Atentado a tiros mata 3 jovens em baile funk em SP

    Grupo de extermínio formado por PMs é investigado sob suspeita de cometer crimes por vingança contra roubo de moto de militar. Outros 6 rapazes foram mortos, em dois casos distintos, em dezembro de 2015

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    Rua Capitão Santana Ferreira, palco do pancadão da Vila Nova Curuça, onde três jovens foram alvo de atentado – Reprodução Google Street View

    Policiais militares responsáveis pelo patrulhamento em bairros da periferia da zona leste de São Paulo são investigados pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, e pela Corregedoria da Polícia Militar sob suspeita de integrarem um grupo de extermínio que tem como alvo frequentadores de bailes funks.

    O atentado a tiros mais recente investigado como praticado pelo grupo de extermínio ocorreu na madrugada do dia 10 (domingo) para 11/07 (segunda-feira), na rua Capitão Santana Ferreira, na Vila Nova Curuça, região de São Miguel Paulista, onde ocorria um “pancadão”, baile funk improvisado, na rua.

    Paulo Rodrigo Machado de Oliveira, 20 anos, e Alexandre Vieira Messias, 17 anos, morreram logo após serem levados da rua Capitão Santana Ferreira para dois hospitais da região. A terceira vítima do atentado, Thales Vinícius Alves de Moraes, 22 anos, morreu na madrugada de sábado (16/07).

    O atentado que matou os três jovens no pancadão da Vila Nova Curuça aconteceu ao mesmo tempo em que quatro homens, divididos em duas motocicletas, atacavam a sede da 1ª Companhia do 48º Batalhão da PM.

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    Base da PM atacada por atiradores ao mesmo tempo em que jovens eram assassinados em baile funk – Reprodução Google Street View

    A distância entre o pancadão da Vila Nova Curuça e a base da PM alvo dos tiros, localizada na rua Paulino Pacheco de Melo, no Jardim Robru, é de apenas 1 km. No ataque, os quatro atiradores acertaram dois carros da Polícia Militar que estavam estacionados no pátio da base.

    De acordo com jovens frequentadores do pancadão da Vila Nova Curuça, os atiradores que atacaram os frequentadores do baile estavam em motocicletas e perseguiam dois homens que tinham roubado a moto de um policial militar.

    Em dia de folga, o PM roubado pediu ajuda de amigos militares para recuperar a moto e, ao suspeitar que os ladrões poderiam estar infiltrados no baile funk, o grupo de PMs foi até lá para tentar prender os ladrões. Foi quando Paulo Oliveira, Alexandre Messias, Thales de Moraes e um quarto jovem foram baleados. O quarto ferido já foi liberado do hospital.

    Em dezembro de 2015, conforme revelou a Ponte Jornalismo, outros seis jovens também foram assassinados a tiros em um baile funk na Cidade Tiradentes, distante 11 km da chacina que deixou os três mortos na Vila Nova Curuça.

    Atiradores matam 6 jovens em baile funk de São Paulo

    No primeiro atentado no pancadão da Cidade Tiradentes, em 13 de dezembro de 2015, foram mortos Ezequiel Guardiano Cardoso Coqueiro, 18 anos, e Gabriel Lastarria Silva, 17 anos.

    Apenas oito dias depois do duplo homicídio, atiradores voltaram a aterrorizar o baile funk da Cidade Tiradentes e, em 21 de dezembro, mataram Ítalo Caio Alves Siqueira, Paulo Amaral de Andrade, Josenildo Márcio Santos, os três com 18 anos, e Wesley Gonçalves Silva, 19 anos.

    À época das seis mortes no baile funk da Cidade Tiradentes, o então secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexndre de Moraes, hoje ministro da Justiça da gestão de Michel Temer (PMDB), e  o comandante-geral da PM, coronel Ricardo Gambaroni, foram procurados pela reportagem, mas não quiseram falar.

     Por meio de nota oficial, a assessoria de imprensa da Segurança Pública informou: “O delegado Anderson Honorato, do 54º DP [Cidade Tiradentes], informa que foi instaurado inquérito para investigar a morte dos jovens. O caso será encaminhado hoje ao DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] para continuidade nas investigações”.

    Nesta segunda-feira (18/07), a reportagem fez novas perguntas ao atual secretário da Segurança Pública da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), Mágino Alves Barbosa Filho, e ao comandante Gambaroni, e aguarda as manifestações das duas autoridades:

    1 – Quem matou os jovens no baile funk da Cidade Tiradentes?

    2 – A participação de policiais militares nas mortes está confirmada?

    3 – Qual o resultado das investigações do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, sobre as seis mortes no baile funk da Cidade Tiradentes?

    4 – Qual a motivação das seis mortes?

    5 – À época das seis mortes no baile funk da Cidade Tiradentes, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo se pronunciou, por meio de nota oficial, assim: “O delegado Anderson Honorato, do 54º DP [Cidade Tiradentes], informa que foi instaurado inquérito para investigar a morte dos jovens. O caso será encaminhado hoje ao DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] para continuidade nas investigações”. O que mudou de lá para cá, passados quase sete meses após o crime?

    6 – O que vossas excelências podem esclarecer também sobre as mortes de Paulo Rodrigo Machado de Oliveira, 20 anos, e Alexandre Vieira Messias, 17 anos, Thales Vinícius de Alves de Moraes, 22 anos, baleados e mortos em um baile funk na Vila Nova Curuça, na madrugada do dia 11 deste mês?

    7 – Quem matou Paulo, Alexandre e Thales? Qual o motivo do crime? Quantas testemunhas das mortes já foram ouvidas na investigação?

    8 – A morte dos três jovens tem relação com o ataque a tiros contra a base da PM no Jardim Robru?

    9 – O que a Corregedoria da PM fez até agora para apurar a possível participação de PMs nas três mortes ocorridas no baile funk da Vila Nova Curuça?

    Atualizado em 19/07, às 18:14

    Por meio de uma empresa terceirizada, a CDN Comunicação, contratada com dinheiro púbico para prestar informações, a Secretaria da Segurança Pública da gestão Alckmin mandou a seguinte nota:

    A Polícia Civil informa que a ocorrência do último dia 11 foi registrada no 67º DP (Jardim Robru) e encaminhada para investigação no DHPP. Foram feitas perícia no local e diligências para identificar câmeras de monitoramento no bairro, além de testemunhas. A Corregedoria da PM informa que não há evidências que apontem para a participação de policiais no crime até o momento, mas que acompanha os trabalhos do DHPP. O ataque à base da PM no Jardim Robru segue em investigação na 7ª Seccional.

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