A morte que fez nascer o Movimento Negro Unificado no Brasil

Por Gil Luiz Mendes

Nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo, uma manifestação contra o racismo e pedindo justiça ao comerciante Robson Silveira da Luz marcou o início do Movimento Negro Unificado (MNU) em 1978.

Foto: Brasil de Fato

Após 44 anos, o processo do caso saiu dos arquivos graças ao historiador Lucas Scaravelli que utilizará o documento como objeto de estudo para o seu doutorado.

Durante a ditadura militar, Robson Silveira da Luz foi acusado de furtar caixas de uma feira e foi sequestrado por policiais racistas na região de Guaianazes, zona leste da cidade de São Paulo. Viúva de Robson, Sueli da Luz relatou à Ponte como soube da notícia:

“Eu não sabia de nada. Estava em casa dormindo, acordei com o menino [namorado de uma colega batendo na minha porta. E ele falou assim: ‘pegaram o Robson, colocaram ele no pau de arara, ele gritou a noite todinha e ele apanhou muito. E eu: quem fez isso? E ele falou: foi na delegacia”.

Nos dias em que esteve longe de casa, Robson foi torturado pelo delegado Luiz Alberto Abdalla e os policiais José Maximiniano Reis e José Pereira de Mato, que foram exonerados dos cargos e morreram sem punição pelo crime.

Sueli conta que só soube do paradeiro do marido quando pressionou policiais a falarem onde ele estava. No Hospital das Clínicas, Rosbon não resistiu às sequelas da violência que sofreu e morreu.

Passados 19 anos, os policiais foram condenados pelo assassinato do comerciante, mas fugiram para os Estados Unidos sem cumprir a sentença. A indenização do Estado à família só veio após quatro décadas.

“A notícia do assassinato do Robson veio com um conjunto de outros casos. Veio também a questão da discriminação dos atletas negros no clube Tietê e na lapa houve também o assassinato de outro trabalhor, o Milton Lourenço”, recorda Rafael Pinto, primo do comerciante que escrevia para o Jornal Versus.

O Movimento Negro Unificado surge para denunciar a violência racista, além de reivindicar políticas públicas de acessibilidade à população negra e propor uma luta coletiva antirracista por meio de ações e atos públicos.

“A gestão do Estado, ‘à lá brasileira’, ainda é uma gestão herdeira do colonialismo, do escravismo e de todas a brutalidade que aconteceu naquele período”, diz José Adão, um dos fundadores do MNU.

“Não se fala dos pretos, pretas e das minorais que estavam também nesse contexto [de repressão da ditadura]. Não se falam da presença deles e da morte deles”, aponta Scaravelli. Conheça a história completa no vídeo produzido por Gil Luiz Mendes e Daniel Arroyo.

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