PM do Rio matou jovem caído que pedia socorro, dizem testemunhas

    José Vieira da Silva Neto, 17 anos, foi morto durante operação do Batalhão do Choque no Morro da Providência

    José Vieira da Silva Neto, de 17 anos, morto por policiais no Morro da Providência. Foto: Arquivo pessoal

    Terminou em morte uma operação do Batalhão de Choque da PMERJ (Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro), que teve início na manhã de sábado (25/3), na Providência, favela situada no morro de mesmo nome, localizado entre os bairros do Centro, Santo Cristo e da Gamboa, na região central da capital fluminense. José Vieira da Silva Neto, de 17 anos, foi baleado e morto por policiais militares, segundo testemunhas.

    Segundo um morador, o tiroteio começou por volta das nove horas da manhã. No final da tarde, quando PMs haviam “invadido uma casa no morro para fazer uma emboscada”, um grupo de jovens correu ao ver o Caveirão (veículo blindado da PM) se aproximando.

    Ao correrem, os jovens foram alvo de disparos dos policiais que estavam na laje da casa invadida, de acordo com testemunhas, que também afirmaram ter presenciado o momento em que José foi atingido e, sangrando, pediu socorro.

    “Ele foi baleado, caiu no chão e queria ajuda, mas eles ainda atiraram, mesmo ele baleado no chão, continuaram atirando nele para executá-lo”, relata um morador. “Os policiais mesmo colocaram ele num lençol e o levaram para o Hospital Souza Aguiar”, completa, que ressalta que os jovens não trocaram tiros com os policiais.

    O laudo do IML (Instituto Médico Legal) aponta, como causa da morte de José, ferimento transfixante dos pulmões e artéria aorta com hipovolemia (diminuição anormal do volume do sangue de um indivíduo) provocado por projétil de arma de fogo.

    Laudo do IML. Foto: Arquivo pessoal

    “Ele sempre me pedia bênção”

    Tio do jovem, Cosme Felippsen lamenta sua morte em entrevista à Ponte. “Ele foi meu primeiro sobrinho. Eu amava ele bastante”, diz. Na voz do homem, também morador do Morro da Providência, há um tom paternal.

    “Sempre foi brincalhão, bem-humorado. Eu o ensinei a me pedir a bênção e ele sempre me pedia”, completa o tio.

    Cosme Felippsen, tio de José, segura-o no colo pela primeira vez quando o sobrinho era recém-nascido. Foto: Arquivo pessoal

     

    Cosme Felippsen com o sobrinho na praia anos atrás. Foto: Arquivo pessoal

    Outro lado

    Questionada pela reportagem sobre as circunstâncias em que José foi morto, a assessoria da Polícia Militar enviou a seguinte nota:

    “Segundo informações do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), policiais militares realizaram operação no Morro da Providência, na região central da cidade do Rio, no sábado (25/03). Durante incursão na comunidade, as equipes do BPChq foram recebidas a disparos de arma de fogo efetuados por homens armados e houve confronto. Após cessar a situação, dois homens feridos foram encontrados com duas pistolas calibre 9 mm e um rádio transmissor, sendo socorridos ao Hospital Municipal Souza Aguiar, onde vieram a óbito. Um terceiro suspeito foi detido com uma mochila contendo 200 papelotes de cocaína, 135 papelotes de maconha, 110 pedras de crack e 39 pinos de cocaína. A Delegacia de Homicídios foi acionada”.

    Carteira de identidade de José Vieira. Foto: Arquivo pessoal

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas