Um ano após ser solto, educador social protesta em frente a Tribunal

    Marcelo Dias ficou seis meses e 10 dias até ser considerado inocente da acusação de tráfico de drogas; ato teve tensão com PMs

    Marcelo Dias, que ficou presos por mais de seis meses, protestou contra prisões injustas em frente ao TJ | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    Exatamente um ano desde que recebeu a liberdade, o educador social Marcelo Dias protestou pelo caso de outras pessoas presas injustamente na frente do TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo, localizado no centro da cidade de São Paulo. Ele permaneceu seis meses e 10 dias presos sob acusação de tráfico de drogas e foi inocentado.

    Nas ruas e com a absolvição garantida, Marcelo decidiu lutar por outras pessoas presas ao fundar o coletivo SOS Forjados. Nele, auxilia famílias de pessoas que estão presas e alegam não tem qualquer ligação com os crimes aos quais respondem.

    Em junho de 2018, Marcelo e outras quatro pessoas foram presas acusadas por PMs de integrarem uma quadrilha e estarem com 4,9 quilogramas de pasta base de cocaína. O caso aconteceu no Cursino, bairro na periferia da zona sul de São Paulo.

    À Ponte, o educador explica a ideia do SOS e do protesto, que será feito todo dia 19 em frente ao TJ, o palácio da Justiça paulista. “Tive essa ideia para que eu possa registrar na vida de outras pessoas essa data e para soltar uma revolta que está dentro de mim que não estou conseguindo controlar”, explica.

    Segundo ele, ainda é difícil conter a revolta pela injustiça que sofreu, de ter tido a liberdade tomada por algo que não fez. No primeiro ato, sua voz ecoou com gritos de “justiça” e “liberdade” na Praça da Sé, onde fica o palácio.

    Grupo permaneceu 1h30 em frente ao palácio da Justiça, no centro da cidade de São Paulo | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    O que não ecoou por muito tempo foi a música que os cerca de 40 manifestantes colocaram para tocar. Isso porque policiais militares que fazem a segurança do Tribunal argumentaram que o ato precisaria de autorização prévia para ser feito com o uso de caixa de som e microfone. Houve alguns minutos de tensão, com debate sobre a legalidade do uso do som.

    Os PMs, comandados pelo 1º sargento Julio, alegaram que está é uma regra baseada em decreto do governador João Doria (PSDB), que restringiu o direito de manifestação no estado. Após o som ser desligado, um dos manifestantes foi abordado e teve a moto apreendida por problemas em sua habilitação – o veículo foi liberado com a presença de outro motorista habilitado e com documento em dia.

    “Proibiram que pudéssemos fazer a manifestação com som, disseram que precisava ter uma autorização. Não sei como isso funciona, mas nos próximos foi pedir uma autorização, ver como funciona, para que no dia 19 de janeiro possamos estar aqui novamente”, explica Marcelo, que diz ficar com “receio” por ficar à frente do ato e ser vigiado pelos policiais.

    Além do educador, estavam presentes familiares de pessoas acompanhadas pelo SOS Forjados. Segundo o fundador do coletivo, são pelo menos 17 casos na região de Heliópolis, maior favela da América Latina.

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