Jovem negro é agredido por PM em abordagem na Brasilândia, zona norte de SP

    Danilo Atila Ribeiro de Oliveira afirma que policial o atingiu no rosto com um cassetete; ele fraturou o nariz e está com dificuldades de enxergar com o olho esquerdo

    Danilo Atila Oliveira logo após ser agredido | Foto: arquivo pessoal

    O metalúrgico Danilo Atila Ribeiro de Oliveira, 34 anos, foi agredido por um policial militar durante uma discussão com o primo, na Rua Humberto Gomes Maia, Brasilândia, zona norte de São Paulo, no último sábado (21/12). O PM não foi identificado até o momento, mas testemunhas conseguiram fotografar a viatura: M-18320, ou seja, o policial pertence a 3ª Cia do 18º BPM/M, localizada na Rua Joaquim Ferreira da Rocha.

    Policial pertence a 3ª Cia do 18º BPM/M, responsável pelo policiamento da região da Brasilândia | Foto: arquivo pessoal

    Em entrevista à Ponte, ele contou que participava da festa de aniversário do time de várzea do qual faz parte, o Manchester Brasilândia, quando PMs abordaram um grupo de jovens que estava a poucos metros da casa onde acontecia a comemoração. Os participantes da festa saíram para ver o que estava acontecendo, quando Danilo viu que o primo era um dos abordados e foi pedir esclarecimentos sobre a abordagem.

    Segundo Danilo, neste momento, um dos PMs disse que se ele não se afastasse e se calasse, seria também abordado. “Eu disse que era trabalhador e que não devia nada e portanto poderia ser abordado”, contou à Ponte. E assim aconteceu: Danilo foi abordado e logo depois, acabou iniciando uma discussão com o primo. Então, o mesmo PM que o abordou, se aproximou e atingiu o rosto do metalúrgico com um cassetete. “Foi totalmente desnecessário. Ele [PM] era bem menor que eu, ele levantou o cassetete na altura do rosto, houve intenção em atingir meu rosto”, relatou.

    Testemunhas conseguiram fotografar base da PM durante ação policial | Foto: arquivo pessoal

    Danilo ficou indignado com a situação especialmente porque o filho dele, de 5 anos, assistiu tudo. “Ele começou a chorar desesperado. Meu filho era daqueles que quando via polícia, dava ‘joinha’. Ele gostava da polícia, agora tem medo”, afirmou.

    A vítima contou que os policiais insistiram para que ele entrasse na viatura e disseram que o levariam ao hospital mais próximo, mas ele se negou e amigos prestaram o socorro. O caso aconteceu no sábado, mas nesta quarta-feira (25/12), com queixa de muita dor no rosto e com dificuldade de enxergar com o olho esquerdo, também atingido pela pancada, Danilo foi até a Santa Casa de Misericórdia, em Santa Cecília, no centro da capital paulista.

    Imagem feita alguns dias depois da agressão | Foto: arquivo policial

    A funcionária pública Gisele Poncio Nascimento, 33 anos, ex-mulher dele e que, embora não estivesse na hora dos fatos, é quem tem o acompanhado na recuperação, afirma que, para além das lesões, existe o impacto emocional.

    “Ele está deprimido, não consegue comer. Mexeu com toda a família. Meu filho presenciou toda a ação, ele só chora, fala do policial que agrediu o pai. Não foi só uma ação contra o Danilo, por ser um jovem negro, que estava na comunidade, foi uma agressão que afetou toda a família. Eu estou tentando fazer ele comer, mas ele diz que não tem apetite, que lembra a todo momento da cena, que o filho dele viu. A gente tem tentando amenizar a dor física, mas a emocional não sei se tem reparo no curto prazo”, desabafou.

    Segundo Gisele, em visita ao hospital o médico teria dito que as lesões são graves e pediu exames adicionais. “O médico disse que ele está com um sangramento na retina e a córnea afetada e que será necessário fazer um ultrassom”, afirmou.

    Gisele destaca que no boletim de ocorrência, registrado no 72º DP (Vila Penteado), Danilo não foi colocado como vítima. “Fizeram um registro de resistência e desacato e não pela lesão sofrida”, critica. Na requisição de exame ao IML (Instituto Médico Legal), não há menção aos ferimentos dele e sim um pedido de verificação de “dosagem alcoólica”.

    A Ponte procurou a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) e a PM para questionar sobre a ação. Em nota, a pasta informa que o caso foi registrado por meio de um termo circunstanciado (TC) pelo 72º DP. “Durante a abordagem policial, dois primos começaram a discutir e trocar socos e
    tapas. Os policiais tentaram intervir e também foram agredidos. Com sinais de embriaguez e movimentos desgovernados, Danilo foi atingido no nariz e levado pelos PMs ao P.S. do Pronto Socorro João Paulo I. Após o atendimento médico, na delegacia, ele confirmou o desentendimento com o parente, a ingestão de bebida alcoólica e que xingou os agentes”, diz a nota.

    Reportagem atualizada às 18h47 do dia 26/12 com inclusão da nota da PM/SSP-SP

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