Feira Literária da Zona Sul promove autores da periferia de SP

    Evento criado em 2015 por artistas que realizam o Sarau do Binho começa nesta segunda-feira e vai até dia 22 de setembro com diversas atividades gratuitas

    Feira do ano passado: tarde de autógrafos, espetáculos e selo editorial Sarau do Binho | Foto: João Claudio de Sena

    Pelo quarto ano consecutivo, a Feira Literária da Zona Sul ocupa por 12 dias espaços culturais no Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luis, todos bairros da zona sul de São Paulo. A ideia da FELIZS, como é chamada, começou com produtores culturais e artistas que fazem o Sarau do Binho, um dos movimentos artísticos precursores da cultura dos saraus nessa região da cidade. Essa edição traz como tema a provocação De Onde Você Vem?, como forma de conectar diferentes autores e vivências com o fazer literário.

    Um dos objetivos da feira é mostrar para a cidade o quanto se produz de cultura e arte nesses territórios. O evento começa nesta segunda-feira (10/9), com apresentações no Sarau do Binho, às 20h, no Teatro Clariô, localizado na divisa de Taboão da Serra com São Paulo. O tradicional encontro poético celebra a importância do movimento literário nas periferias paulistanas, para fomentar o surgimento de novos autores, selos editoriais e o crescente número de consumidores de arte.

    Na terça-feira (11/9), está prevista a Caminhada Literária pelas ruas do Campo Limpo. “Essa vivência irá mostrar às pessoas lugares marcantes no território, onde a literatura e a arte fazem parte do cotidiano dos moradores”, diz Suzi Soares, produtora cultural e integrante do Sarau do Binho.

    Ela reforça que boa parte do público da feira literária são jovens estudantes e professores. “Cerca de 50% dos espaços por onde as atividades da Feira irão passar, são escolas municipais ou bibliotecas públicas, e isso revela uma característica da feira, em engajar e aproximar jovens do universo do livro e da leitura”, afirma.

    Nesta edição, haverá uma programação dedicada a divulgar autores de diversas cidades brasileiras. “O Sarau ‘Poesia de Todo Canto’, iniciativa que conta com participações de artistas que residem nas cidades de Itabuna na Bahia, Itacoã em Roraima, Natal no Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Alto Solimões, um município do Amazonas, representa bem essa proposta da FELIZS”, explica a produtora Diane Padial.

    Na programação, também há espaço para filmes e documentários, muitos deles produzidos por cineastas da periferia. “Precisamos abrir cada vez mais espaço para discussões que perpassam a literatura e o cinema, pois as bordas da cidade revelam cada vez mais profissionais com talento e sensibilidade para contar histórias de grupos e pessoas que se dedicam a mudar a sua vida e a de outras pessoas, por meio da arte”, destaca Suzi.

    O evento também, ao longo dos anos, tem se preocupado em promover um intercâmbio entre realidades, abrindo diálogo com grandes autores que atuam dentro e fora das periferias. O escritor e professor Milton Hatoum está entre os convidados, bem como a escritora feminista Jenyffer Nascimento, autora da obra Terra Fértil.

    Abertura da Feira no ano passado com o Sarau do Binho | Foto: Divulgação/Sabrina Coutinho

    Para contemplar as questões de raça e gênero, a professora Diva Guimarães, personagem que ganhou projeção nacional durante a FLIP, em 2017, participa ao lado da poeta e doutora em estudos da tradução, Tatiana Nascimento, de um bate papo sobre mulheres negras, diáspora e emancipação.

    Estimular as publicações independentes

    Pelo segundo ano consecutivo, o selo editorial Sarau do Binho irá apoiar o lançamento de obras de alguns autores da periferia. Em 2017, o selo editorial estreou com a publicação de quatros livros. “Para este ano, vamos manter esse número, lançando mais quatro, para fortalecer a entrada desses autores no mercado do livro.”, explica Diane Padial.

    Com isso, a Feira Literária pretende colocar em prática o conceito de “moeda literária”, iniciativa que visa fomentar o consumo de livros publicados por autores e selos independentes. “Vamos ativar a circulação desta moeda, com o objetivo de movimentar o comércio de livros na Praça do Campo Limpo, local onde será realizada uma grande feira com tendas para autores e editores no dia 22 de setembro, data de encerramento da feira”, conta Diane Padial.

    Os livros Desassossego, de Ermi Panzo, Do verbo que o amor não presta, de Helena Silvestre, Vértices Poéticas, de Zá Lacerda e a A festa da palavra na arte do encontro – Das Noites da vela ao Coletivo Sarau do Binho, de Diego Elias, estão entre os títulos selecionados para serem lançados durante a feira livros na Praça do Campo Limpo. “Vamos unir o lançamento da moeda com a publicação de obras independentes. Desta forma, a Feira Literária contribui diretamente com o fortalecimento da produção literária na periferia, incentivando o contato de moradores das periferias com obras de autores independentes”, finaliza.

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