Adolescente de 17 anos é suspeito de provocar a morte de Marlon, 10 anos, no Cantagalo. Condenado à morte pelo tráfico, jovem foi salvo por policiais de UPP
O menino Marlon de Andrade, 10 anos, morreu neste sábado (24/2) após ser atingido na cabeça por um tiro de pistola 9 mm, na comunidade do Cantagalo, em Copacabana, zona sul da cidade do Rio de Janeiro. No mesmo dia, policiais apreenderam um adolescente de 17 anos suspeito do crime. Ele teria sido “condenado à morte” pelos traficantes locais, segundo moradores ouvidos pela Ponte.
Marlon teria encontrado a pistola num local da comunidade. Ainda não se sabe se ele atirou em si mesmo enquanto brincava com a arma ou se acabou baleado, também por acidente, por um jovem de 17 anos que seria dono da pistola e teria tentado tirá-la da criança. Após ser baleado, Marlon foi socorrido no pronto-socorro do hospital Miguel Couto, onde morreu.
Horas mais tarde, à noite, policiais da UPP Pavão-Pavãozinho/Cantagalo e da Polícia Civil foram chamados para resgatar um jovem de 17 anos, que estava sendo espancado por moradores, conforme relato da UPP à Ponte.
No local, a Polícia Civil apreendeu, junto com o adolescente, a pistola 9 mm que teria matado Marlon e nove cartuchos. O jovem foi levado ao Miguel Couto, onde permanece internado. Quando se recuperar, deve ser encaminhado à DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente).
Moradores da comunidade relataram à Ponte que o adolescente havia sido sentenciado à morte pelo ‘tribunal’ do tráfico local e só não foi morto porque os policiais chegaram antes e apreenderam o menino. Ele já havia sido detido anteriormente por agentes da 13ª DP, acusado de ter praticado roubos e furtos.
Com a “sentença” do tráfico, o adolescente fica impedido de retornar à comunidade e, se for levado ao Novo Degase (Departamento Geral de Ações Socio Educativas), para adolescentes em conflito com a lei, será obrigado a ficar no “seguro”, isolado dos outros menores.
As alas separadas do Degase são destinadas a jovens responsáveis por crimes contra a própria comunidade, estupros, delações (X9) e outras “mancadas”, segundo o estudo “Ninguém é peito de aço: As narrativas de jovens em conflito com a lei e suas experiências com policiais no Rio de Janeiro”, da antropóloga Natasha Neri.
“Os ‘mancões’ correm riscos de ser agredidos pelos internos e, por isso, dormem em alojamentos separados dos demais, chamados de seguros, ou nos banheiros dos alojamentos, excluídos dos demais. A escolha de mantê-los afastados muitas vezes é feita pelos próprios internos, que não aceitam dividir os alojamentos com ‘mancões’, pois não querem se misturar a eles, tendo uma visão patológica destes jovens, considerados ‘desviantes’, com quem não se deve relacionar: ‘Quem se mistura com vacilão é vacilão'”, afirma a antropóloga no estudo.
Somente na última semana, dois adolescentes morreram no Novo Degase.