PM de folga é suspeito de matar campeão mundial de jiu-jitsu

Leandro Lo foi baleado na cabeça após uma discussão em um clube na cidade de São Paulo; com base em reconhecimento por foto, Polícia Civil pediu prisão do tenente Henrique Otávio Oliveira Velozo

Leandro Lo, 33, levou disparo na cabeça em clube após discussão, segundo a polícia | Foto: reprodução/Instagram

O campeão mundial de jiu-jitsu Leandro Lo Pereira do Nascimento, 33 anos, foi morto na madrugada deste domingo (7/8) dentro do Esporte Clube Sírio, no Planalto Paulista, na zona sul da capital paulista. Uma testemunha identificou por foto o tenente da Polícia Militar Henrique Otávio Oliveira Velozo, 30, como sendo o autor dos disparos, após uma discussão entre os dois.

A discussão ocorreu no clube, durante um show do grupo de pagode Pixote, por volta das 2h. Segundo o boletim de ocorrência registrado no 16º DP (Vila Clementino), testemunhas contaram que o desentendimento começou quando um homem desconhecido pegou uma garrafa de bebida da mesa onde Leandro Lo estava reunido com amigos. O lutador usou um golpe de luta para derrubar e imobilizar o homem. Os amigos de Leandro separaram os dois e pediram para o esportista “deixar quieto”. O outro homem, porém, deu a volta na mesa, sacou uma arma e atirou na testa de Leandro.

Após atirar, o assassino ainda deu dois chutes na cabeça da vítima antes de fugir. Mais tarde, a polícia apresentou a uma das testemunhas fotos de pessoas que haviam entrado no clube com arma de fogo naquela noite e ela reconheceu, “com 90% de chance de ser o autor”, o tenente da PM Henrique Otávio Oliveira Velozo, que estava de folga.

A assessoria de imprensa da Polícia Militar disse que foi acionada às 1h57 e que a vítima foi socorrida ao Hospital Municipal Dr. Arthur Ribeiro de Saboya, onde morreu. À Ponte, a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde declarou que não foi autorizada a fornecer informações sobre o estado de saúde e as causas da morte do lutador.

A Secretaria da Segurança Pública inicialmente informou que que apura os fatos por meio de inquérito policial, e que foi solicitada a prisão preventiva (por tempo indeterminado) do tenente, que ainda não foi localizado. “A Polícia Militar lamenta o ocorrido. A instituição instaurou uma apuração administrativa e colabora com as buscas para localizar o autor”, diz a nota. O caso foi registrado como tentativa de homicídio.

Atualizado às 21h – Mais tarde, uma outra nota da Segurança Pública afirmou que o tenente Velozo se entregou, no final da tarde, na Corregedoria da PM e de lá foi levado para o Presídio Romão Gomes, especializado em detentos policiais.

À noite, um grupo de amigos de Leandro e lutadores de jiu-jitsu de reuniu diante do 17º DP, no Ipiranga (onde o caso foi registrado na prática, já que o 16º DP está em reforma), onde gritou palavras de ordem e pediu justiça. Imaginando que o tenente Velozo estava na delegacia — informação não confirmada pelo governo—, foram para cima de policiais civis do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) que faziam a segurança do local, mas foram repelidos com spray de pimenta e bombas.

A Confederação Brasileira de Jiu Jitsu Esportivo lamentou a morte em seu perfil no Instagram. “A CBJJE, presta homenagem e reverência a quem ajudou e inspira tantas pessoas a vestirem o kimono pelo mundo. Seu nome está na relação dos beneméritos de nossa entidade. Condolência a família e legião de alunos, assim como toda a classe do Jiu Jitsu”.

Leandro Lo foi campeão mundial de jiu-jítsu por oito vezes. A mais recente foi em 2022, pela categoria meio pesado, e a primeira em 2012, de peso leve, e cujos títulos lembrou nas redes sociais. “As duas conquistas mais importante da minha carreira, o primeiro é a sensação de conseguir ser campeão mundial, esse foi eu ainda consigo ser campeão mundial, as duas melhores sensações da minha vida”, escreveu, em junho deste ano.

Já o tenente Henrique Otávio Oliveira Velozo está lotado no Comando de Policiamento de Área Metropolitana 5 (CPA/M-5) desde julho deste ano. O perfil dele no Instagram foi excluído poucas horas após o caso ganhar repercussão.

A Ponte não conseguiu localizar o PM nem amigos e familiares do lutador. Pelo Instagram, o Esporte Clube Sírio, onde aconteceu o crime, lamentou o ocorrido e disse que está colaborando com as autoridades responsáveis para que “o incidente seja esclarecido o mais rápido possível”. O grupo Pixote também se solidarizou com familiares e amigos da vítima.

Esporte Clube Sírio e Grupo Pixote postaram notas nos stories do perfil do Instagram | Foto: Reprodução

Reportagem atualizada às 16h36, de 7/8/2022, para incluir nota do grupo Pixote, e às 21h, para informar que o policial havia se entregado

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