‘O policial pisou na minha perna e perguntava da arma, mas eu não tinha arma’

    Adolescente de 15 anos conta como foi baleado na perna e jogado em córrego por PMs no Complexo do Alemão; policiais afirmam que jovens atiraram e houve revide

    Adolescente de 15 anos foi alvejado na perna e abandonado na beira de um córrego na favela | Foto: Reprodução Facebook

    O adolescente de 15 anos que foi baleado na perna por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) e jogado ao lado de um córrego na região da Fazendinha, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, na terça-feira (30/10), passou por uma cirurgia e segue internado no Hospital Getúlio Vargas, na Penha. O estado de saúde é estável.

    Em entrevista à Ponte, o jovem conta que estava atravessando a ponte do valão, quando policiais militares deram 3 tiros para o alto. “Foi nesse momento que um policial virou para mim, olhou e simplesmente atirou na minha perna. Eles gritaram perguntando onde estava a arma”, disse o estudante da Escola Municipal Mourão Filho.

    “Pediram para eu mostrar a arma ou eu ia morrer. Mas eu não tinha arma nenhuma. Depois, um policial careca pisou na minha perna baleada. Eu caí no rio e quem me tirou de lá foi um colega que viu a cena toda”, completou. O vídeo confirma o relato do adolescente. É possível ouvir os policiais questionando: “Cadê a arma?” e o jovem responde: “Não tem arma”. Depois, um dos PMs segue: “Já foi preso? Então por que correu?”.

    Além das ameaças, a vítima conta que passou por humilhações diante das pessoas que presenciaram o que aconteceu. “O policial falou assim para as pessoas: ‘Quem quiser ajudar pode, porque eu não vou. Vamos deixar ele aí'”, completou. “Eu estava com um amigo também que não foi ferido. Tem minha idade e é trabalhador, tem filho. Meu pai, quando chegou no local, viu o policial pisando na minha perna”, acrescentou. “Ele ainda está muito assustado”, finalizou.

    O pai dele, Paulo, o acompanhou desde a terça-feira no hospital e disse que nunca pensou que isso fosse acontecer. “Graças a Deus ele está melhor”, afirmou.

    O caso gerou comoção na comunidade. Na terça-feira, alguns minutos após o ocorrido, o Coletivo Papo Reto já fazia a denúncia nas redes sociais. “É inaceitável um jovem levar um tiro e ser jogado na vala. Não podemos nos silenciar diante da covardia da violência policial nas favelas cariocas”, escreveu o coletivo junto ao vídeo e imagens do ocorrido. Nos comentários, alguns amigos do adolescente se pronunciaram repudiando o ocorrido e outros moradores do Alemão se queixaram da rotina de violência.

    https://www.facebook.com/ColetivoPapoReto/posts/1798107506982487?__xts__[0]=68.ARAvYKB75GZwEHECf_aJj1lRQnJB2aMZlarpzbF4-cJS3AdWSAV2WZ5L-Pt4CKxkFNyW9tkuMj2aO-j92puYiTc7miQCPcUSGl3VDTbSyc3GaIhllxzdDwywbX9KJPSLodkWBMEjW8ATos-Dl-cDiceo8-FKPrmJLQ3QRBy5iH7oQouD687Vr5JdBMWkHUAzdo1_WqXzJBwEApkyU6nHKVw3p6U&__tn__=-R

    Outro lado

    Em nota, a PMERJ informa que policiais da UPP Fazendinha, no Complexo do Alemão estavam se deslocando pela comunidade, quando foram surpreendidos por dois indivíduos armados em duas motos. “Houve troca de tiros. Na ação um deles ficou ferido e caiu dentro de um valão. O outro tentou fugir e acabou colidindo na viatura policial, porém não se feriu. Eles foram apreendidos e a ocorrência encaminhada à Cidade da Polícia, onde se encontrava uma vítima, reconhecendo um deles com autor do roubo da moto”, diz o comunicado oficial.

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