PM de SP faz desocupação com bombas, balas de borracha e prende líder do MTST

    A área, abandonada há 40 anos, estava ocupada havia um ano e meio por cerca de 700 famílias. Advogados e ativistas tentaram adiar a ação

    Fotos e vídeos: Claudia Belfort/Ponte Jornalismo

    Numa ação que contou com a violência habitual e terminou com a prisão do presidente do MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), Guilherme Boulos,  a Polícia Militar de São Paulo executou, na manhã desta terça-feira, um mandado de reintegração de posse da Ocupação Colonial, em São Mateus, zona leste de São Paulo. A área, abandonada há 40 anos, estava ocupada havia um ano meio por cerca de 700 famílias, que passaram a noite em vigília. Líderes comunitários, advogados e ativistas tentaram adiar a ação, mas os oficiais de Justiça foram irredutíveis.

    Poucos minutos depois das 8h da manhã, 190 policiais e dois blindados da Tropa de Choque da PM avançaram pela rua André de Almeida usando balas de borracha, bombas de efeito moral, spray de pimenta e jatos de água. Os moradores atearam fogo em barricadas, houve corre-corre, choro e desespero. O presidente do MTST, Guilherme Boulos, que participou das tentativas de negociação, foi detido, acusado de incitação à violência.

    Boulos e outros ativistas conversaram durante uma hora com Oficiais de Justiça pedindo que esperassem a apreciação de um pedido feito pelo Ministério Público ao Tribunal de Justiça,  de suspensão da reintegração. “Fui colocar para o oficial de Justiça que seria razoável esperarem o resultado desse julgamento, porque agora à tarde pode o juiz determinar que não tinha que ter tido a reintegração”, afirmou Boulos no 49ª Distrito Policial (São Mateus), para onde foi levado. “Foi uma prisão evidentemente política”, disse.

    Os moradores da Ocupação Colonial receberam a notificação da reintegração há uma semana. Segundo um dos advogados que assistem à comunidade, Benedito Barbosa, foram apresentados diversos recursos, todos negados. Ele também denuncia que as famílias não foram cadastradas em projetos de habitação.

    Noite tensa

    Na comunidade a noite foi tensa, enquanto parte das famílias empacotava seus pertences e retiravam crianças e animais do local, outras preparavam uma barricada com pneus e entulho. Muitos, como a aposentada Maria de Lurdes Ramos, 70 anos, e Pâmela, não tinham para onde ir e permaneceram na imediações. Assista aos vídeos.

    Mãe a gente vai voltar para a rua?

    Na véspera da desocupação, a dona de casa Pâmela Cristina Silva, 28 anos, se desesperou ao ouvir a filha de 8 anos perguntar: mãe, a gente vai voltar para a rua? Abandonada pela mãe, Pâmela passou a morar nas ruas aos 7 anos, depois de fugir da casa da tia que a espancava. Em 2015, mudou-se para a comunidade onde acreditava que teria uma vida mais tranquila, longe dos maus-tratos e perigos que sofreu durante quase 17 anos de abandono. Sua resposta foram lágrimas.

    Assista:

    Prisão

    A prisão de Guilherme Boulos gerou uma série de reações de ativistas e políticos.

    O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) disse, em nota, que “o trato das questões sociais como caso de polícia é criminoso e é uma afronta aos direitos constitucionais da população brasileira”.

    O deputado Ivan Valente, do PSOL, postou em seu Twitter que “Uma justiça elitista, uma polícia de Alckmin truculenta agem p/ impedir negociação e deixam milhares sem moradia. A LINHA é danem-se os pobres”.

    O Senador Roberto Requião, do PMDB, também se manifestou no Twitter: “Guilherme Boulos é um militante que está dando um testemunho de solidariedade aos pobres e marginalizados do país. Solidariedade a Boulos!”.

    Polícia Militar

    Em nota, a Polícia Militar informou que “após tentativa de negociação dos oficiais com as famílias, não houve acordo. Os moradores tentaram resistir hostilizando os PMs, arremessando pedras, tijolos e rojões. O grupo ainda montou três barricadas com fogo. A Tropa de Choque avançou e dispersou o grupo utilizando o caminhão com jato d’água, bombas de efeito moral e spray de pimenta. Os bombeiros apagaram as chamas e a via foi liberada. Os caminhões entraram nos terrenos para continuidade no cumprimento da ordem judicial”.

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