Policiais fazem campanha contra entrevistas à imprensa

    Depois de pedirem que seus colegas de trabalho não façam gravações de policiais em ‘situação constrangedora’, agentes lançam a ‘Operação Silêncio’ e exigem que policiais não falem mais com jornalistas

    20150224123830MVIv6gaSTy

    Depois de policiais terem feito campanha no Facebook e por meio do Whats App para que agentes em “situação constrangedora” não fossem filmados, uma nova campanha começa a ganhar força nos grupos restritos da rede social e do aplicativo. Batizada de “Operação Silêncio”, a campanha pede para que nenhum policial dê entrevistas à imprensa.

    O “slogan” criado para a campanha é: “Policiais que se valorizam exigem respeito e não dão entrevista”. Um policial militar que age na zona leste de São Paulo, e que pediu para não ser identificado, afirmou que a ação começou a se espalhar nesta segunda-feira (23/2). “É uma forma da gente se precaver, porque muitas vezes distorcem as ações policiais. Colocam a gente como o bandido”, disse à reportagem da Ponte Jornalismo.

    Equipes de “jornalismo policial” de televisões já começaram a ser afetadas pela campanha. Nesta semana, o apresentador Luciano Faccioli, que trabalha na TV Jornal, afiliada do SBT, esperava uma entrevista com um policial sobre um caso de violência. Ao vivo, os policiais se recusaram a falar. O apresentador ainda informou que a assessoria de imprensa explicou que os policiais não falariam por causa da “Operação Silêncio”.

    contaimprensa1

    contraimprensa2

     

    Contra filmagem de colegas

    Reportagem da Ponte Jornalismo revelou, em janeiro deste ano, que policiais fizeram uma campanha pedindo que seus colegas de trabalho não gravassem agentes em “situação constrangedora”. A ação também foi feita por meio de grupos restritos no Facebook e no Whats App. São dois os principais tipos de “situações constrangedoras” gravadas pelos policiais. O primeiro, e mais constante, é divulgado como um troféu – e ultrapassa os limites da dignidade humana. Trata-se de imagens de agentes torturando psicologicamente suspeitos ou de fotografias de acusados de terem cometido algum crime mortos em suposto confronto. São considerados atos de bravura e heroísmo entre os policiais, mas a veiculação dessas atitudes acabou virando prova para punir os próprios policiais.

    O segundo tipo de gravação contestada nos grupos restritos diz respeito à falhas e omissões cometidas por profissionais da polícia. No mês passado, por exemplo, um policial militar que estava dormindo em pé foi gravado por seu colega de trabalho durante a madrugada e, depois, virou motivo de piada. O PM que gravou foi afastado. “Isso se chama cuspir no prato que come. Se estiver vendo uma situação incompatível com decoro da classe, chame a atenção dele. Não jogue no Facebook para todos os PMs se ferrarem”, afirmou um policial em um dos grupos restritos à época em que a campanha foi divulgada. “Somos a única classe que produz prova contra nós mesmos”, disse outro agente. Depois de a campanha ter sido disseminada, mais nenhum vídeo de policial em “situação constrangedora” vazou.

     

    contraimprensa3

     

    Leia mais:
    Policiais fazem campanha no Facebook contra filmagem de colegas
    Jovem pede socorro antes de ser alvejado por PMs na zona sul de SP
    Afastados, PMs que executaram jovem com 10 tiros serão investigados
    MP-SP só vai investigar PMs que executaram jovem em 2015
    PMs que executaram jovem com 10 tiros não devem voltar à corporação

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas