‘Não vão nos calar’: milhares marcham por Marielle e Anderson

    Com gritos de ‘Por Marielle eu digo não, eu digo não à intervenção’ e ‘Marielle presente’, atos pelo Brasil pedem o fim do genocídio negro e justiça pelos assassinatos da vereadora carioca e do motorista

    Foto: Ponte Jornalismo

    Um cordão de braços negros entrelaçados puxava a marcha, em sua maioria composta por mulheres pedindo o fim do genocídio negro. O ato em São Paulo, com cerca de 30 mil pessoas, refletia um movimento que se deu em ao menos 25 cidades, entre elas capitais. Lágrimas escorriam dos rostos e vozes uníssonas gritavam em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada na noite de quarta-feira (14/3), na região central do Rio de Janeiro. O homicídio duplo também tirou a vida do motorista Anderson Pedro Gomes, 39 anos, que dirigia o automóvel pelo aplicativo Uber para colaborar na renda familiar.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Militante dos direitos humanos, negra, favelada, feminista e LGBT, Marielle foi a quinta vereadora mais votada da capital fluminense. Sua morte levou milhares de pessoas às ruas no Rio de Janeiro (capital e Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense), São Paulo (capital e Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, Santos, São Carlos e Sorocaba), Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Maceió, Recife, Teresina, Natal, Manaus, Belém, Brasília, Cuiabá, Campo Grande, Curitiba, Porto Alegre e Florianópolis. Só na capital paulista, nesta quinta-feira (15), a organização estimou 100 mil pessoas – a Ponte aponta pra aproximadamente 30 mil.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    No horário marcado para começar o ato em São Paulo, às 17h, o vão livre do MASP (Museu de Arte de São Paulo), na Avenida Paulista, já estava cheio de manifestantes. “Uma de nós foi tombada pelo Estado assassino que nós sempre denunciamos. A Marielle ousou percorrer um caminho que não foi feito para ela”, falava ao microfone, em prantos, a vereadora Sâmia Bomfim (PSOL), durante a concentração do ato, que foi organizado pelo diretório estadual do partido.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Por volta das 18h30, o ato começou a percorrer a avenida, passando pela Rua da Consolação, rumo à Praça Roosevelt, na região central. “Essa manifestação não é só indignação como também uma crítica. É simbólico. Esse ato simboliza que não vamos nos calar”, afirma Lia Lopes, integrante do movimento Negritude Socialista Brasileira.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    A atriz Nayla Delfino, 20 anos, contou à Ponte que, apesar de receber de forma triste a morte de Marielle Franco, acredita que “o movimento só vai crescer mais e só vai parar quando esse genocídio terminar”. Para ela, a parlamentar era a representação de suas lutas. “Ela era uma mulher que me representava em todos os sentidos, pelo fato dela ser mulher, preta, periférica e lésbica, pois eu também me reconheço dessa forma”, lamenta.

    Foto: Danilo Martins Yoshioka

    A publicitária Gláucia Quênia, 35, foi ao ato acompanhada do marido e da filha de 10 meses. “Era como se fosse alguém da minha família, pois somos todos um. Somos irmãos independente do espaço geográfico que a gente vive. Foi mais uma executada pela injustiça, para calar a nossa luta por direitos”, desabafa.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Para a aposentada Renilva Mota Ferreira, 56, receber a notícia da morte foi um ‘tapa na cara de todas nós’. “Nós enquanto mulheres negras, somos vítimas dentro da história do nosso país. Acredito que isso seja só o primeiro passo que eles deram. Eles estão tentando nos calar e estão começando pelas favelas, pelos negros, pelas mulheres”.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Os presentes também relembraram e gritaram os nomes de outras mulheres negras como Claudia da Silva Ferreira, auxiliar de limpeza de 38 anos que foi baleada e arrastada por uma viatura da Polícia Militar do Rio de Janeiro, em março de 2014. E de Luana Barbosa dos Reis, que morreu ao ser espancada por três policiais após recusar a ser revistada pelos agentes, na periferia de Ribeirão Preto, interior paulista, em abril de 2016.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    A estudante Bruna Silvestre, 19 anos, contou que passou a conhecer a trajetória da parlamentar após a notícia de sua morte. “Eu fiquei sabendo depois que cheguei da faculdade. Como negra, mulher, feminista e ativista, como eu me considero também, que luta pelos direitos de todos que estão aqui, eu senti muito essa morte. Dói na gente ver pessoas que lutam por nós serem massacradas pelo Estado, pela polícia, pelo governo. Isso bate na gente, mas a gente vem pra rua”, lamentou Silvestre.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    A oficial de promotoria Priscila Rezende, 35, que também é integrante da Marcha Mundial das Mulheres, frisou a dificuldade da ascensão e representatividade da população negra em cargos de poder. “A galera meritocrática sempre defende que se você conseguir vencer, tudo vai dar certo. Mas Marielle conseguiu chegar longe, mesmo nascendo na favela, chegou na faculdade e no mestrado, foi eleita democraticamente, e mesmo assim foi morta desse jeito”, declara Rezende.

    Foto: Danilo Martins Yoshida

    Veja como foi o ato nas outras cidades:

    Ato no Rio de Janeiro. Foto: Leonardo Coelho/Ponte Jornalismo.

    Ato em Salvador. Foto: Arquivo pessoal.

    Ato no parlamento europeu na Bélgica. Foto: Arquivo pessoal.

      Cartazes no ato de Belo Horizonte. Foto: Arquivo pessoal.

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