PMs são investigados por participação em chacina em Santa Catarina

    Irmão de policial militar baleado na noite anterior aos crimes é um dos suspeitos por assassinato de sete pessoas em Joinville, em dezembro de 2015

    Alexandre Mauro Padilha foi baleado na noite anterior aos crimes em um bar do bairro Adhemar Garcia, a poucos quilômetros dos locais de três das seis mortes
    Alexandre Mauro Padilha foi baleado na noite anterior aos crimes em um bar do bairro Adhemar Garcia, a poucos quilômetros dos locais de três das seis mortes. Foto: Reprodução.

    Por Adrieli Evarini,
    especial para a Ponte Jornalismo

    Seis assassinatos em um intervalo de três horas em dois bairros da Zona Sul de Joinville aconteceram menos de 24 horas após o policial militar Alexandre Mauro Padilha ter sido baleado na mesma região – ele faleceu dez dias depois no Hospital Municipal São José. Seis homicídios com características de execução entre 3h30 e 6h30 do dia 6 de dezembro de 2015.

    O inquérito, que foi ajuizado na 1ª Vara Criminal da Comarca de Joinville e corre em segredo de Justiça, investiga dois agentes da Polícia Militar por possível participação nas mortes de Ederson Bonette Barbosa, 32 anos, Adão Pereira da Silva, 37 anos, Daniel Alves de Lima, 32 anos, Diogo da Rocha Garbari, 27 anos, Alex Muniz Evaristo, 28 anos e André Manolo Corrêa, 35 anos.

    André Mauro Padilha, irmão do policial alvejado e também policial militar lotado no 17º BPM (Batalhão de Polícia Militar), é um dos suspeitos. Ele já estava afastado do trabalho operacional na madrugada das mortes e, em 24 de maio deste ano, foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo em operação da Polícia Civil de cumprimento de mandado de busca na casa dos investigados.

    Foi a segunda prisão do policial militar pelo mesmo crime. Em fevereiro deste ano, André já havia sido detido pela Polícia Militar por porte ilegal de arma. De acordo com a corregedoria da Polícia Militar, o processo administrativo contra ele está em fase recursal. A decisão preliminar do Conselho de Disciplina determina a exclusão do policial, que apresentou dois recursos. O primeiro foi negado e a decisão mantida, agora, o novo recurso está sob análise da Procuradoria Geral do Estado.

    O outro suspeito é o PM Daniel Bueno Júnior, que também foi preso em flagrante em 24 de maio por porte ilegal de armas, além de manter em sua residência medicamentos de uso proibido. Padilha foi liberado no mesmo dia, após pagamento de fiança. Já Daniel passou a noite detido e, após audiência de custódia no dia seguinte, foi colocado em liberdade. Ele está afastado há cerca de 45 dias do trabalho operacional no batalhão, também por responder a processos administrativos, segundo a corregedoria.

    Sobrado na rua Guanabara, bairro Fátima, foi palco de duplo homicídio. As mortes de Adão Pereira da Silva e Ederson Bonette Barbosa foram as primeiras daquela madrugada | Crédito: Carlos Junior/ND
    Sobrado na rua Guanabara, bairro Fátima, foi palco de duplo homicídio. As mortes de Adão Pereira da Silva e Ederson Bonette Barbosa foram as primeiras daquela madrugada | Foto: Carlos Junior/ND

    O major Ricardo Ribeiro, da 5ª RPM (Região de Polícia Militar), explica que a suspeita em relação aos dois policiais militares surgiu após a investigação da chacina pela Polícia Civil. “O que podemos dizer é que, sempre que há a suspeita de participação de policial, existe a apuração. Quando o caso é grave, a dedicação é ainda maior. Estamos contribuindo ao máximo com as investigações”, explica.

    Segundo o major, no entanto, não há provas contundentes da participação de Padilha e Bueno nos crimes de dezembro. “Se surgir um elemento claro da participação de algum policial militar nos crimes, vamos tomar as providências internas no sentido de apurar até mesmo a questão funcional desse policial”, ressalta.

