Clínica de Cuidados para atender os refugiados de Belo Monte

    Christian Dunker e Ilana Katz promovem curso na Faculdade de Psicologia da USP para preparar profissionais que queiram tratar a população ribeirinha.

    Caramante
    Morador da região atingida pela hidrelétrica de Belo Monte e suas anotações sobre a vida destruída Foto: André Nader/Arquivo Pessoal

    Dando sequência ao projeto que visa atender e cuidar da saúde mental da população ribeirinha afetada diretamente pela construção da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, região de Altamira, no Pará, os psicanalistas Ilana Katz Zagury e Christian Ingo Lenz Dunker promovem o curso Psicanálise em Situação de Vulnerabilidade Social: O Caso Belo Monte no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (Auditório Carolina Bori – Bloco G). Sempre às quintas-feiras, de (de 22 de setembro a 3 de novembro de 2016) das 16h às 18h.

    O curso tem como objetivo construir um modelo de intervenção clínica, baseado na escuta e testemunho de sujeitos em situação de vulnerabilidade social. Além de investigar o conceito de vulnerabilidade social e sua possível aplicação à psicanálise. A partir desse curso, clínicos serão preparados para a prática de cuidado direcionada à população ribeirinha atingida pela construção de Belo Monte.

    A primeira aula tem como tema: “Belo Monte: a anatomia da obra e a produção de refugiados de seu próprio país” e será ministrada pela jornalista Eliane Brum. No dia 29, o convidado é Marcelo Salazar, do Instituto Socioambiental, que discutirá a questão a partir do tema: “Altamira é o centro do mundo”.  A programação completa está disponível no site: https://www.catarse.me/pt/refugiadosdebelomonte ou pelo e-mail: [email protected]

    A Hidrelétrica:

    A construção da usina hidrelétrica de Belo Monte é marcada por uma série de violações de direitos das populações atingidas. Pessoas que perderam tudo – seu lar, seu modo de vida, sua memória – famílias que viviam em ilhas do Xingu ou na beira do rio, na zona rural da região foram arrancadas do mundo a que pertenciam e lançadas em outro território onde não se reconhecem. Perderam suas referências e se tornaram refugiados dentro de seu próprio país. Além do trauma, muitos adoeceram.

    Caramante
    Projeto Refugiados de Belo Monte busca captar recursos para ajudar população atingia pela construção da usina hidrelétrica na bacia do rio Xingu, próximo ao município de Altamira, no norte do Pará – Foto: Projeto Refugiados de Belo Monte

    Com o intuito de ajudar essa população e minimizar esse sofrimento um grupo de psicólogos e psicanalistas deve seguir para Altamira em janeiro e ali atender esses ribeirinhos. O projeto que leva o nome de Clínica de Cuidado tem como objetivo escutar essas pessoas, oferecer tratamento e documentar a situação de cada um. Os relatos serão transformados em um documento público. Para isso, o grupo que conta com a jornalista Eliane Brum, o psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Christian Dunker, e a psicanalista Ilana Katz criaram um projeto de crowdfunding: Refugiados de Belo Monte (https://www.catarse.me/refugiadosdebelomonte). As contribuições podem ser feitas até o dia 21 de outubro.

    A meta é arrecadar recursos para que em janeiro de 2017 um grupo formado por 15 profissionais possa atuar na região em um período de 15 dias. Todos os terapeutas selecionados atuarão como voluntários, no entanto, é preciso arcar com os custos das passagens aéreas, assim como hospedagem, alimentação e transporte. Todas as contribuições feitas pelo Catarse terão uma recompensa de acordo com o valor doado.

    Justamente para a formação do grupo que irá até Belo Monte será realizado este curso aberto no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) entre setembro e novembro para apresentar a realidade da região, as peculiaridades da construção de Belo Monte e os desafios da escuta dos atingidos. Além do curso, os participantes participarão de uma rodada de entrevistas e avaliação de experiências.

    “A Clínica de Cuidado tem uma responsabilidade ética: fazer com que seja possível a essas pessoas voltarem a ter uma vida na qual elas se reconheçam”, explica Ilana Katz. Como observa a psicanalista, para muitos, Belo Monte é um fato consumado, mas os seus efeitos ainda podem ser tratados.

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