Pichadores repudiam decisão que absolveu PMs acusados de assassinato em 2014

    Para grupo, juíza estimula que policiais ‘façam justiça com as próprias mãos’ ao inocentar os cinco acusados pela morte de Ailton e Alex

    Engrossando o coro do Ministério Público, que vai recorrer da decisão da última terça-feira (22/11), que inocentou os cinco policiais militares acusados de assassinarem Ailton dos Santos, 33 anos, e Alex Dalla Vechia, 32, em 2014, alegando legítima defesa, o Pixo Manifesto Escrito (PME) escreveu uma carta repúdio endereçada à juíza Débora Faitarone, responsável pela sentença. O grupo encerra o manifesto afirmando que, com a decisão, Débora dá um recado de permissividade à sociedade com relação ao policial que mata.

    A juíza disse mais uma vez para a polícia de SP: ‘Continuem matando, façam justiça com as próprias mãos’. Enquanto absolver os assassinos de farda for mais importante que a justiça para os nossos a tinta vai continuar gritando na cidade”, escreveu. O promotor de Justiça Tomás Radaman, que acompanhou o caso e fez a sustentação de acusação, apontando tanto as evidências de execução, quanto a alteração da cena e tentativa de forjar provas, quer levar o caso ao tribunal do júri.

    Para o PME, tanto Ailton quanto Alex sabem que o pixo é atividade criminosa, mas, ainda assim, foi lhes imputado um crime maior que não estavam cometendo e uma pena incompatível, a morte. Segundo o Código Penal e Lei de Crimes Ambientais, pichação é crime previsto no artigo 65 – Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano – e tem pena prevista de detenção de três meses a um ano e multa. Caso seja um patrimônio tombado, a prisão pode subir para seis meses. “Em uma decisão totalmente esquizofrênica, a Juíza entendeu que houve legítima defesa e considerou os cinco policiais militares inocentes de todas as acusações. O movimento da pixação está em luto e não vai se calar enquanto não houver justiça”.

    Na sequência, ressalta que a juíza desconsiderou provas e evidências de que os rapazes não estavam no interior do edifício Windsor para efetuar furtos e sim para pichar. “A juíza alega que os policiais têm boa fé e com isso ignorou provas materiais. A sentença diz que certamente nossos amigos estavam armados e com a intenção de roubar. Certamente não passa na cabeça da juíza que o objetivo de um pixador, ao invadir um prédio, não é levar nada mas deixar sua marca. O preconceito social dela é tão grande que a imparcialidade morre dentro daquela sentença pelo próprio tom em que foi escrita. A juíza escolheu um lado e foi o da polícia”.

    Em 2015, em entrevista à Folha de S.Paulo, a juíza Débora Faitarone chegou a admitir que é difícil condenar policiais. “Acusar um cidadão comum de assassinato é complicado, mas um policial é ainda mais. Porque um policial, quando decide se tornar criminoso, é muito mais perigoso”, disse, à época.

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