PCC vive primeiro racha interno desde a ascensão de Marcola à liderança

    Mortes de Gegê do Mangue e Paca, líderes assassinados em fevereiro de 2018, geraram insatisfação e questionamentos entre os integrantes, comandados desde 2002 pelo novo líder, segundo o MP

    Apontado pelo MP como líder do PCC, Marcola está preso em Brasília desde março | Foto: Reprodução

    O DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) investiga em marcha lenta, devagar quase parando, três assassinatos e o sumiço de um homem ocorridos em 2018 no Tatuapé, zona leste da cidade de São Paulo. Os crimes abalaram o bairro, palco de terror e de cenas dignas de ações da máfia, capazes de inspirar até cineastas como Francis Ford Coppola, diretor do premiado filme “Poderoso Chefão”.

    Afinal, os mortos eram ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), apontado pelo MP (Ministério Público) do Estado de São Paulo como a maior facção criminosa do país. As ações mafiosas tiveram início em fevereiro do ano passado e contribuíram para desencadear um dos maiores rachas internos da história do PCC.

    A divisão é tão grave quanto a de outubro de 2002, quando os fundadores José Márcio Felício, o Geleião, preso há quase 40 anos e o único dos criadores do Partido do Crime ainda vivo; e César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, foram excluídos da facção e Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, assumiu a liderança do grupo.

    O estopim da crise aconteceu em 15 de fevereiro de 2018, data dos assassinatos de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, dois cabeças do grupo que foram mortos a tiros em uma emboscada no Ceará. Segundo o Ministério Público Estadual, ambos foram acusados de desviar dinheiro da organização e acabaram decretados à morte por Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, maior traficante de drogas do país e braço direito de Marcola.

    Uma semana depois das mortes de Gegê e Paca, o até então tranquilo bairro do Tatuapé viveu momentos de pânico e a população ficou muito assustada. Na noite de 22 de fevereiro de 2018, o traficante de drogas Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, subordinado a Fuminho e denunciado à Justiça cearense pelas mortes de Gegê e de Paca, foi executado com tiros de fuzil na rua Eleonora Cintra, uma das mais movimentadas do Tatuapé.

    O MP apurou que Cabelo Duro foi atraído ao local por dois homens que o conheciam bem e eram seus amigos: Cláudio Roberto Ferreira, o Galo Cego, e José Adnaldo Moura, o Nado. Ambos eram ladrões de bancos e foram presos juntos pela Polícia Federal, na Operação Facção Toupeira, em setembro de 2006, quando planejavam roubar R$ 1,2 milhão de duas agências bancárias em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.

    Imagens de câmeras de segurança divulgadas pela imprensa mostraram dois homens atirando com fuzis em Cabelo Duro, ação ocorrida na porta de um hotel de luxo no Tatuapé. Mas o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), apontou apenas um homem como o autor do assassinato de Cabelo Duro: Galo Cego.

    Galo Cego, no entanto, foi morto com 70 tiros de fuzis na noite de 23 de julho de 2018 na rua Coelho Lisboa, no coração do Tatuapé. Nado, que morava na cobertura de um prédio também de luxo e no mesmo bairro, está sumido desde o assassinato de Cabelo Duro. Familiares de Nado acreditam que ele também foi morto. Porém, para o DHPP, não há registro do desaparecimento dele.

    A 1ª Promotoria do Júri da Capital, designada para acompanhar as investigações sobre a morte de Cabelo Duro, não ficou nada satisfeita com o trabalho do DHPP e pediu novas diligências. O inquérito policial está em segredo de Justiça.

    Além dos assassinatos de Cabelo Duro e de Galo Cego, o DHPP também não esclareceu o homicídio de Eduardo Ferreira da Silva, morto com ao menos 26 tiros em 10 de fevereiro de 2018. O crime aconteceu na rua Serra do Japi. Eduardo Silva ocupava uma Mercedes Benz. Os rumores são de que ele também era ligado ao Primeiro Comando da Capital.

    O Ministério Público Estadual acredita que Cabelo Duro foi morto por integrantes do PCC em vingança pelos assassinatos de Gegê do Mangue e de Paca. E também que Galo Cego e Nado, cujo corpo ainda não foi encontrado, foram mortos a mando de um preso da cúpula do PCC, como queima de arquivo, pois ele também estaria envolvido no desvio de dinheiro da facção junto com Gegê e Paca.

    Promotores de Justiça disseram à Ponte Jornalismo que esse preso não é Marcola, mas outro detento, cujo nome está no topo da hierarquia da organização e que corre sério risco de sofrer represália, o que pode causar um racha sem precedentes no PCC. Em 12 de julho de 2018, a Ponte revelou que as mortes  de Gegê do Mangue e Paca geraram insatisfação das ruas com Marcola.

    A exemplo do DHPP, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Segurança Pública, também em marcha lenta, quase parando, demorou três dias para dar uma resposta de cinco linhas aos questionamentos da Ponte sobre as investigações policiais dos crimes de 2018 no Tatuapé.

    A nota diz na íntegra: “A Polícia Civil esclarece que o inquérito policial que investigava o caso de Wagner Ferreira da Silva foi concluído e encaminhado à Justiça, com autoria esclarecida. Até o momento, não foi encontrado registro do desaparecimento de José Adnaldo Moura. Os demais casos continuam com investigações e diligências em andamento”.

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