‘A polícia matou meu irmão e um PM disse: ‘menos um lixo no mundo”

Policial teria informado a investigadores que Thales Jasmineiro Souza, morto com dois tiros na terça (25) na zona sul de São Paulo, estaria armado, mas família nega que ele tivesse arma

Thales Jasmineiro foi morto por policial militar na Favela Alba | Foto: Arquivo pessoal

A ida até uma favela para comprar maconha terminou com a morte do dono de hamburgueria Thales Jasmineiro Souza, 33 anos. O jovem foi assassinado a tiros por um sargento da polícia militar dentro da Favela Alba, no Parque Jabaquara, zona sul da capital paulista.

Eram por volta das 22h15 de terça-feira (25/5) quando Thales, o irmão Luis Carlos e um amigo resolveram seguir da residência da vítima, localizada nas imediações da estação do metrô Conceição, até a comunidade, um percusso de cerca de dois quilômetros. Naquele dia, segundo Luis, o estabelecimento não chegou a ser aberto.

À Ponte, o auxiliar de cozinha Luis Carlos Jasmineiro Souza, 29, irmão da vítima, contou que parou o carro na Rua da Mina, quando seu irmão saltou e adentrou em uma das muitas vielas no local. Justamente para não chamar atenção, conta que passou a dar voltas nas ruas que margeiam a favela enquanto seu irmão buscava a maconha. Na segunda volta, informou ele, o local já estava cercado de carros de polícia.

Familiares e amigos protestaram pela região do Jabaquara no domingo (30/5) | Foto: Arquivo pessoal

Preocupado, ele resolveu ver o que acontecia e saiu à procura de Thales. Sem localizar o paradeiro do irmão, mas já prevendo que algo tinha acontecido devido à demora e à presença de vários policiais, pediu para que o amigo fosse buscar a mãe de ambos enquanto permanecia levantando informações.

“Fiquei naquele desespero e ninguém me respondia nada. Meu amigo saiu para buscar minha mãe, nisso subiu um corpo na maca. Aquele corpo saiu no Resgate”, explicou. O jovem conta que foi impedido por policiais de chegar perto do homem socorrido. Em um momento, segundo ele, chegou a ouvir de um PM que “é menos um criminoso no mundo, é menos um lixo no mundo”.

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Levado ao Hospital Arthur Ribeiro de Saboya, o popular PS Jabaquara, Thales não resistiu aos ferimentos e morreu. Segundo Luís Carlos, funcionários do local informaram que seu irmão já chegou sem vida. No entanto, a família só teve a confirmação da morte na manhã de quarta-feira (26/5), no IML Sul, no bairro do Brooklin. O homem foi enterrado dois dias após sua morte no cemitério Vila Alpina, na zona leste.

“Os relatos que consegui colher na favela é que meu irmão foi confundido com uma pessoa que era do tráfico. No sábado passado [anterior a morte de seu irmão] ocorreu um tiroteio no local e que a polícia voltou lá como represália”, frisou Luis Carlos.

Uma semana após a morte, a família de Thales Jasmineiro Souza ainda não tem informações oficiais sobre o caso, já que ainda não teve acesso ao boletim de ocorrência.

A Ponte apurou junto à Polícia Civil que PMs da Força Tática do 3º BPM/M (Batalhão de Polícia Militar Metropolitano), informaram que faziam uma incursão no interior da comunidade e em dado momento depararam-se com um indivíduo armado, o qual ao perceber a aproximação dos policiais fez menção de que iria disparar contra a equipe. A fim de evitar a suposta agressão, sargento Tavares efetuou dois disparos que atingiram Thales. O DHPP investiga o caso e deve receber familiares do jovem nesta quarta-feira (2/6).

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Pai de uma menina pequena, a qual estava sempre agarrado, Thales Jasmineiro de Souza abriu uma hamburgueria há seis meses. Seu irmão conta que ele não estava armado no dia da sua morte, e que a vítima era uma pessoa “tranquila, da paz”. “Meu irmão nunca usou arma. Há cerca de cinco anos teve um problema com a Justiça, furto de som de carro. Ficou praticamente uma semana preso, depois fez serviço comunitário.”

Familiares e amigos de Thales realizaram um protesto, caminhando da estação Conceição do metrô até a Favela Alba na tarde do último domingo (30/5). Foram confeccionadas camisetas e cartazes com o rosto de Thales, algumas delas com o homem em frente ao estádio Urbano Caldeira, a Vila Belmiro, já que era torcedor do Santos. Durante todo o percurso houve gritos de “queremos justiça”. A manifestação se encerrou no ponto em que moradores da favela contaram onde Thales foi alvejado, na beira de um córrego.

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Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) encaminhou uma nota simples em que alegou que “todas as circunstâncias relacionadas aos fatos são investigadas por meio de inquérito policial instaurado pela 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Homicídios, do DHPP. A autoridade atua em busca de elementos que auxiliem no esclarecimento do caso”.

ERRATA: Uma versão anterior deste texto informava que o trio de amigos havia ido até a favela após deixar a hamburgueria. Na verdade, segundo Luis Carlos Jasmineiro, eles deixaram a casa de Thales para seguirem atá a Favela Alba. A informação foi corrigida às 12h17 do dia 04/6/2021

Correções

ERRATA: Uma versão anterior deste texto informava que o trio de amigos havia ido até a favela após deixar a hamburgueria. Na verdade, segundo Luis Carlos Jasmineiro, eles deixaram a casa de Thales para seguirem atá a Favela Alba. A informação foi corrigida às 12h17 do dia 04/6/2021

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