‘PMs desrespeitaram resolução ao jogar corpo e remover cápsulas’

    Ouvidor das polícias afirma que resolução que impede PMs de mexerem na cena do crime e determina que Samu seja acionado para prestar socorro foi desrespeitada no caso do carroceiro Ricardo Silva Nascimento

    PMs tiraram o corpo do local do crime antes da chegada da perícia | Foto: reprodução de vídeo

    Houve uma série de erros nos procedimentos tomados posteriormente pelos policiais militares envolvidos na morte do carroceiro Ricardo Silva Nascimento, 39 anos, critica o ouvidor das polícias de São Paulo, Júlio César Fernandes Neves. O crime aconteceu no dia 12/7, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.

    “Os policiais desrespeitaram frontalmente a resolução 5 de 7 de janeiro 2013. Ela estabelece parâmetros aos policiais que atendem ocorrências. Jogaram o corpo na traseira da viatura e também retiraram as cápsulas”, critica Neves à Ponte Jornalismo.

    A resolução citada traz uma série de medidas quando há feridos decorrente de ação policial. Nestes casos, a recomendação é para os policiais acionarem imediatamente o Samu para prestar socorro, bem como avisarem o Copom e o Cepol da ocorrência.

    Segundo testemunhas, foram cerca de 15 minutos entre os disparos do policial militar José Marques Medalhano, de 23 anos, até a remoção do corpo para a traseira da viatura, realizada pelos próprios policiais.

    Protesto organizado por carroceiros criticou a polícia pela morte de Ricardo | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    “É obrigação dos policiais preservar o local até a chegada da perícia, zelando para que nada seja alterado, especialmente o cadáver. Ocorreu justamente o contrário neste caso. Na frente de todo mundo, jogaram o corpo do carroceiro na traseira da viatura, descaracterizando a cena do crime. São indícios ruins da atitude desses policiais para que a ocorrência não fosse averiguada com rigor”, sustenta o ouvidor das polícias.

    O cabo Medalhano, seu parceiro e a guarnição de Força Tática envolvidas na ação foram afastados pela SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo), comandada pelo secretário Mágino Alves Barbosa Filho, do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

    O DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) instaurou inquérito para apurar o caso. Testemunhas já foram ouvidas pelos investigadores. Dezenas de pessoas foram ao local do crime, na rua Mourato Coelho, próximo ao cruzamento com a rua Teodoro Sampaio, em ato organizado pelo movimento de catadores Pimp My Carroça.

    Uma das testemunhas, segundo Neves, teve o celular tomado por um dos policiais envolvidos na ocorrência e vídeos da atuação da PM foram apagados. Uma denúncia contra o cabo e os demais envolvidos ficou de ser feito por esta pessoa, mas até a publicação desta reportagem isso não havia acontecido.

    “Esta testemunha fez cirurgia no dedo esta noite (quarta-feira) por causa do rasgo, estava muito feio. Ele foi muito intimidado por eles. Os policiais não podem, de forma alguma, pegar o celular de uma pessoa e apagar os dados”, explica Júlio César.

    Ricardo foi homenageado durante protesto pela sua morte | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Procurada, a SSP, através de sua assessoria de imprensa terceirizada, CDN Comunicação,  se limitou a retransmitir, às 19h56 do dia 14/7, nota divulgada à imprensa no dia 13/7. “Vale reiterar que todas as circunstâncias do fato serão investigadas por meio de inquérito policial militar instaurado pelo 23º BPM/M, que também é acompanhado pela Corregedoria”, sustenta.

    A pasta não respondeu até a publicação desta reportagem os seguintes questionamentos feitos pela Ponte:

    Os policiais removeram as cápsulas de balas da cena do crime?
    Cápsulas de qual calibre foram anexadas às provas da investigação?
    A perícia averiguou possíveis alterações da cena do crime?
    Comprovada a alteração da cena, o quanto as investigações foram comprometidas?
    De acordo com a resolução 5, os PMs não podem interferir na cena do crime e vídeos mostram policiais colocando o corpo de Ricardo na traseira de uma viatura. Quais punições possíveis em casos como este?
    Foi prestado socorro ao carroceiro, bem como feito aviso pelo Copom e o contato junto ao Samu?

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