Ponte é finalista do Prêmio Vladimir Herzog com Colabora e Amazônia Real

    Série ‘Sem Direitos’ concorre na categoria multimídia do principal prêmio jornalístico do país

    Bruna Silva ergue a camiseta usada pelo seu filho, Marcus Vinícius, no dia em que foi morto | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    A Ponte Jornalismo, em série jornalística realizada em conjunto com o Projeto #Colabora e a Amazônia Real, é finalista do 41° Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. A série de reportagem “Sem Direitos: o rosto da exclusão social no Brasil” foi classificada entre as melhores do ano na categoria Multimídia.

    Ponte, Colabora e Amazônia Real contam em seis reportagens histórias de brasileiros que vivem cotidianamente com a falta de garantias básicas para a vida. Dos mais de 209 milhões de brasileiros, quase dois terços da população estão excluídos da educação, da moradia adequada, do saneamento básico, da proteção social e da internet.

    Além dessas violações, há a negação do direito à vida com os inúmeros casos de violência policial. Um deles é o de Bruna Silva, mãe de Marcus Vinícius, adolescente de 14 anos morto após ser baleado pelas forças da intervenção federal na segurança pública Rio de Janeiro, em 20 de junho de 2018. A repórter Carolina Moura, colaboradora da Ponte e integrante do Colabora, conta a história de Bruna junto de Fausto Salvadori, repórter, editor e um dos fundadores da Ponte.

    “Para mim, sem dúvida, é uma honra estar dentro dessa série finalista de um prêmio importante que trata direitos humanos, uma temática que gosto de cobrir. Descobri dentro do jornalismo que é isso que gosto de fazer. Espero que tenhamos mais braços para seguir fazendo essas pautas que denunciam realidades muitas vezes invisibilizadas”, comenta Carolina.

    Salvadori vai além. Para ele, além de dar voz para quem historicamente é marginalizado na sociedade, ter a violação de direito vivido por Bruna na final de uma premiação como o prêmio Vladimir Herzog é uma esperança de que respostas sejam dadas. “Tomara que a indicação ajude a chamar atenção para o maior dos crimes, o assassinato de um filho, que o Estado do Rio praticou com Bruna Silva. E que ainda aguarda justiça”, comenta o cofundador da Ponte Jornalismo.

    A Ponte foi vencedora do prêmio Vladimir Herzog em 2017 com a reportagem “Moradores do Moinho falam em rotina de repressão da PM, um mês após morte de jovem”, feita por Claudia Rocha. O minidocumentário em áudio de 15 minutos revela a forma como a PM reprime moradores da Favela do Moinho, usando como fio condutor da narrativa a morte de Leandro de Souza Santos, no dia 27 de junho de 2017.

    Além dessa conquista, o ilustrador Junião acumula um prêmio e uma Menção Honrosa no Vladimir Herzog, conquistados nos anos de 2005 e 2006, respectivamente. Em 2013, o repórter Fausto Salvadori recebeu Menção Honrosa na categoria “Impresso” pela reportagem “Em busca da verdade”, publicada na Revista Apartes.

    O repórter fotográfico Daniel Arroyo, quando soube da divulgação dos finalistas do Prêmio Herzog, foi direto para a categoria “Fotografia” e viu que seu nome não estava lá. Bateu uma sensação de “poxa, poderia estar ali”. Na cabeça dele, não havia outra forma de seu trabalho ser lembrado no prêmio a não ser ali. Foi quando o avisaram no grupo de WhatsApp da Ponte que o Sem Direitos estava concorrendo na categoria “Multimídia”.

    Arroyo relembra do dia em que cobriu o ato no qual Bruna cobrou o Estado pela morte de seu filho. “Quando ela chegou, deu tempo só de dar play no vídeo. Isso foi muito pesado, ela falando que era inimiga do estado. Em cinco minutos ela disse mais que muita gente em anos de luta. Era algo recente, não dava um mês da morte do Marcos Vinícius, e ela tirou a camiseta que ele usava. Naquela hora eu dei alguns cliques”, conta. “Fique impressionado com a força dela, de algo recente e ela super sabendo como devia ir atrás, que precisava cobrar. ‘Se sou eu que não educo direito, o Estado vem me cobrar. Agora estou cobrando o Estado por ter tirado meu filho’. Lembro bem dessa frase”, relembra Daniel.

    Para o fotojornalista, a indicação à final do Herzog já é uma conquista pessoal e para a Ponte em si. “O mais legal é estar ao lado de muita gente que já tem esse prêmio, chegar ao passo de entrar para o clube do Junião e do Fausto, da Ponte em si, é surreal. A Ponte merece, não porque sou da Ponte, é porque vemos o corre de todo mundo no dia a dia. É mais do que merecida a indicação”, comemora.

    Da ideia à prática

    A série “Sem Direitos” contou com a participação de Carolina Moura, Catarina Barbosa, Edu Carvalho e Fausto Salvadori, feita com imagens e vídeos de Daniel Arroyo, Pedrosa Neto e Yuri Fernandes e infográficos de Fernando Alvarus. Os dados presentes no material foram extraídos da Pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE 2017 e 2018.

    Idealizadora do projeto, Adriana Barsotti, do Colabora, explica como teve a ideia. “Eu tinha pouca experiência com jornalismo de dados. Primeiro eu li relatórios do IBGE e, a partir desses documentos, fui pedindo várias planilhas para o pesquisador até chegar aos números que estão nos infográficos das reportagens”, contou Adriana ao site do projeto, exaltando a parceria com a Ponte e Amazônia Real. “O principal dessa matéria foi não nos encararmos como concorrentes, encaramos o outro como parceiros. Isso fez total diferença. Conseguimos, com orçamento limitado, ir a outros estados e cidades baseados nesse conceito: um não é adversário do outro. Unimos forças para fazer o melhor jornalismo possível”, acrescentou.

    A visão é compartilhada por Katia Brasil, da Amazônia Real. “Destaco essa parceria entre iniciativas independentes, como nós no front da Amazônia, onde desigualdades sociais são gritantes, violações de direitos ocorrem cada vez mais, como neste ano”, explica a profissional, que fundou a iniciativa em 2013 com outras jornalistas mulheres.

    Atualmente, a Amazônia Real conta com 30 colaboradores remunerados para investigar de forma independente questões nos nove estados em que a Amazônia está presente. “Esta indicação vem fortalecer nossa vontade de dar visibilidade a essas questões. E também fortalece nossa parceria, que começou com o ‘Sem Direitos’. São histórias muito chocantes. Infelizmente, no nosso país as pessoas vivem nessa situação de penúria, sem educação, moradia, e o Brasil não conhece isso”, comenta Katia.

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