Ouvidoria apura morte que PM comemorou e não teve perícia em Osasco (SP)

    Para ouvidor das polícias, “é grave qualquer situação que prejudique a investigação do caso”; PM, filho de Coronel Telhada, que matou homem em suposto confronto, comemorou em redes ação “que evoluiu para óbito”

    Tenente Telhada mata suspeito e comemora em redes sociais: “A Caveira sorriu mais uma vez” | Foto: Reprodução

    A Ouvidoria das Polícias vai instaurar procedimento na quarta-feira (6/3) para acompanhar a investigação da morte de um homem negro em um suposto confronto com policiais do COE (Centro de Operações Policiais) da PM paulista, no sábado (2/3), em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. Na ocasião, o tenente Rafael Henrique Cano Telhada, que participou da ação, comemorou nas redes sociais: “O facínora tombou baleado e, socorrido, evoluiu a óbito. Graças ao bom Deus, todos os guerreiros do COE estão bem. A caveira sorriu mais uma vez”, escreveu em seu Instagram. O tenente é filho do deputado estadual Coronel Telhada (PP).

    “Nós vamos apurar tanto a questão da postagem do tenente quanto a da morte decorrente da intervenção policial”, declarou o ouvidor Benedito Mariano à Ponte. “É grave qualquer situação que prejudique a investigação do caso. Vamos solicitar todos os laudos, balístico, necroscópico”.

    Mariano se refere principalmente à ausência de perícia no local dos fatos, já que os policiais mexeram na cena do crime ao levarem corpo do suspeito ao hospital. O delegado Vinícius Brandão de Rezende, do 10º DP de Osasco, alegou que “em virtude de o local ser de difícil acesso, bem como de o corpo já ter sido retirado do local, não havendo, portanto, campo para perícia, deixou a Autoridade Policial de requisitar perícia para o local”, escreveu no B.O. (boletim de ocorrência).

    Segundo a versão dos policiais no documento, por volta das 8h do dia 2/3, os policiais Andrei Gonçalves e Adna Donizete Sampaio foram avisados por testemunhas de que haviam dois suspeitos de roubarem uma moto na altura do km 15 da Rodovia Presidente Castello Branco. A dupla afirma foi recebida à tiros por dois  dois homens que estavam numa moto Honda Hornet, que tentaram roubar uma outra do modelo Suzuki. Nesse momento, houve revide e um dos suspeitos teria fugido a pé em direção ao viaduto enquanto outro teria roubado um veículo GW/Montana. Um caminhão foi atingido pelos disparos. A moto foi recuperada e ninguém se feriu.

    Quando os policiais estavam registrando a ocorrência, o tenente Telhada apareceu na delegacia afirmando que tinha sido informado por testemunhas de que havia um suspeito roubando veículos nas proximidades e que “estava se escondendo na mata ao lado da rodovia”. Acompanhado dos PMs Rogerio Felix da Silva e Rodrigo Bolini, os três durante as buscas teriam avistado o suspeito, que teria atirado contra eles. No revide, o homem, que é negro, foi atingido com dois tiros no pescoço, um no peito e um no abdômem. O trio levou o homem ao Hospital Regional de Osasco, onde a morte foi constatada.

    Na delegacia, eles apresentaram uma arma que pertenceria ao suspeito e as roupas descritas pelos outros agentes que seriam compatíveis com as usadas pelo autor da tentativa do roubo. O outro suspeito não foi localizado. As armas dos policiais foram apreendidas.

    Para Ariel de Castro Alves, conselheiro do Condepe, o tenente “ao comemorar a ação configura como apologia ao crime” e o delegado pode responder por prevaricação ao não ter determinado a realização de perícia, já que pode prejudicar a investigação do caso. “Pode até ter ocorrido a tentativa de roubo da Moto suzuki, conforme as supostas vítimas disseram, mas não existe prova que de fato o rapaz assassinado teria sido o autor do crime, já que as vítimas sequer o reconheceram”, argumenta.

    Outro lado

    Procurada, a In Press, assessoria terceirizada da Secretaria de Segurança Pública, declarou que o caso está sendo investigado pelo Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa de Osasco e que a PM instaurou inquérito para apurar o ocorrido. Disse, ainda, que as corregedorias das duas instituições acompanham as investigações.

     

     

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