PM paulista matou menos em janeiro, mas ainda deixa um morto a cada 12 horas

    No mesmo período, os homicídios dolosos saltaram 7% em relação a janeiro de 2020. Já a letalidade policial vem caindo após ter batido todos os recordes, em abril do ano passado

    Familiares de jovem morto pela PM em protesto na zona leste de SP, em novembro de 2020 | Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

    Em janeiro deste ano, a Polícia Militar do Estado de São Paulo matou 29% a menos em relação ao mesmo mês de 2020. Foram 60 mortos (53 por PMs em serviço e o restante por policiais de folga), conforme dados publicados pelo Centro de Inteligência da corporação no Diário Oficial do Estado deste sábado (27/2). Em janeiro de 2020, foram 84 vítimas das chamadas “mortes decorrentes de intervenção policial”, 76 no horário de serviço.

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    Apesar da queda, a letalidade policial segue alta, com uma pessoa morta pelo braço armado do Estado a cada 12 horas. Em janeiro, as mortes nas mãos da polícia respondem por 17% das pessoas assassinadas em São Paulo.

    Letalidade policial chegou ao auge em abril e depois caiu

    A queda na letalidade policial vem sendo observada desde maio do ano passado. Antes disso, a PM do governo João Doria (PSDB) bateu todos os recordes em abril daquele ano, mês em que matou 116 pessoas, o maior número já registrado na história. Naquele mês, a cada três pessoas assassinadas no Estado, uma foi morta pela PM, considerando o total de homicídios dolosos e mortes decorrentes de intervenção policial.

    Em janeiro, de todas as pessoas assassinadas em SP, 17% foram mortas pela PM; em abril, foram 30%

    Para a diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, a advogada e socióloga Carolina Ricardo, a queda da letalidade policial é resultado de uma mobilização da sociedade, que se refletiu em medidas adotadas pelo governo priorizando a redução dos casos de mortes cometidas por policiais.

    Ela destaca que, sobretudo no segundo semestre do ano passado, houve uma mudança no discurso adotado por João Doria, que deixou de lado as falas contrárias aos direitos humanos, que mencionavam “mandar bandidos para o cemitério”, entre outras declarações contrárias aos direitos humanos. “Agora, espero que essa seja uma tendência e que siga sendo prioridade do governo, porque matar nunca deve ser a melhor opção”, afirma Ricardo.

    Leia também: Declarações de Doria ‘contribuem para o aumento da letalidade policial’

    Já o professor da Fundação Getúlio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Rafael Alcadipani afirma que a queda no número de mortes cometidas pela PM em supostos confrontos se deve ao “trabalho sério” do coronel Fernando Alencar Medeiros, comandante da Polícia Militar paulista.

    Homicídios em alta

    Ao mesmo tempo, as estatísticas do Centro de Inteligência da PM apontam para um aumento de 7% no número de vítimas de homicídios dolosos (com intenção de matar) em janeiro de 2021 em relação ao primeiro mês de 2020. Ao todo, 296 pessoas foram assassinadas em janeiro deste ano no Estado. O índice não considera as mortes cometidas pela polícia.

    Embora baixo para os padrões nacionais, número de homicídios aumenta em SP

    O primeiro mês de 2021 registrou a pior marca em homicídios dolosos para os meses de janeiro desde 2017, quando 310 pessoas foram mortas. Desde então, São Paulo registrou uma queda no indicador em 2018 (277 vítimas), alta em 2019 (284) e nova redução em 2020 (277).

    O professor Alcadipani considera a alta de homicídios “muito preocupante”, porque “parece que São Paulo está revertendo uma tendência histórica dos últimos 15 anos de reduzir os homicídios”. Ele avalia que a gestão João Doria precisa entender o motivo do aumento desses casos para que volte a reduzir. “Está virando uma tendência no Estado e nós não estamos vendo nenhuma ação concreta do governo com relação a essa questão. Não tem um mapeamento, uma análise mais detalhada, ações policiais específicas nas áreas onde acontece esse aumento de homicídios”, aponta.

    Leia também: Doria tenta se desvincular de mortes e abusos da polícia, avaliam movimentos sociais

    Para Carolina Ricardo, o aumento no número de homicídios dolosos “acende uma luz amarela, mas ainda não dá para dizer que é uma tendência”. Ela destaca que, neste momento, é importante monitorar os casos e fazer investigações para esclarecer esses crimes, entender o fenômeno e adotar medidas mais efetivas para impedir que a alta continue. 

    O que diz o governo

    Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública diz que os casos de homicídios dolosos são alvos de estudo e que o aumento “foi impactado principalmente pelas ocorrências de conflitos interpessoais entre conhecidos, no interior do Estado”.

    “Apesar do crescimento, o Estado segue com a menor taxa de casos e vítimas de homicídios dolosos por grupo de 100 mil habitantes do país: 6,49 e 6,81, respectivamente”, afirma.

    A Secretaria afirma que o Governo paulista tem compromisso com a vida, “razão pela qual medidas para a redução de mortes são permanentemente estudadas e implementadas pela pasta”. A nota ainda destaca que “a quantidade de pessoas mortas em confronto com policiais militares em serviço vem caindo de maneira consistente no Estado”. 

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