Em seu primeiro pronunciamento, secretário Roberto Sá afirma que projeto de UPPs “segue firme e forte” e que intensificará investigações sobre armas de grosso calibre e explosivos
Depois de tomar posse, na manhã de segunda-feira (17), como secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Roberto Sá afirmou que intensificará as investigações sobre o uso de armas de grosso calibre e explosivos por grupos criminosos e instituirá reuniões periódicas de avaliação de desempenho dos indicadores de criminalidade do estado do Rio, com especial atenção às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), principal projeto desenvolvido durante a gestão de José Mariano Beltrame, que se demitiu da pasta na semana passada, após quase dez anos no cargo.
Acompanhado do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e do governador em exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, o novo secretário proferiu um discurso político, afirmando que “todas as ações irão convergir para a preservação da vida”, e em nenhum momento apontou mudanças significativas no modelo de segurança pública vigente no estado. No máximo, “ajustes”, como no caso das UPPs.
Sá anunciou ainda que será instituída uma reunião periódica de avaliação de desempenho dos indicadores de criminalidade do estado do Rio, “com muito foco nas UPPs“, que, segundo ele, “seguem firmes e fortes” e permanecerão “com olhar muito mais atento e mais acurado”, visando ao seu fortalecimento, “porque assim a sociedade deseja e é um projeto exitoso”, que passará por ajustes, “à medida em que houver recursos”, e afirmou que “recursos humanos otimizados independem de dinheiro”.
O novo secretário assume a pasta com uma dívida de R$ 100 milhões, a maior parte referente a atrasos no pagamento de equipamentos para as polícias e a contas que não foram pagas. Ao abordar o foco na redução da letalidade violenta e controle da criminalidade, Sá enfatizou que sua gestão será pautada pela valorização do profissional de segurança pública. “Nosso soldado, lá da ponta, tem muito a contribuir nas discussões de segurança pública”, disse ele, que foi major da PM do Rio e deixou o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da corporação após se envolver em um caso de auto de resistência na favela de Manguinhos, na zona norte do Rio.
“Nós vamos focar e intensificar as investigações de armas de fogo e explosivos, notadamente fuzis, submetralhadoras e explosivos, que são as armas usadas na lógica dessa guerra não desejada por ninguém no Rio de Janeiro“, anunciou Sá, que chamou de “coalisão do bem” a estruturação dessas investigações e o alinhamento com as polícias. “Eu quero algo a exemplo do que era na DRAE [Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos], com foco nas armas e instrumentos bélicos utilizados na lógica do terror”.
Ele ignorou, entretanto, o fato de que as armas usadas na maior parte dos crimes violentos no estado do Rio são justamente as de pequeno alcance, como revólveres e pistolas – que representam um quarto das armas apreendidas pelas polícias Militar e Civil no Rio e são de calibre de uso exclusivo de autoridades, como policiais e agentes do Judiciário –, de acordo com pesquisa divulgada pelo Instituto Sou da Paz em setembro.
Ainda durante a coletiva, no Palácio Guanabara, o ministro da Justiça e ex-secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, afirmou que o Governo Federal dará “todo apoio possível ao Rio de Janeiro na questão da segurança pública” e focou o combate a homicídios e crime organizado. “A partir de uma reunião que tivemos no dia 31 de maio, com todos os secretários de Segurança Pública, de todos os estados, foram criados dois núcleos importantes para combate a homicídio, criminalidade organizada, a questão do tráfico de armas e do tráfico de drogas”, afirmou.
Os núcleos, de acordo com Moraes, foram criados logo no início do mês de junho e contam, respetivamente, com a participação de quatro secretários de Segurança Pública e de quatro procuradores gerais de Justiça dos Ministérios Públicos estaduais. “Com reuniões periódicas, nós iniciamos um mapeamento de todas as capitais, um mapeamento de inteligência de homicídios, onde ocorreu cada um dos homicídios no último ano, para que se tenha uma visão global das apreensões de armas, tanto as armas pesadas, que vêm, em sua grande maioria, do exterior, e as rotas já foram também analisadas, quanto as armas que geram os homicídios”, afirmou o ministro.