PCC investiu R$ 12 mil em campanha de vice do conselho de direitos humanos

    Facção criminosa tentou usar caso do PM Coringa para pedir indenização do Estado de São Paulo

    Luiz Carlos Santos, vice-presidente do Condepe - Foto: Divulgação/TJ-SP
    Luiz Carlos Santos, vice-presidente do Condepe – Foto: Divulgação/TJ-SP

    A facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) investiu R$ 12 mil na campanha de Luiz Carlos dos Santos, de 44 anos, para que ele fosse eleito vice-presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana). Em depoimento à Polícia Civil, Santos explicou que existiam duas chapas, uma para presidente e uma para vice. O dinheiro que recebeu da organização foi usado exclusivamente em sua chapa, isentando a presidente do conselho, Maria Nazareth Cupertino. Ele afirma que ninguém do Condepe sabia de seu envolvimento com a facção.

    Preso na manhã da última terça-feira (22), Santos confessou que presta serviços ao PCC desde 2014. Os policiais perguntaram ao vice-presidente do Condepe se ele pediu dinheiro à facção para gastos em sua campanha para a eleição. Ele negou, mas disse que acabou recebendo “quantias” para ser o presidente do conselho. No entanto, ele optou por se candidatar à vice-presidência porque às vésperas da eleição houve uma composição e porque havia assumido compromissos na frente da Comissão de Violência Policial, ficando sobrecarregado. Assim, afirmou ter indicado ao cargo de presidente Maria Nazareth.

    À reportagem, o Condepe nega a indicação e explica que o conselheiro Luiz Carlos dos Santos não tinha nem força dentro do conselho e nem voto para tal indicação.

    Um dos objetivos da facção criminosa ao cooptar Santos era fazer com que ele apresentasse, por meio do Condepe, denúncias de maus tratos em presídios contra o Estado de São Paulo e contra o Brasil em organismos internacionais de defesa dos Direitos Humanos, principalmente na CIDH (Corte Interamericana de Direitos Humanos), órgão autônomo ligado à OEA (Organização dos Estados Americanos), e também na ONU (Organização das Nações Unidas).

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    Luiz Carlos Santos também afirmou à Polícia Civil que recebia determinação da organização criminosa para promover publicidade dos casos envolvendo violência policial, como, por exemplo, as chacinas de Mogi das Cruzes, Carapicuíba e Osasco. Ele também recebia por promover audiências publicas no interior do Estado relacionadas as condições dos presídios paulistas.

    Em um dos casos revelados pela Ponte Jornalismo, do PM Coringa, que tirou fotos com uma máscara de palhaço, apontando um machado e uma arma contra a cabeça de um jovem negro na zona sul de São Paulo, o vice-presidente do conselho disse que recebeu determinações para mentir. Segundo ele, o advogado José Ribamar o procurou querendo relacionar o caso com um cliente dele, que pertence ao PCC e que é acusado de latrocínio de um policial civil.

    PM Coringa aponta machado contra a cabeça de jovem negro. Caso foi revelado pela Ponte Jornalismo
    PM Coringa aponta machado contra a cabeça de jovem negro. Caso foi revelado pela Ponte Jornalismo

    Após processo de verificação, foi constatado que não se tratava da mesma pessoa. Santos disse à Polícia Civil que ouviu os familiares do cliente de Ribamar na sede do Condepe e que eles informaram que o rapaz era mesmo o jovem que foi vítima do PM Coringa. A ideia da facção neste caso era ingressar com ação contra o Estado inserindo o cliente de Ribamar como se fosse aquele rapaz.

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    Para prestar esses serviços ao crime organizado, Luiz Carlos Santos recebia por mês, normalmente no dia 20, valores que variavam entre R$ 2 mil, R$ 4 mil, R$ 5 mil e R$ 8 mil. Os valores aumentavam à medida em que ele recebia novas atribuições do PCC. Como forma de prestação de contas, ele afirmou à polícia que tirava fotos de tudo e enviava à organização.

    O vice-presidente do conselho de direitos humanos revelou que tinha medo de ser preso pela ligação que mantém com o PCC desde maio de 2015, quando foi cumprido mandado de busca na casa e escritório da advogada Vanila Gonçales, investigada junto com seu irmão, Davi Gonçales, sob a suspeita de prestarem serviços à facção criminosa.

    Logo após sua prisão, ele afirmou que, na delegacia de Cotia, um homem branco, aparentando ter aproximadamente 35 anos, se aproximou da cela e disse para ele “prestar atenção” no que iria dizer. Ele não sabe se isso partiu de um advogado ou de um policial. Ele acredita que a ameaça partiu de algum ligado ao PCC e que conseguiu ter acesso ao local.

    Após a Ponte Jornalismo revelar que Luiz Carlos Santos confessou o recebimento da mesada do PCC, o Condepe informou que ele foi afastado do cargo de vice-presidente do órgão.

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