PMs invadem casas e agridem moradores da Favela do Moinho, segundo testemunhas

    Dois homens foram presos em comunidade do centro da cidade de SP; moradores relatam aumento de violência policial em meio à pandemia

    Moradores registraram policiais da Rocam em frente a casa de homem que foi detido | Foto: Arquivo Ponte

    Moradores da Favela do Moinho, a única do centro da cidade de São Paulo, denunciam a intensificação de ações repressivas de policiais no local. Neste sábado (16/5), num intervalo de oito horas, dois homens foram detidos dentro da comunidade.

    Segundo testemunhas, que preferem não se identificar por medo de represálias, Gabriel Silva Conceição, 19 anos, foi agredido por quatro PMs por volta das 11h. “Fecharam ele num beco e começaram a dar chute, golpe de cassetete e levaram na viatura, não disseram pra onde”, conta uma mulher.

    Em ligação ao 2º DP (Bom Retiro), a reportagem confirmou que a detenção foi feita por agentes do BAEP (Batalhões de Ações Especiais), conhecida por ter um padrão Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa mais letal da PM paulista. O modelo de atuação foi expandido na gestão de João Doria (PSDB) .

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    Testemunhas declararam que, por volta das 18h50, policiais da Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) invadiram a casa de Wildson Ferreira Vitorino, 35 anos, e o levaram para a delegacia. “A esposa dele disse que eles entraram na casa, falando que iam levar ele e que se ela não parasse de chorar e gritar que ia levar ela também”, disse à Ponte um outro morador que acompanhou a esposa de Wildson.

    Há pouco mais de 15 dias, os moradores foram recebidos com bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta por PMs após protestarem contra a prisão de três rapazes, quando um deles teria sido arrastado “bastante ferido” pelas ruas do Moinho. Também denunciaram que os policiais têm entrado nas casas sem mandado e destruído móveis e ameaçado moradores que tentam registrar as ações.

    Dois dos três rapazes presos na ocasião foram soltos na última quarta-feira (13/5), após decisão da Justiça. Eles estão sendo investigados por tráfico de drogas. A Ponte tentou procurar familiares, mas não quiseram dar entrevista por medo de represálias.

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    De acordo com o advogado Vitor Goulart Nery, do Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns, projeto da PUC-SP que presta assessoria jurídica popular e gratuita, a intensificação de incursões policiais durante a pandemia não acontece apenas na Favela do Moinho. “O que a gente tem observado nas 54 comunidades que a gente atua é uma escalada da violência policial, que é um tema muito sensível, porque a gente está a prestes de entrar num lockdown [isolamento total] e não sei como essas comunidades vão ficar”, aponta.

    De acordo com Vitor, com relação a Wildson, tinha um mandado de captura que não foi apresentado pelos policiais no momento da detenção, o que deveria ter sido feito.

    A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos na gestão João Doria (PSDB). Em nota, sobre a prisão de Gabriel, a InPress, assessoria de imprensa terceirizada da pasta, informou que a PM deteve um homem por tráfico de drogas e que teria sido apreendida com ele “uma bolsa com algumas porções de drogas, que foram encaminhadas para perícia”. O rapaz foi levado ao IML (Instituto Médico Legal) para realização de exame de corpo de delito e que a ocorrência seria registrada no 2º DP.

    A Ponte procurou novamente a SSP sobre a prisão de Wildson, mas até a publicação não havia retornado.

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