PM que forjou confronto ao vivo tem 4 mortes no currículo

    Claudinei Francisco de Souza participou de duas supostas resistências seguidas de mortes. Com as vítimas fatais, foram encontradas armas calibre 38 com numeração raspada e cartuchos deflagrados
    Reprodução/BO
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    O policial militar Claudinei Francisco de Souza, de 39 anos, lotado no 12o BPM (Batalhão da Polícia Militar), da Força Tática, flagrado forjando um confronto ao vivo nesta terça-feira (23/06), já participou de duas supostas resistências seguidas de mortes, sendo uma delas com indícios de confronto forjado. Ao todo, em supostas reações, o policial já tirou a vida de quatro suspeitos, duas em 2012 e duas em 2014.

    Em 6 de janeiro de 2012, o PM, da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas), e outros cinco agentes do Estado atingiram 14 vezes contra três suspeitos de terem roubado um carro em uma área nobre de São Paulo. Dois morreram e um ficou internado. Com as vítimas fatais, foram supostamente encontrados dois revólveres com sete cartuchos deflagrados ao todo. Nenhum policial ficou ferido.

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    De acordo com o BO (Boletim de Ocorrência), ao qual a Ponte Jornalismo teve acesso, um carro, modelo Ford Fusion, cor preta, foi roubado em um posto de gasolina na rua Ribeiro do Vale, no Itaim Bibi, zona oeste da cidade. O sargento Camilo dos Santos Moraes, do 12o BPM, da Força Tática, que compareceu ao 14o DP (Distrito Policial), em Pinheiros, para registrar a ocorrência, afirmou que, ao saber do caso, se dirigiu ao local com dois cabos e um soldado da PM.

    De lá, souberam que os suspeitos foram em direção à avenida Nações Unidas e deram início a uma perseguição sabendo apenas o modelo do veículo e que o último número da placa era 4. Quando chegaram na avenida, um carro com as mesmas características já havia sido interceptado por dois PMs da Rocam, entre eles, Claudinei Francisco de Souza.

    Inicialmente, o sargento afirmou em depoimento que havia quatro suspeitos dentro do veículo. Depois, foi constatado que tinha três pessoas. Todos os suspeitos foram baleados. Dois, antes de o sargento chegar.  “Quanto aos outros indivíduos, o depoente [o sargento Camilo] soube que ambos haviam sido baleados na troca de tiros com os policiais da Rocam”, segundo o boletim de ocorrência do caso.

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    Um dos baleados pelos policiais que chegaram primeiro, de 16 anos, morreu após ter sido atingido por seis tiros: um na cabeça, um no tórax, um na perna direita, um na mão direita e dois na mão esquerda. O outro, de 23 anos, baleado cinco vezes – braços, tórax, joelho e tornozelo -, foi levado ao Hospital das Clínicas. “Sendo o mesmo submetido a intervenção cirúrgica, não sendo possível sua oitiva”, complementa o BO.

     De acordo com o depoimento do sargento, um dos suspeitos saiu de uma das portas traseiras com arma em punho e atirando contra o próprio sargento e o cabo Edmir Cabral de Araújo, do 12o BPM, da Força Tática, assim que eles chegaram. Os policiais teriam revidado. Cada um disparou duas vezes, contra o rapaz de 17 anos, que foi atingido três vezes, sendo duas no tórax e uma no braço. O suspeito teria sido socorrido ainda com vida ao Hospital Bandeirantes, na rodovia Raposo Tavares, onde não resistiu aos ferimentos.

    Em 15 de dezembro de 2014, outras duas pessoas foram mortas em uma ação em que Claudinei Francisco de Souza estava envolvido. Na rua Professor Guilherme Belfort Sabino, Campo Grande, zona sul de São Paulo, Julio Bezerra da Silva e uma vítima não identificada foram mortas em um suposto confronto. O Boletim de Ocorrência do caso, número 14.863/2014 foi registrado no 11º DP (Distrito Policial), em Santo Amaro.

     O ouvidor da Polícia de São Paulo, Julio Cesar Neves, afirmou à Ponte que “se houve uma primeira vez, ele já deveria ter saído da Polícia Militar”.

    “Muita gente me disse que ele tinha uma conduta exemplar dentro da corporação. São várias as situações que chegaram para a gente, na Ouvidoria, sobre o policial. Talvez, a conduta ‘exemplar’ seja essa. As duas situações, de 2012 e de terça-feira passada, devem ser apuradas com rigor. Se houve uma situação semelhante, não era mais para ele estar no quadro da Polícia Militar”.

    Momento em que o PM atira nos homens já caídos. Um deles está com as mãos levantadas (Foto: Reprodução/TV)
    Momento em que o PM atira nos homens já caídos. Um deles está com as mãos levantadas (Foto: Reprodução/TV)

    Integrante da Comissão de Direitos Humanos da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), o deputado Coronel Telhada (PSDB) publicou em sua conta no Facebook que estava “verificando a situação”. “Ele não está preso na Corregedoria conforme foi publicado. Estou a caminho do CPAM-2, zona sul, quartel do Cabo De Souza, para saber se ele se encontra por lá”, escreveu na rede social.

    Um policial do 12º BPM afirmou, em um áudio restrito a policiais militares no aplicativo Whatsapp: “Realmente, ele [Telhada] veio, conversou aqui, fez um QSO com o cabo De Souza, e graças a Deus a palavra do homem ainda tem um peso forte, né? O cabo De Souza está sendo liberado agora. O Coronel Telhada veio aí, conversou com o Coronel, fez as ligações dele aí e o cabo De Souza está sendo liberado. Tá indo pra sua casa aí, depois desse sofrimento, né? Injusto”, disse.

    Procurada desde a última quinta-feira (25), a SSP (Secretaria da Segurança Pública) se posicionou sobre o caso à Ponte Jornalismo apenas no dia 3 de julho. “A Polícia Militar esclarece que o policial foi preso administrativamente, num primeiro momento, para facilitar a produção de provas do inquérito policial-militar instaurado. Não havendo mais motivo para a manutenção da prisão disciplinar, o PM foi colocado em liberdade, na data de 25 de junho, sendo certo que será mantido no serviço administrativo enquanto perdurarem as investigações”, afirmou a pasta, em nota.

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