PonteCast | ‘Desvendar mistério das ossadas é garantir direito à memória’

    No episódio 46, entrevistamos Deborah Neves, autora do parecer de tombamento do prédio do Doi-Codi, próximo de terreno onde foram encontradas ossadas

    Quando a Ponte divulgou a história de que 6 ossadas supostamente humanas foram encontradas na Rua Abílio Soares, a menos de 200 metros da antiga sede do Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), no Paraíso, zona sul de São Paulo, pesquisadores e militantes que cuidam da memória e verdade sobre os horrores da ditadura militar lançaram um sinal de alerta. Muitas perguntas ainda precisam ser respondidas.

    No episódio 46, entrevistamos a historiadora Deborah Neves, autora do livro “A persistência do passado” e do parecer sobre o tombamento do prédio do ex-Doi-Codi, onde hoje funciona o 36º DP (Paraíso), e coordenadora do GT (Grupo de Trabalho) Interinstitucional Doi-Codi, que tão logo soube da reportagem, lançou uma nota pedindo investigação sobre o caso. Assinam a nota Deborah Neves (Coordenadora do GT), Núcleo Memória, Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, Instituto Vladimir Herzog, Centro de Arqueologia e Antropologia Forense CAAF/Unifesp, LEA/UNIFESP, “Núcleo de Estudos e Pesquisas em Arqueologia e Antropologia Forense”/Unifesp, Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (LAP/Nepam/Unicamp), Dr. Andrés Zarankin (Dep. de Antropologia e Arqueologia – UFMG), Dra. Silvana Rubino (Dep. História, IFCH/Unicamp).

    “A proximidade geográfica entre o local dos fatos e das dependências do Doi-Codi (Rua Tutoia, 921) nos coloca em estado de atenção em virtude da possibilidade de haver vinculação entre esses corpos e as recorrentes e sistemáticas violações de Direitos perpetradas por aquele órgão entre 1969 e 1983. Lá, ao menos 5 mil pessoas foram interrogadas, muitas das quais permaneceram detidas ilegalmente, sofrendo torturas, levando 52 pessoas à morte”, diz trecho da nota divulgada no dia 13/12, um dia depois de nossa reportagem.

    Em entrevista ao PonteCast, Deborah conta um pouco do trabalho do GT, do processo de pedido de tombamento do Doi-Codi e da intenção de que lá fosse instalado um museu. “A gente recebeu a notícia com certo receio, mas ao mesmo tempo com cautela, porque a gente queria saber qual o tipo de ocupação que teve no terreno ao longo dos anos. Nós estamos desde 2018 debatendo a ocupação daquele espaço”, contou Deborah.

    Para ela, é preciso apurar até o fim a história das ossadas, além de ser um bom momento para cobrar a remoção da delegacia do local e a instalação de um local de preservação da memória, reivindicação antiga de organizações que estudam o regime militar.

    “A segurança pública é uma coisa importantíssima, mas o direito ao patrimônio e à memória também são. A conversão daquele espaço em espaço de memória e reflexão serve também para pensar o modelo de segurança pública que ainda persiste em nossa sociedade. É um espaço que poderia servir para que a gente pudesse pensar o quanto a segurança pública é importante e o quanto ela pode ser usada contra o cidadão. E que isso não é mais admissível ou não deveria ser depois do fim da ditadura e com redemocratização e nova constituição que nos trouxe tantos direitos e garantias”, afirmou.

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