PM joga bombas em moradores de assentamento e deixa feridos, denuncia MST

    Governo de Romeu Zema (Novo) cumpre terceiro dia de reintegração de posse no Quilombo Campo Grande (MG) e policiais fazem live no Facebook para se defender

    Integrante do MST é atendido após ação da PM |Foto: Divulgação/MST

    Policiais militares de Minas Gerais jogaram bombas em moradores do Quilombo Campo Grande, do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), na cidade Campo do Meio, em Minas Gerais. A tropa tenta fazer reintegração de posse do terreno.

    Há tensão desde a manhã de quinta-feira (13/8), quando aproximadamente 200 policiais chegaram ao local para remover os moradores. São duas áreas diferentes alvo de processo, com o espaço menor sendo objeto da reintegração em curso.

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    Três famílias moram no terreno de 52 hectares onde também ficava a Escola Popular Eduardo Galeano, demolida na quinta-feira, e parte da plantação do café Guaíi, que foi incendiada, segundo o movimento, pelos policiais. A corporação nega, diz que os próprios manifestantes incendiaram a vegetação e o dono do terreno que derrubou a escola.

    Já a outra área abriga as outras quase 450 famílias e não há determinação para retirada.

    Nesta sexta-feira (14/8), os policiais usaram bombas para retirar as pessoas que resistem à reintegração pelo terceiro dia seguido. Segundo o MST, há feridos, mas o movimento não detalhou quantos e quais os ferimentos. Imagens mostram fotos do atendimento às pessoas.

    “A polícia acaba de nos atacar, jogou bomba, fogo… Nós pedimos ajuda com urgência”, diz uma das manifestantes que está no Quilombo Campo Grande. “Que desespero, pelo amor de Deus. Nunca vi uma coisa dessas”, desabafa outra em áudio enviado pelo WhatsApp.

    Conforme relato dessa mulher, os policiais jogaram bombas, que feriram parte das pessoas, o que gerou “desespero, pessoas caindo”. “Tem muita gente machucada, crianças sumiram [na correria]”, diz.

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    A defesa do MST entrou com uma ação no Superior Tribunal de Justiça para tentar barrar a reintegração. Desde 1998, a chamada massa falida da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), uma usina de cana-de-açúcar que decretou falência no final dos anos 90, busca retomar a posse do terreno, ocupada pelo MST.

    bombas jogadas pelos PMs nos manifestantes | Foto: Divulgação/MST

    O advogado Nei Strozake, 53 anos, que defende o MST, explica que há investidas semanais da Capia para tirar as pessoas do quilombo. “A Capia tem investido com petições, reclamações, mas existe decisão da Justiça mineira de que as famílias devem permanecer. Tem acordo, de 2008, para as famílias de funcionário da Capia viverem ali”, aponta.

    Mobilização pela internet

    Enquanto a reintegração de posse ainda era feita em Campo do Meio, o perfil oficial da Polícia Militar de Minas Gerais no Facebook iniciou uma live. No canal, o cabo Cabo William Maia e a capitã Layla defenderam a ação policial. Segundo eles, não havia outra decisão a tomarem, caso contrário, a corporação responderia judicialmente por desobediência.

    “Em momento nenhum queremos desalojar ninguém na pandemia. Questionamos ao juiz, mas houve necessidade, a determinação judicial. E quem segue a lei? O bom cidadão. Aquele que é correto sabe que nós não tínhamos opção”, explicou Layla. Em sua fala, ela destacou que era preciso “entender a responsabilidade de um policial militar nesse momento”.

    https://www.facebook.com/policiamilitardeminasgerais/videos/605546107016552/

    Ainda durante a transmissão on-line, a capitã destacou a “resistência e agressividade” das famílias que permaneceram no local. Em certo momento, criticou o fato de terem crianças no local. “Esses manifestantes tiveram a coragem de levar crianças para o front”, disse.

    “Infelizmente, alguns resistiram e nós tivemos, inclusive tentativas governamentais. Algumas pessoas comentaram aqui: ‘Era só não cumprir a ordem’. Se fosse tão simples, senhores, não estaríamos cumprido. Imagina desrespeitar um juiz?”, questiona a oficial da PM-MG, dizendo que o “alicerce da corporação” é os direitos humanos e que é fácil “ir no Twitter falar mal”, se referindo às postagens feitas pelo MST na rede social.

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    O governador Romeu Zema já havia adotado o mesmo discurso, de que nada tinha a ver com a reintegração e de que, inclusive, desejava que ela fosse suspensa.

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