Testemunha contradiz PM sobre morte de Luana

    Segundo vidraceiro, pistola de policial estava com “cano alinhado horizontalmente em relação ao solo”, o que pode indicar que estava apontada para Luana Barbosa

     

    Arte/Joana Brasileiro
    Arte/Joana Brasileiro

    Uma das testemunhas da morte da atriz Luana Barbosa, ocorrida no dia 27 de junho, em Presidente Prudente (SP), afirmou à polícia que o cabo da PM Marcelo Coelho estava com o “cano da arma alinhado horizontalmente em relação ao solo” durante a abordagem. O depoimento contraria a versão apresentada pelo policial, de que sacou a arma e, antes que apontasse, bateu no capacete do namorado de Luana, que dirigia a moto, atirando acidentalmente. A Polícia Civil considerou o caso como homicídio culposo (sem intenção), deixando a investigação a cargo da PM.

    O depoimento é de um vidraceiro de 32 anos, que foi parado na blitz pouco antes do disparo. Chamado à sede do 18º Batalhão da Polícia Militar no dia da morte, ele contou durante 30 minutos o que viu no local. “Perguntado à testemunha qual a posição em que era empunhada a arma pelo policial, respondeu que o cano estava alinhado horizontalmente em relação ao solo”, diz o documento, indicando que poderia estar apontada contra Luana e o namorado. Outra postura normalmente adotada em abordagens é levar a arma em “posição sul”, ou seja, com o cano apontado para o solo.

    Segundo o vidraceiro, a moto onde Luana estava na garupa com o namorado passou perto do policial. “(Disse) que o condutor da motocicleta, numa manobra evasiva, passou bem próximo ao policial militar que havia dado sinal de parada obrigatória, chegando quase a atingi-lo com o veículo; que nessa ação o policial militar teve que se esquivar, fazer um giro com o corpo, para não ser atingido pela motocicleta”, afirmou.

    O namorado de Luana, Felipe Barros, 29 anos, também prestou depoimento no dia e disse que não conseguiu parar imediatamente porque estava com problemas nos freios da moto. Ele afirmou também que tentou desviar do policial, que saiu da calçada em sua direção com a arma apontada. Barros escutou o disparo e, em seguida, ouviu Luana falar “ai, ele atirou em mim, ele atirou em mim”.

    Barros disse que tentou seguir em frente para levar Luana até um hospital, mas ela caiu da moto e ele parou para socorrê-la. Um policial militar teria se aproximado dele e dito que foi uma fatalidade, porque aquele tipo de arma disparava sozinha.

    Outro lado

    Em um depoimento que durou uma hora e 15 minutos, entre as 17h05 e as 18h20 do dia da morte, o cabo responsável pelo disparo negou que tenha apontado a arma para Luana e afirmou que apenas levantou as duas mãos, colocando-as à frente do corpo, para se proteger de um possível atropelamento. “A moto passou muito próximo e rapidamente pelo acusado (o cabo), quando então o capacete do motociclista bateu muito forte na pistola que segurava; (disse) que não percebeu que sua arma havia disparado, mas ouviu o estampido”, afirmou, em depoimento.

    O policial disse também que a arma já tinha passado por recall e que o cartucho ficou preso após o disparo, impedindo que a recoloca-se no coldre.

    Segundo depoimento de policiais militares que estavam no bloqueio, o cabo ficou transtornado ao notar que Luana tinha sido atingida. “É uma menina, é uma menina, tem idade para ser minha filha”, teria gritado.

    A Polícia Civil afirma que foi um homicídio sem intenção e que por isso a investigação ficou a cargo apenas da Polícia Militar.

     

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    Hellzoso
    Hellzoso
    9 anos atrás

    Não vai dar em nada,nunca dda em nada, PM no Brasil tem carta branca para matar quando e onde quiser.

    Pedro
    Pedro
    9 anos atrás

    o comentario do colega acima que “policia tem carta branca” meu, o policial errou, mas a atitude ilegal e imprudente do condutor da moto provocou a fatalidade, acredito que se o condutor não tivesse evadido a blitz nada teria acontecido, e se verdadeiramente ele estava apenas com problemas nos freios, não deveria ter saido de casa, os dois poderiam ter sido mortos em um acidente de transito causando morte de terceiros.
    Acho que a atitude do Policial foi em excesso, porem não podemos deixar de notar e colocar nos autos a imprudencia do condutor (namorado) de evadir da blitz, não podemos fechar os olhos para essa conduta ilegal, nesse caso a pessoa que não tinha nada a ver com a situação foi a mais prejudicada. Policial errou e namorado tamb.

    Maria
    Maria
    9 anos atrás

    Infelizmente o policiamento nesse estado é um lixo, todos os depoimentos manipulados por esses filhos da puta, gente sem escrúpulos e sem coração. Mataram uma pessoa do bem, porque o que eles precisam fazer de verdade, a obrigação que é ir atras do crime eles não fazem, morrem de medo.

    Matheus
    Matheus
    9 anos atrás

    Sério mesmo que alguém parado na blitz vai prestar atenção e lembrar do que aconteceu ? Tenho minhas dúvidas …

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