Sargento baleado em assalto é o 100º PM morto este ano no Rio

    Desde 1994, em todos os anos o número de policiais mortos passou de 100 no Estado


    O sargento Fábio José Cavalcante e Sá, lotado em Magé, no Rio, foi morto a tiros após uma tentativa de assalto na manhã deste sábado (26/8), no município de São João de Meriti. Ele se tornou o centésimo policial morto este ano no estado.

    O assassinato ocorre um dia após a comemoração do Dia do Soldado, que é uma homenagem a Duque de Caxias, chamado de “o Pacificador”. Nesse dia, em nota à corporação, o Comandante Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, coronel Wolney Dias, já havia feito uma análise do grave quadro da violência no Estado, chamando a atenção para a proximidade dessa marca para os soldados e oficiais, a quem chama de “pacificadores”.

    “Nossos policiais estão sofrendo com a violência que atinge a toda população. Estamos sendo vitimados nas ruas, nas vias expressas, e sim, estamos com dificuldade em realizar o policiamento ostensivo.”

    Fábio José Cavalcante se junta agora a outros 99 colegas que foram mortos em 2017. A contagem foi inaugurada logo no primeiro dia do ano com o assassinato do PM André William Barbosa de Oliveira, morto após ser sequestrado na véspera do réveillon por traficantes em Realengo, na zona oeste da capital. Veja ao final da reportagem.

    “É uma tragédia muito dolorosa, mas eu imaginei que ela fosse se repetir”, disse à Ponte o ex-comandante geral da PMERJ, Coronel Íbis Pereira. “Você não reduz indicador criminal de forma sustentável com ações em curto prazo, porque depois os indicadores voltam a subir novamente”.

    Com 32 anos de casa, o oficial presenciou desde a fase mais instável da segurança pública, que chegou à marca de 224 policiais mortos em 1994, até os tempos aparentemente mais calmos das UPPs. Ainda segundo a série histórica divulgada pela PMERJ, que cataloga 23 anos de dados sobre o assunto, 3.234 policiais foram assassinados no Estado.

    Para Íbis, a perpetuação dessa marca — desde 94 não há um ano sequer com menos de 100 policiais mortos no Estado — é uma consequência de uma política de segurança pública inconsistente, que muda a cada quatro anos de acordo com o vento das eleições. ”Esse modelo militarizado já perdeu sua eficiência.”

    Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da Associação de Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro (Aspra), Vanderlei Ribeiro, também fez uma constatação semelhante. “Se não mexermos no sistema militarista que existe hoje, nada vai mudar, vão se repetir os erros. O policial da ponta não é ouvido, ele é um instrumento, um cumpridor de ordens”.

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