Após 4 meses preso, garçom inocente é solto pela Justiça

    Roubado na avenida Nove de Julho, I. G. S. foi pedir ajuda a policiais militares e acabou sendo preso. Libertado ontem (12/01), I., que é garçom, voltou a trabalhar nesta quarta-feira. Para a família, jovem foi vítima de racismo. Caso foi revelado pela Ponte Jornalismo em outubro de 2015

    Vitima- Padu

    Depois de permanecer preso por quatro meses em uma cela superlotada do CDP (Centro de Detenção Provisória) Chácara do Belém II, na zona leste, o garçom I. G. S., de 19 anos, foi libertado ontem (12/01) pela Justiça. O pedido de liberdade provisória aceito agora pela Justiça foi o quinto feita pela defesa de I.

    A história de I. G. S. foi revelada pela Ponte Jornalismo, em outubro de 2015, após a reportagem obter provas de que o jovem não havia praticado o roubo sobre o qual foi acusado. Na verdade, o garçom foi preso após pedir ajuda a dois PMs, depois de ter sido assaltado e ter o celular roubado.

    Para a mãe do rapaz, a enfermeira D. G. S., o filho só ficou todo esse tempo preso, comendo “pão velho e comida estragada”,  por ser negro. “Só tem um motivo nessa história e é porque ele é negro. Ele é honesto, tem caráter e é digno, não precisa disso, somos de uma família trabalhadora”. Por falar em trabalho, o garçom retoma suas atividades profissionais hoje.

    Emocionada com o retorno do filho, que chegou em casa nos primeiros minutos do dia 12/1, após ser libertado do CDP às 22h, a mãe contou como foi a surpresa de tê-lo de volta. “Estou feliz por ter meu filho em meus braços, mas quando o vi entrar pela porta magro, pele destruída, olhos abatidos, só abracei e ajoelhei no chão, comecei a chorar e agradecer a Deus por ter meu filho de volta”.

    A liberdade de I. foi concedida pela juíza da 17ª Vara Criminal do Fórum da Barra Funda, após uma segunda audiência do caso ser realizada no início da tarde de segunda-feira (11/01). Assim como na primeira audiência, em 30/11 de 2015, as vítimas do roubo atribuído pela polícia a I. não compareceram à audiência de instrução do processo aberto contra o garçom.

    Das três supostas vítimas, duas sequer haviam sido localizadas pela Justiça. Ao elaborar o Boletim de Ocorrência sobre o caso contra o garçom, no 78° DP (Jardins), elas forneceram endereços e telefones falsos.

    Dos policiais da 1° Companhia do 7° Batalhão da Polícia Militar de SP responsáveis pela prisão de I. insistiam na versão de que o rapaz, preso na madrugada de 5 de setembro na esquina da avenida 9 de Julho com a rua Paim, participara do roubo, apenas o soldado Rodrigo Marcolino Siqueira, 30 anos, compareceu em juízo no dia 11/01. O soldado Ricardo Araujo de Lima, 36 anos, não obedeceu nenhuma das duas intimações da Justiça.

    Segundo a advogada do garçom, Diana Cabral, durante a audiência, o PM manteve o mesmo discurso narrado por ele durante a elaboração do Boletim de Ocorrência do suposto roubo, mas a juíza levou em consideração pedido da defesa e entendeu que o rapaz deveria responder ao processo em liberdade. “Prevaleceu o bom senso da juíza”, disse Diana Cabral.

    Os adolescentes que estariam com I. sob a mesma acusação de roubo afirmaram não conhecer o garçom. Eles já haviam sido liberados pela Justiça para responder em liberdade pelo suposto roubo em outubro do ano passado.

    Os jovens, assim como o garçom e uma de suas testemunhas de defesa, afirmaram que o trio supostamente roubado por eles estava dentro da viatura da PM, a qual teriam pedido auxílio e, sob o efeito de álcool, reconheceram I. e os adolescentes como ladrões, uma nítida demonstração de reconhecimento irregular.
    Para D. G. S., a busca agora será pela reparação do caráter do filho. “Sei tudo o que passou e sentiu na pele, nada irá suprir, mas quero Justiça. Jamais meu filho merecia passar por todo esse sofrimento. Foram vários dias e noites sem dormir e sem comer, com o coração apertado por ele estar pagando por um crime que não cometeu, tudo isso por alcoólatras que não têm sensibilidade e jogam um inocente em uma jaula”, conclui.

     

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