‘Pluralidades’: Caê Vasconcelos estreia coluna na Ponte com temática LGBT+

Jornalista vai abordar cultura, gênero e relatar a própria vivência como homem trans. “Nada mais ‘direitos’ humanos do que a gente se ver representado na música, no cinema, no audiovisual”, diz

Jornalista Caê Vasconcelos é autor do livro Transresistência: Pessoas Trans no Mercado de Trabalho. | Foto: Allan Fernandes/Instagram Caê Vasconcelos

Celebrar a vida, a arte e o trabalho de pessoas LGBT+ é o que propõe a nova coluna de Caê Vasconcelos, Pluralidades, que estreia nesta quarta-feira (18) na Ponte Jornalismo. O jornalista passa a colaborar semanalmente com artigos que dão visibilidade à luta e às conquistas de pessoas trans, trazem dicas culturais, reflexão intersecional sobre gênero e raça, e principalmente, contam sua própria vivência como homem trans.

Foi no período em que trabalhou como repórter da Ponte, entre 2017 e 2021, que Caê anunciou e começou sua transição de gênero. Nos últimos dois anos, ele escreveu sobre algumas de suas experiências mais marcantes neste processo constante que vive, relatando como foi se alistar ao Exército, ser o primeiro jornalista trans a ocupar a bancada do programa Roda Viva e passar pela mastectomia. Hoje, ele vive novos desafios profissionais trabalhando como editor na ESPN Brasil e deve lançar neste ano a primeira agência de jornalismo feita por pessoas transvestigêneres.

“Uma coisa que eu percebi com a transição é que o que eu tinha para falar era importante de ser ouvido. A gente está em um momento, ainda em 2022, que poucas pessoas trans tem acesso efetivamente aos espaços e conseguem ter sua voz ouvida. A galera está aí falando dentro de suas áreas, nas redes sociais, mas acho que o jornalismo tem um potencial que é diferente das outras áreas. As artes conseguem funcionar de uma forma, o esporte de outra, outras profissões também”, pontua.

Agora como parte da equipe de colaboradores, o jornalista diz que se sente “em casa” ao aceitar o convite: “saber que eu tenho esse espaço na Ponte, que é um site que eu sou absurdamente fã e que devo muito da minha formação como jornalista e como ser humano nesse tempo que trabalhei como repórter. É uma honra poder voltar como colunista”.

Cria da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da capital paulista, Caê sempre se preocupou em pautar a editoria LGBT+ com uma perspectiva periférica, representativa e focada nos direitos humanos e tornou-se referência na profissão. Fruto do seu Trabalho de Conclusão de Curso, o livro Transresistência: Pessoas Trans no Mercado de Trabalho, lançado no fim do ano passado pela editora Dita Livros, destaca como a transfobia estrutural dificulta o acesso de pessoas trans à direitos básicos como saúde, moradia, educação e trabalho.

Para tratar de todas estas questões, o jornalista diz que é fundamental ter responsabilidade, conhecimento da luta do movimento LGBT+ e, mais do que denunciar a violência LGBTfóbica no país, falar da existência dessa população. Já no texto de estreia da coluna, Caê faz uma resenha da série Heartstopper, da Netflix, que conta a história de amor dos adolescentes Charlie e Nick.

“Nada mais ‘direitos humanos’ do que a gente se ver representado na música, no cinema, no audiovisual, seja qual parte da arte e da cultura que a gente está falando. Então, [a coluna] vai funcionar muito nisso. Vou querer trazer muito do Caê nesses textos, da minha trajetória enquanto jornalista, comunicador, ser humano”, conta.

Essas conquistas pessoais, segundo ele, são impactos de uma luta coletiva e de sua transcestralidade. “Não é porque a cisgeneridade quer. É uma porta que a gente teve que chutar muito forte. Enquanto tiver um de nós na marginalidade, só tendo a prostituição como única fonte de renda, tiver em situação de vulnerabilidade social, estiver sofrendo no cárcere por exemplo, a gente tem ainda que lutar.”

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Ao mesmo tempo que vê um avanço nesse debate, Caê diz que ainda há uma reprodução da transfobia por parte da imprensa quando corpos trans são invisibilizados em assuntos como o acesso ao atendimento ginecológico e a maternidade. “Vou fazer questão de pontuar sempre que eu ver, pois a gente não pode esquecer que a imprensa é feita de pessoas que estão na sociedade e que a sociedade ainda é extremamente transfóbica. Lá em 2013, quando eu entrei na faculdade, eu dizia que queria mudar o mundo pelo jornalismo e hoje eu percebo que tenho conseguido, mesmo que seja um mundo pequeno de uma pessoa que lê aquele texto e diz ‘aprendi, não vou mais reproduzir essa transfobia’, já é o maior prêmio que eu posso ter”, conclui.

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