Situação de violência cotidiana contra a população pobre e negra no Brasil é banalizada e incomoda menos do que guerra na Europa, dizem moradores de comunidades do Rio
O racismo de quem chora pela Ucrânia, mas ignora a dor que está ao seu lado
Som de tiros e bombas. Blindados avançam sobre as ruas. Homens em trajes militares, armados de fuzis, invadem as casas da população civil, arrombando portões, atirando em pessoas e destruindo pisos e paredes.
A cena de guerra pode parecer uma realidade que os jornais retratam da Ucrânia, país que foi invadido pela Rússia de Vladimir Putin, mas é uma situação cotidiana das favelas do Rio de Janeiro.
A cena de guerra pode parecer uma realidade que os jornais retratam da Ucrânia, país que foi invadido pela Rússia de Vladimir Putin, mas é uma situação cotidiana das favelas do Rio de Janeiro.
A ação não teve a mesma repercussão midiática e não causou a mesma comoção gerada pelo sofrimento europeu. Mídias independentes, como o Maré de Notícias, foram às redes sociais denunciar os abusos.
“Já pensou numa simples tarefa como ir comprar um pão na padaria? Então, em dias de operações policiais não temos esse direito. Estranho é a sociedade nao se incomodar”, comentou a jornalista Gizele Martins, moradora da Maré.
O post não recebeu a mesma solidariedade que as postagens relacionadas a Ucrânia. A jornalista recebeu críticas por estar denunciando a violência policial.
“Falamos de novo de racismo e de um Estado brasileiro que é dono das mídias e que faz com que toda uma sociedade aplauda o sangue negro no chão das favelas do Rio de Janeiro”, aponta Gizele.
Ela também lamenta que a mesma atenção não é dada na situação do povo palestino que há décadas sofre com ataques israelenses. Segundo Gizele, atos falhos de jornalistas também revelam a ideia de que a violência contra corpos brancos e europeus é algo fora da normalidade.
Para Fransérgio Goulart, coordenador da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), é possível comparar o cenário carioca a uma verdadeira guerra.
“Sei que alguns críticos irão dizer: ‘Mas há guerra no Brasil? Há guerra nas favelas?’ Digo que sim, pois o Estado capitalista racial no Brasil constituiu corpos negros e periféricos como inimigos”, lamenta.
Apesar de contextos diferentes, o ativista diz que a guerra na Ucrânia e a violência nas periferias cariocas acontecem sobre uma mesma estrutura: o capitalismo. Entenda a análise na reportagem de Beatriz Drague Ramos.