    Desde o começo das investigações, comandadas pelo delegado Fabiano Silveira, da Delegacia de Homicídios nenhuma linha de investigação foi descartada. Nos dias que se seguiram à chacina, autoridades vinculadas à Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina afirmaram que a principal hipótese para o crime era a de disputa entre facções criminosas pelo comando do tráfico de drogas na cidade. De acordo com o delegado Fabiano Silveira, as investigações, que já duram seis meses, não comprovaram o envolvimento das vítimas com tais organizações. Segundo Silveira, elas foram escolhidas aleatoriamente.

    A possibilidade de os crimes terem sido uma represália aos três tiros que atingiram – e posteriormente foram a causa da morte – o policial militar Alexandre Mauro Padilha na madrugada do dia 5 de dezembro em um bar do bairro Adhemar Garcia, distante poucos quilômetros do local de três assassinatos, não era descartada já em dezembro. Segundo testemunhas que não serão identificadas por segurança, Adão Pereira da Silva, executado ao lado de Ederson Bonette Barbosa em um sobrado na rua Guanabara, bairro Fátima, por volta das 3h30 – os dois foram os primeiros a serem mortos –, possuía estreita relação com a família do adolescente que disparou contra Alexandre na noite anterior.

    A relação entre os crimes foi reforçada em fevereiro deste ano, após o laudo balístico apontar que uma mesma arma, de calibre 380, foi utilizada nas seis mortes. Ainda segundo o delegado, pelo menos três pessoas teriam participado da execução das seis vítimas. Para ele, a ausência de testemunhas e a “ausência de nexo causal lógico entre as mortes das vítimas do bairro Paranaguamirim e do bairro Fátima” fazem com que as investigações se tornem ainda mais complexas. Silveira destaca ainda que nos dias seguintes ao caso, várias denúncias foram realizadas através do Disque 180 da Polícia Militar e todas elas foram verificadas pela equipe de investigação. Porém, com o passar do tempo, as denúncias desapareceram.

    Apesar da complexidade do caso e da dificuldade de se encontrar mais testemunhas, o delegado Fabiano Silveira é taxativo ao afirmar que enquanto os autores não forem identificados, a investigação continuará. “Há empenho do mais absoluto comprometimento dos órgãos envolvidos no caso. Essa investigação não tem prazo para acabar. Enquanto os autores não forem identificados, a investigação vai continuar”, enfatiza.

    Chacina provocou terror na Zona Sul da cidade

    O relógio marcava 3h30 de 6 de dezembro de 2015 quando os destinos de Ederson Bonette Barbosa e Adão Pereira da Silva se cruzaram, de forma trágica. Os dois foram mortos a tiros, ajoelhados e virados para a parede de um sobrado em construção da rua Guanabara, bairro Fátima. Adão e Ederson foram as duas primeiras pessoas assassinadas naquela madrugada. A sequência das mortes ainda não foi revelada, mas perto do local onde os dois foram executados, Alex Muniz Evaristo foi morto com um tiro no pescoço. A rua Vasco da Gama, onde o corpo foi encontrado, em via pública, fica a alguns metros do sobrado que foi palco das primeiras mortes.

    Delegado Fabiano Silveira afirma que investigações não vão parar enquanto autores não forem identificados | Crédito: Fabrício Porto/ND
    Delegado Fabiano Silveira afirma que investigações não vão parar enquanto autores não forem identificados | Foto: Fabrício Porto/ND

    Também na Zona Sul de Joinville, no bairro Paranaguamirim, antes das 6h30 daquele domingo testemunhas que ouviram cerca de cinco disparos de arma de fogo entraram em contato com a Polícia Militar, que encontrou os corpos de Daniel Alves de Lima e Diogo da Rocha Garbari, também em via pública, na avenida Kurt Meinert. Próximo dali, André Manolo Corrêa foi morto dentro de casa, na frente da mulher e do filho. O assassino ainda tentou colocar fogo na residência, deixando a mulher de Corrêa com queimaduras pelo corpo.

    Em 2015, o município catarinense registrou o mais alto índice de homicídios de sua história. Foram 125 mortes violentas atribuídas pelas autoridades de segurança pública, em sua maioria, a uma suposta guerra entre facções criminosas. Em 2016, uma operação conjunta entre as polícias foi realizada para tentar frear a onda de violência, mas, até o último dia do mês de maio, já haviam sido registradas 52 mortes violentas, a maior parte delas na Zona Sul.

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