‘Nossos mortos têm voz’: Mães de Maio inauguram monumento em praça de Santos (SP)

    No Dia Internacional dos Direitos Humanos, memorial em homenagem às famílias das vítimas do Estado brasileiro foi erguido no litoral paulista; “é um reconhecimento da nossa luta”, declarou Débora Silva

    “Estamos aqui para dizer que nossos mortos têm voz”, enfatizou Débora Maria da Silva, uma das fundadoras do Movimento Independente Mães de Maio, ao puxar os tecidos que cobriam o memorial em homenagem às famílias das vítimas do Estado brasileiro na Praça Domingos Aulicino, zona noroeste da cidade de Santos, no litoral paulista, nesta sexta-feira (10/12), data do Dia Internacional dos Direitos Humanos.

    O monumento conta com imagens de 11 pessoas com braços erguidos e seis buquês de rosa nas mãos feitos pelo artista Luís Garcia. A placa que identifica a homenagem tem o seguinte registro: “Este monumento simboliza o amor das famílias aqui representado pelo Movimento Mães de Maio. Como dizia Sergio Vaz: ‘de todos os hinos entoados em louvor às revoluções nos campos de batalha, nenhum, por mais belo que seja, tem a força das canções de ninar cantada nos colos das mães'”.

    A inauguração se deu depois de o prefeito Rogério Santos (PSDB) se comprometer a construir o monumento após vetar projeto de lei que criava mausoléu para as vítimas dos Crimes de Maio de 2006, o maior episódio de violência policial da história brasileira, quando grupos de extermínio formados por policiais mataram 505 pessoas no estado de São Paulo, numa retaliação contra pessoas negras e periféricas por conta de ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital), que mataram 59 agentes públicos. O memorial também conta com nomes das vítimas.

    “Os nossos mortos estão aqui conosco, vivos, dentro do nosso coração”, declarou Débora. “Eles retiraram a parte física dos nossos filhos, com a saudade, deixaram a mãe adoecida, famílias inteiras destruídas, e a gente tenta superar com esse abraço, com esse colo quando a gente se junta porque temos essa ideologia de que juntos somos mais fortes para poder parir uma nova sociedade”.

    Atualização às 19h05, de 12/12/2021: o movimento vai solicitar a retificação do tempo verbal no trecho “como dizia Sergio Vaz” para “como diz Sergio Vaz”.

    Atualização às 16h29, de 16/12/2021: procurada pela Ponte, a Prefeitura de Santos disse que recebeu a solicitação e “já deu início ao processo que visa à substituição da placa do monumento”.

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