Violência 2017, levantamento realizado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no estado do Ceará cresceu 47% entre 2010 e 2015, ano em que foram contabilizados 4.163 homicídios.

    Professor da Universidade Federal do Ceará e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, Luiz Fábio Paiva afirma que parte desse número está ligada às facções criminosas. A hegemonia do crime no estado, segundo o pesquisador, tem sido disputada por dois grupos: uma aliança formada pelo Comando Vermelho (CV) e pela Família do Norte (FDN) e, de outro, um grupo local conhecido como Guardiões do Estado, que receberia o apoio do Primeiro Comando da Capital (PCC). Para ele, o poder público é “completamente ineficaz no enfrentamento dessa situação”, critica.

    Na coletiva, o secretário de Segurança negou que o estado teria perdido o controle da segurança pública para as facções criminosas e chegou a definir a chacina como um evento isolado. “É uma situação criminosa, que foi organizada, que foi planejada e que veio a ser executada”, afirmou André Costa, ao comparar o ataque a outros realizados em boates e shows em outros países, como nos Estados Unidos. Para ele, “não há motivo para pânico, para temor”.

    Já Paiva aponta que não se trata de um fato isolado, mas de uma “sistemática de homicídios”. “Nós tivemos um momento de ‘pacificação’, de acordo entre esses grupos, mas logo em seguida nós tivemos aí uma deflagração de uma guerra entre vários grupos que atuam no Ceará. E, consequentemente, logo em seguida, nós começamos a observar várias chacinas”, diz o pesquisador.

    É a terceira chacina em sete meses: em junho de 2017, seis pessoas foram mortas no bairro Porto das Dunas, também em uma festa. Em novembro, outro ataque do tipo vitimou quatro adolescentes privados de liberdade, que foram retirados por criminosos do Centro Educativo Mártir Francisca. “São várias chacinas sem resolução, sem que os responsáveis sejam presos e devidamente punidos”, disse Paiva.

    Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que uma pessoa foi presa, suspeita de participação na chacina, e que um fuzil foi apreendido. A pasta afirmou que mais detalhes não serão divulgados neste momento para não comprometer as investigações, que contam com o trabalho das polícias, perícia forense e outros órgãos.

    *Com informações da Agência Brasil

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