Vereadora é alvo de ataque racista e de ameaças: ‘Precisamos ter garantido nosso direito de legislar’

Ana Lúcia Martins registrou um boletim de ocorrência após receber texto no qual era chamada de “macaca preta imunda”. A mensagem também faz ameaças de morte contra autoridades

Ana Lúcia Martins (PT), de Joinville registrou um boletim de ocorrência depois de sofrer ataque racista e ameaças. Foto: Reprodução Instagram/Ana Lúcia Martins.

“Susto e medo” foram as reações da vereadora Ana Lúcia Martins (PT), de Joinville, Santa Catarina, ao se deparar com um e-mail no qual são feitos ataques racistas e ameaças de morte contra ela e outros parlamentares e autoridades.

 “Primeiro vem o sentimento de susto, medo mesmo. Muitas perguntas vêm à mente! Quem foi? Por que? Depois chega a indignação. O racismo sempre nos acompanha, desde sempre, mas a cada ato racista somos afetadas na nossa subjetividade”, diz Ana Lúcia. 

Primeira parlamentar negra da cidade localizada no norte de Santa Catarina,  Ana Lúcia recebeu o e-mail na manhã de sexta-feira (03/02). Além dela, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e a vereadora  Maria Tereza Capra (PT), de São Miguel do Oeste, também em Santa Catarina, foram alvo dos ataques.

Segundo a vereadora, que também é professora, as intimidações chegaram depois de ela se manifestar contra a cassação de Maria Tereza Capra, ocorrida neste sabado (04/02), Ana denunciou uma suposta saudação nazista feita em um ato antidemocrático ocorrido em São Miguel do Oeste, em 2 de novembro de 2022, após a vitória de Lula. Capra é uma das parlamentares ameaçadas no e-mail. 

“Eu apoio a vereadora Maria Tereza, assim como todas as pessoas que repudiam atos antidemocráticos e que incitam ainda mais a violência e pregam o ódio. A reação do agressor é a não aceitação de um resultado de um processo democrático que elegeu o presidente Lula e o projeto que eu defendo. Lutei e fiz campanha para garantir essa eleição dentro de um processo democrático que precisa ser aceito e respeitado”, conta.

“Macaca preta imunda” foi o termo utilizado para se referir à Ana Lúcia no e-mail. A mensagem chegou por meio de um endereço anônimo, assinada com o nome do vereador bolsonarista e presidente da Câmara de São Miguel Oeste, Vanirto José Conrad (PTB). Ele foi apontado pela Polícia Civil de Santa Catarina como um dos líderes de atos golpistas ocorridos no local. Procurado pela reportagem, o vereador Vanirto Conrad não se manifestou até o momento. 

Ana Lúcia avalia que o racismo foi a principal motivação para o envio da mensagem. “Por representar o que determinadas pessoas e grupos rejeitam, excluem e não consideram como gente. Pela intolerância racial, pela ideia da supremacia branca que não tolera o seu diferente. As expressões racistas são escolhidas para nos ferir, nos eliminar.” 

Neste sábado (04/02),  a vereadora registrou um boletim de ocorrência  e disse, em vídeo divulgado em suas redes sociais, que ela e as demais pessoas atacadas não irão se calar diante de ameaças e de violências como as que sofreu. 

Ela também afirmou que não pode confirmar, “mas a mensagem está assinada pelo presidente da Câmara de São Miguel Oeste”, relata no vídeo. Além disso, Ana registrou uma manifestação no Ministério Público Federal.

A vereadora Ana Lúcia Martins já foi vítima de racismo e sofreu ameaças de morte em 2020, um dia após ser eleita. Ana Lúcia denunciou as ameaças recebidas em sua rede social. Diante disso, Ana busca novamente por justiça, assim como a responsabilização do autor da mensagem. 

“É preciso descobrir a autoria deste e-mail e exigir que responda pelo seu ato. Precisamos ter garantido o nosso direito de legislar e acessar todos os espaços sem sofrermos qualquer violência.”

Em nota, a Câmara de Vereadores de Joinville informou que recebeu a informação de que a vereadora Ana Lucia Martins foi vítima de ameaças e ofensas racistas neste fim de semana e afirmou que o “Poder Legislativo joinvilense repudia todo e qualquer ato de discriminação e agressão que a vereadora tenha sofrido e se solidariza com ela para os esclarecimentos devidos”.

“Por meio de sua Mesa Diretora, a CVJ coloca toda estrutura da instituição à disposição para o apoio necessário e irrestrito até a elucidação dos crimes cometidos”, seguiu a nota.

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A reportagem tentou falar com algum representante da Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste, mas não obteve respostas até o horário da publicação.

A Polícia Civil do Distrito Federal disse que o caso é investigado e, como a vítima está em um programa de proteção, a PCDF não fornecerá maiores detalhes do registro, para segurança da vítima. 

O registro do crime foi feito no Distrito Federal porque a vereadora estava em Brasília, para a posse dos deputados federais, quando recebeu o e-mail com os ataques racistas e ameaças. 

Nenhum representante do Ministério Público Federal foi localizado pela reportagem, neste domingo (05/02), para se manifestar sobre o ataque contra a vereadora. 

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