Matéria de Gil Luiz Mendes Imagens: Reprodução
Era noite de Natal em 2021, quando o aposentado João Sanches, 65, ouviu da sua própria filha mais velhas, Raquel Caldeira, 36, sobre o melhor amigo e mentou espiritual: “fui estuprada por ele”.
João passou os últimos 15 anos convivendo e acompanhando de perto o palestrante espírita kardecista Sebastião Camargo, que frequentava a casa do amigo há anos.
Raquel relata que os primeiros episódios de abuso teriam ocorrido no centro espírita de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, e que na época já não morava com os pais.
“Ele me levou para uma sala com pouca luz e no final da conversa ele me perguntou se poderia me dar um presente. Eu respondi que sim, mas não imaginava o que viria depois. Ele veio e me deu um beijo na boca. Eu travei na hora em uma sensação de estar totalmente inerte”, conta.
Raquel denuncia que outro episódio de abuso teria ocorrido em uma visita para buscar orientação espiritual na casa do médium: “Ele me levou até o banheiro e me colocou sentada em cima da pia. Ele tirou a parte de baixo da minha roupa e baixou as calças dele. Ali houve um ato de penetração”
Por ter uma criação rígida e conservadora, Raquel disse que só viveu suas primeiras experiências afetivas quando estava na faculdade e, pelo médium se tratar de uma pessoa de confiança da família, bloqueava qualquer pensamento em relação àqueles fatos.
De acordo com o relato de outras duas mulheres, a forma de aproximação e a relação que o líder espiritual teria com suas seguidoras teria um padrão. Elas afirmam ter sido beijadas à força há cerca de 15 anos, quando uma delas ainda era menos de idade, com apenas 16 anos.
As vítimas afirmam que o médium se utilizava das doutrinas e crenças do espiritismo para justificar seus atos de cunho sexual, afirmando que ele e as vítimas já tinham tido casos amorosos em outras vidas.
Sebastião Camargo ficou conhecido no meio kardecista nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste ao publicar livros, fazer palestras pelo Brasil e participar de programas de TV e rádio, além de manter o próprio canal no Youtube.
Ele é líder do Instituto O Despertar da Consciência e é apresentado como pelo próprio site do projeto como grande entusiasta da doutrina dos espíritos e que carrega o lema “só é feliz quem é livre. Só é livre quem assume responsabilidade”.
Por conta do trauma, Raquel afirma que só conseguiu denunciar na delegacia as violências que sofreu depois de mais de 10 anos. Segundo Claudia Luna, presidente da Comissão de Mulheres da OAB/SP, o crime não pode prescrever por envolver uma vítima menor de idade.
Procurado pela Ponte, Sebastião Salgado não aceitou dar entrevista e declarou por mensagem: “reservo-me o direito de não me manifestar, na medida em que não tenho conhecimento de quem são essas pessoas”.